Quem vê o pequeno Ryan Gabriel, 7 anos, deitado na maca da ala infantil do Hospital do Câncer do Acre (Unacon), enquanto toma uma medicação, não imagina que ele luta há quatro anos contra a leucemia, tipo de câncer no sangue que começa na medula óssea. Sempre sorridente, o garoto parece já estar habituado à rotina do tratamento.
O diagnóstico veio depois de a criança apresentar um recorrente inchaço nas articulações. A suspeita da médica que o atendeu se confirmou após um exame de sangue. Desde então, começou a rotina de tratamento. Ryan chegou a permanecer 45 dias internado no Hospital da Criança.
Por recomendação médica, parou de ir à escola, em virtude da baixa imunidade. Agora, aguarda por um transplante de medula, única via de cura para o seu caso e, segundo o pai, Rodrigo do Nascimento, 26 anos, já tem até doador disponível, mas Ryan precisa ainda passar por uma série de sessões de quimioterapia, para limpar o sangue.
“Assim que ele terminar as sessões, vamos para Recife, onde, se tudo der certo, o transplante será feito”, explicou Rodrigo. Com um olhar tímido e esperançoso, Ryan diz o que mais anseia fazer após o transplante: “Quero voltar a ir à escola, brincar com os colegas, passear mais”.
Diagnóstico precoce: fundamental para o aumento da chance de cura
Ryan Gabriel é uma das cerca de 300 crianças na faixa etária de 0 a 19 anos acompanhadas pelo Unacon. Dessas, 46 estão em tratamento contra algum tipo de câncer. De acordo com a oncologista pediátrica da unidade, Valéria Paiva, os tipos mais prevalentes da doença são leucemia aguda, tumores cerebrais e abdominais e linfomas. O mais comum é a leucemia.
A médica alerta para a importância do diagnóstico precoce e de que os pais ou responsáveis estejam atentos: “Alguns sintomas e sinais como dor óssea, perda de peso, manchas roxas ou sangramento pelo corpo sem machucado, febre e dor de cabeça persistente, mancha branca no olho, aumento da barriga e nódulos pelo corpo, por exemplo, não podem ser ignorados e devem ser investigados imediatamente”.
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) demonstram que são diagnosticados por ano no Brasil 11 mil casos de câncer infantil. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), essa é a maior causa de mortes em crianças por doenças e a segunda em casos gerais.
A boa notícia é que o progresso no desenvolvimento do tratamento da doença tem possibilitado, ao longo dos últimos 40 anos, cerca de 70% de cura para esse público, quando há diagnóstico precoce e tratamento correto. Embora as bases de tratamento sejam as mesmas para crianças e adultos, o tratamento infantil é mais intensivo e cuidadoso.
“É muito importante que a sociedade esteja consciente e atuante na luta contra o câncer, principalmente o infantil. Valorizar as queixas da criança e estar atento aos sinais da doença é colaborar para um tratamento eficaz. Para nós médicos e pacientes, a luta pela vida começa quando diagnosticamos a doença precocemente e damos início ao tratamento o mais cedo possível”, conclui Valéria.