O primeiro estupro foi aos sete anos de idade, por um desconhecido. O segundo, aos 12, ela conta que teve o “consentimento” dos pais, que a entregaram a um homem 56 anos mais velho para viver maritalmente. Maria (nome fictício) viveu 15 dos seus 27 anos com ele.
“Ele não me fazia mal, mas o filho dele me assediava todos os dias, por isso fugi”, recorda.
A fuga a levou para as ruas, onde enfrentou fome, frio e medo. Angustiada, só pensava em uma coisa: “Eu queria me matar toda hora, para me livrar da dor. Não aguentava mais sofrer”.
O retorno para o convívio familiar não era uma opção. Segundo Maria, da casa do pai as lembranças eram da violência praticada pela madrasta e de uma infância perdida.
Resgatada pela equipe da Secretaria de Estado de Política para as Mulheres (SEPMulheres), a jovem foi encaminhada ao abrigo Mãe da Mata, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), em Rio Branco. Após ser diagnosticada com transtorno mental, a equipe da Seds deu entrada no processo para recebimento de um benefício social.
Foram dois meses e meio de trabalho conjunto entre as instituições para resgatar a dignidade da jovem, que tão cedo perdera o desejo de viver.
“Ela dizia que não tinha família e só falava em morrer. O primeiro passo foi o acompanhamento psiquiátrico e social, depois conseguimos encontrar a família dela e entender o que havia acontecido”, contou a coordenadora do abrigo Mãe da Mata, Juraci Duarte.
Durante o período em que Maria ficou no abrigo, os esforços das equipes psicológica e social estiveram voltados para a reaproximação e a reinserção dela no seio familiar.
O diálogo deu certo, e atualmente ela está morando com o pai e os irmãos, mas tem planos para o futuro. “Quando sair a aposentadoria, vou me mudar para a casa do meu irmão, que vai cuidar de mim. Ele gosta de mim e me ajuda”, comentou, com um leve sorriso.
Sobre o desejo de suicídio? Essa não é mais uma opção. “Não passa mais pela minha cabeça essa coisa de morrer. Agora vou tentar ser feliz.”