{xtypo_quote}Aprendi que um homem só tem o direito de olhar outro de cima para baixo para ajudá-lo a levantar-se.
Gabriel García Marquez{/xtypo_quote}
Uns distribuem marmitas. Outros cortam cabelos. E outros, ainda, constroem banheiros. Na verdade, há dezenas de serviços sendo executados por voluntários no Parque de Exposições de Rio Branco e em outros cinco abrigos para as vítimas da enchente na capital. Cerca de 400 cidadãos se candidatam diariamente para auxiliar na recepção de mais de 5.800 pessoas hospedadas nos abrigos da prefeitura. Cerca de 80 por cento são servidores públicos do estado e município. Os demais provêm da sociedade civil.
Seja como for, dia e noite há gente doando seus esforços para confortar, física e moralmente, quem sofreu grandes perdas. E, de voluntário em voluntário, somam-se centenas de histórias com o melhor ingrediente que o ser humano tem a oferecer: a solidariedade.
Conheça algumas delas:
A digitadora
A auxiliar de escritório Kelem de Souza estava de férias e “passava o dia dormindo”, como ela mesma conta, rindo. Entre uma soneca e outra, ouviu na TV as chamadas de voluntários para trabalhar no apoio às vítimas da enchente no estado e se compadeceu. No início da semana, a estudante de Psicologia se apresentou à administração do Parque de Exposições e desde então dá expediente como digitadora, tarefa que desenvolve com habilidade. “Estou me sentindo bem útil”, diz, satisfeita. E afirma que teria aceitado qualquer outro serviço que lhe dessem.
Os artistas
Disponibilidade é o próprio espírito do voluntariado. Roberto Lages, arte-educador,comoveu-se pela fatalidade que atingiu tanta gente e se dirigiu ao parque para ajudar. Começou carregando móveis, mas observou que grande quantidade de crianças ficavam soltas, sem atividade, e se preocupou com isso. Logo propôs um projeto de musicalização com brincadeiras para a administração, recebeu aprovação e, junto com o músico Dallas Din, realiza dinâmicas com o público infantil todas as manhãs, e, às vezes, à tarde. “É uma alegria participar deste momento de trazer esperança para as crianças”, observa. Lages relata que está convidando outros colegas artistas para engrossar o cordão da equipe lúdica, pois a demanda é grande. “Quando a gente fala que vai embora, a meninada fica triste”, narra.
Educadora social
Atuando no parque desde o domingo, 12, a antropóloga Silvana Rossi colabora no setor de distribuição de fraldas, absorventes, leite e mingau.“A experiência está sendo boa. A gente precisa atender bem, com tranquilidade, educação e bom humor. Algumas pessoas chegam nervosas, querendo brigar, então atuamos na mediação de conflitos também”, diz essa educadora social da Semcas (Secretaria Municipal de Cidadania e Assistência Social de Rio Branco). E conclui: “Voluntariado é trabalhar por uma causa maior, de coração.”
A enfermeira
Tatiana Barros, recém-formada em enfermagem, ainda não tem emprego. Mas, há alguns dias, correu para o Parque de Exposições para oferecer sua mão-de-obra. No setor de saúde, trabalha onde é necessário: na farmácia, na sala de medicação ou onde a chamarem. Afinal, está ali para somar. “O sofrimento das pessoas me mobilizou. Estou ajudando e me sinto útil”, declara. E abre sua carreira com chave de ouro.