Dia Mundial em Memória às Vítimas de Trânsito

Hoje é dia de pensar no trânsito. Esqueça o trânsito engarrafado no horário de pico. Esqueça as fiscalizações ou o medo das multas, só não esqueça o mais importante: as vidas que fazem parte do trânsito. Neste dia 15 de novembro, Dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito, que tal olharmos para cada um de nós? Que tal reservar esse dia para reflexão e autoanálise? O objetivo é bem simples. Evitar que se façam novas vítimas nas vias.

O Brasil está na quarta posição entre os países com mais mortes em acidentes de trânsito no mundo, de acordo com estudo de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS), ficando atrás apenas da China, Índia e Nigéria.

Pare, pense e responda ao seguinte questionamento: você se sente responsável pela vida no trânsito? Não só em relação a sua vida, mas as dos demais participantes do trânsito, sejam condutores de veículos, ciclistas ou pedestres?

Em tempos de pandemia, em que o medo de perder a vida é cada vez mais evidente, seguimos ignorando as milhares de vidas interrompidas pelos acidentes de trânsito. Nos assustamos com os crescentes números de hospitalizados e mortos pela Covid-19, mas ignoramos o fato de que a cada ano cerca de 40 mil pessoas morrem no trânsito do Brasil.

Segundo o Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV), 400 mil pessoas ficam com algum tipo de sequela após sofrer um acidente e cerca de 60% dos leitos hospitalares do Sistema Único de Saúde são preenchidos por acidentados. Ainda segundo o Observatório, os acidentes no trânsito resultam em custos anuais de R$ 52 bilhões.

Cada um de nós precisa entender de uma vez por todas que o trânsito não é feito por máquinas. O trânsito é feito por pessoas, diariamente, ao se deslocarem, seja de que forma for, pelas vias públicas e essas pessoas têm planos, projetos, sonhos e família. E que, com atitudes erradas no trânsito, podemos ser responsáveis por destruir tudo isso.

No Acre, em 2019, foram mais de 4.600 acidentes, sendo que 1.630 tiveram vítimas não fatais e cerca de 60 pessoas morreram nas vias do estado.

Ao ler essa estatística é provável que você não tenha ficado perplexo, triste ou irado. Mas provavelmente se a notícia fosse a instalação de radares e aumento da fiscalização, você a fixaria na mente e se importaria com a informação. Esse comportamento é cultural e demonstra o porquê os acidentes e as mortes engrossam as estatísticas. O motivo, nada mais é do que o resultado do nosso comportamento em relação ao trânsito.

Preste atenção diariamente ao sair de casa. Olhe à sua volta e veja o quanto, muitas vezes, em um curto trajeto até o seu trabalho ou sua escola é possível flagrarmos desrespeito às leis de trânsito. E o que é pior, mas importante, identificar em nós mesmos, comportamentos que podem provocar um acidente. É o motociclista apressado que corta pela direita, é o motorista apressado que passa no sinal vermelho, é o pedestre apressado que cruza a via pública fora da faixa de pedestre, é o ciclista apressado que tenta competir com os veículos. É sempre alguém apressado. Mais triste é que muitas vezes essa pressa se mistura com outro tipo de infração das leis de trânsito como, por exemplo, o consumo de bebida alcoólica.

É claro que é necessário mais investimentos na duplicação de ruas, construção de mais ciclovias e calçadas. As falhas na infraestrutura não podem ser escondidas, mas também não podem ser justificativas para que continuemos a colaborar com o aumento dos acidentes que deixam pessoas com sequelas e muitas mortes.

Não é mais possível que personifiquemos os vilões. A culpa não é apenas do motociclista, do ciclista, do motorista, ou seja, sempre do outro. A culpa é de todos nós. Os acidentes são o reflexo das nossas escolhas quando não nos colocamos como protagonistas da mudança. Quando dirigimos, pilotamos, pedalamos ou andamos.

Ao que parece, só existem dois caminhos. Um deles, só vamos ter resultado a longo prazo, que são os investimentos em educação para o trânsito que deve provocar uma mudança de mente e cultura. Esta é uma ferramenta de esperança para que tenhamos uma nova geração mais consciente. A outra pode ser ainda mais rápida e simples. Basta que façamos após essa reflexão e tomemos atitudes diferentes no nosso trânsito de cada dia.

Daigleíne Cavalcante é jornalista e servidora pública.

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