“Eu não sentia prazer em nada, não estava feliz. Tudo que eu queria era acabar com aquele sofrimento e parar de me sentir tão infeliz”. É assim que Carlos (nome fictício), 31 anos, descreve o período difícil pelo qual passou há alguns anos. Segundo ele, sua família não dava muita atenção ao seu comportamento. “Eles achavam que era birra, coisas da adolescência, enquanto isso eu me retraía mais e mais”, explica.
Após mais uma das brigas com sua mãe, Carlos decidiu pôr fim à sua vida. A tentativa foi frustrada, graças à intervenção de uma tia. Mas o jovem ficou ferido e precisou passar por cuidados médicos. “Só aí minha família percebeu a gravidade do meu estado psicológico e procurou tratamento médico especializado. Foi então que ficou confirmado que eu estava com depressão”, relembra.
Assim como Carlos, 340 milhões de pessoas são afetadas pela depressão, que também é a causa de 850 mil suicídios por ano em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 75% das pessoas diagnosticadas com a doença não recebem tratamento adequado.
Segundo a psicóloga Andréia Vilas Boas, responsável pelo Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco (Huerb), a família e pessoas próximas têm papel fundamental na identificação de problemas como a depressão e na prevenção de uma eventual tentativa de suicídio.
“A pessoa vai dando sinais de adoecimento. Baixa autoestima, introspecção e isolamento são alguns dos sinais mais comuns. Nem todo depressivo é propenso ao suicídio, mas caso não haja tratamento adequado, pode ocorrer. Muitas das vezes, a pessoa fala em morte e o familiar não dá atenção, mas esse é um dos sinais de alerta para uma possível tentativa. Às vezes demora anos, mas alguma situação desencadeia a tentativa de suicídio que, quando frustrada, pode se repetir logo em seguida”, explica Andréia.
Hoje, recuperado, Carlos diz que não se orgulha do que fez. “Não foi um ato impensado, mas foi uma forma de pedir socorro. Eu agradeço por não ter conseguido, ter obtido tratamento e me recuperado. Superei a depressão e tenho uma família linda pra cuidar agora”, finaliza.
Além da depressão, são fatores desencadeantes de suicídio, o uso abusivo de álcool e drogas e outras doenças psíquicas, como esquizofrenia, síndrome do pânico e transtorno bipolar, por exemplo, além de fatores psicológicos, como perda de entes queridos e histórico familiar de doença mental e de suicídio, entre outros.
Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio
A data de 10 de setembro foi escolhida como Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. No Acre, o Núcleo de Prevenção ao Suicídio do Hospital de Urgências e Emergências de Rio Branco atua identificando os pacientes que dão entrada no hospital por tentativa de suicídio e oferecendo apoio e acompanhamento psicológico.
De acordo com Andréia Vilas Boas, o assunto ainda é tabu, por isso a data tem a proposta de trazer à tona a problemática do suicídio. “Quanto mais falarmos sobre isso e oferecermos ajuda, mais poderemos contribuir para a redução, pois 90% dos casos podem ser prevenidos”, assegura a psicóloga.
De 2013 a 2014, foram registradas 215 ocorrências de tentativa de suicídio no Huerb, das quais 142 eram pacientes do sexo feminino. O Instituto Médico Legal (IML) registrou no mesmo período, 66 óbitos. Destes, 57 homens e nove mulheres.