BR 364: Via de integração e oportunidades

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São muitos os impactos positivos na vida das comunidades  a partir das obras da estrada que une o Acre

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Vários trechos da estrada já estão finalizados em boas condições de tráfego

As obras de asfaltamento da BR 364 no trecho entre Sena Madureira e Feijó completam um ciclo de intenso trabalho e enfrentamento às adversidades típicas desta região da Amazônia. O verão 2009 está sendo atípico, com chuvas ocasionais que interrompem o andamento dos trabalhos, mas ainda assim as frentes seguem as obras de terraplanagem e aplicação de arte corrente, como bueiras e galerias. Até o final do ano, por exemplo, o lote 1, de 36,9 quilômetros terá base e sub-base prontas além de seis quilômetros já asfaltados desde o acesso a cidade de Sena Madureira até a ponte do rio Caeté.

A meta para 2009 é dotar de estrutura básica cada um dos lotes para que em 2010 a rodovia entre em fase final de asfaltamento. Até a ponte do rio Caeté, por exemplo, já estão asfaltados seis quilômetros. Da ponte até a divisa com o lote 2 o objetivo é deixar os 36,9 quilômetros com base e sub-base prontos. 

Assista as reportagens das obras na BR-364

No lote 2, de 33,4 quilômetros, está sendo implantada a última fase da terraplanagem. O lote 3, que conta também com duas pontes na manga que dá acesso a Manuel Urbano, terá 100% dos bueiros e da terraplanagem prontos. As pontes estão construídas.

Os demais lotes terão grande avanço mesmo diante das dificuldades. Através do Consórcio Lenke, que acompanha as obras como consultor, o Departamento de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura Aeroportuária do Acre (Deracre) mantém acompanhamento permanente dos trabalhos.

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Drenos tem de ser feitos para rebaixamento do lençol freático e custam muito caros

Obras das pontes em ritmo mais acelerado

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Homem trabalha nos pilares da ponte do rio Juruá, a maior do Acre, Rondônia e Mato Grosso

Graças a uma decisão política tomada pessoalmente pelo Presidente Lula, novas obras de arte foram incorporadas ao projeto de asfaltamento da BR 364, entre elas as pontes sobre os rios Purus, Tarauacá, Envira, Diabinho e Juruá, um complexo de investimentos que somam mais de R$ 245 milhões. Com 550 metros de extensão, a ponte sobre o rio Juruá é a maior do Acre, Rondônia e Mato Grosso, e junto com outras dez pontes, faz parte do complexo projeto da BR 364 desde o Vale do Juruá até Rio Branco e, como as demais e a pavimentação da rodovia, está no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O valor total da obra é de R$ 120.888.360,81, com recursos do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT) e Governo do Acre. Essa ponte é especial em vários aspectos e está ligada à Avenida Mâncio Lima, a mais importante da cidade onde o Governo do Estado vem promovendo, há sete anos, intensas transformações com projetos de urbanização.

As pontes são normalmente construídas em três fases: fundações, mesoestruturas (pilares e travessas) e super-estruturas. As maiores pontes do trecho entre Manuel Urbano e Feijó alcançarão a etapa da mesoestrutura este ano.  As menores, localizadas sobre os igarapés Ciência, Macapá, Pensão, Massipira e Juritipari, devem avançar ainda mais. No igarapé Ciência, perto da zona urbana de Feijó, já há tráfego de veículo desde o ano passado. A ponte sobre o rio Jurupari terá travessas prontas até o final de dezembro.  São em média 200 empregos por ponte.

Restaurando trechos antigos: mais de R$ 44 milhões em investimentos

Através de concorrência pública, os trechos antigos da BR 364 entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul estão sendo recuperados por várias empresas e pelo menos 500 trabalhadores. São mais de R$ 44.379.623,77 em investimentos diretos na recomposição do asfalto prejudicado ao longo dos anos. Os trechos são de 19,5 quilômetros em Tarauacá e de 79 quilômetros desde o rio Liberdade até o rio Juruá.

{xtypo_quote}Naquele tempo, quando a BR começou, tinha pouco mais de vinte animais. Hoje tenho mais de oitenta
Oderli, pequeno produtor {/xtypo_quote}

Acessos criam anel viário em Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul

A implantação das pontes sobre os rios Envira, Tarauacá e Juruá demandam a construção de acessos respectivamente de 5,1 e 11,3 quilômetros que se constituirão em anéis viários para as cidades de Feijó, Tarauacá e Cruzeiro do Sul. Essa nova condição reduzirá o tráfego de veículos pesados nas regiões centrais das cidades, aumentando a durabilidade do asfalto urbano e diminuindo a possibilidade de acidentes. Em Cruzeiro do Sul, o acesso recebe o nome de Variante.

{xtypo_rounded2} Obras significam trabalho de carteira assinada

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Antônio Bezerra, carpinteiro, havia meses estava sem carteira assinada

Centenas de trabalhadores constroem as pontes sobre os rios dos trechos Sena Madureira e Feijó e Tarauacá e Cruzeiro do Sul. Essas obras são importante oportunidade de emprego para a região do Envira /Tarauacá e Juruá. Muitos trabalhadores havia meses estavam sem carteira assinada, realizando pequenos biscates para manter a família. Com a retomada das obras das pontes entre Sena e Feijó e o início das do trecho de Tarauacá e Cruzeiro do Sul, a situação é outra para esse grupo de operários.

"Estava há mais de dois anos sem carteira assinada", relatou o carpinteiro Antônio Bezerra da Silva. "Estou satisfeito agora", completou, enquanto se arrumava para começar mais um turno de trabalho na ponte sobre o rio Juruá, um gigante de 550 metros de comprimento que, na opinião do carpinteiro, será a mais bonita da Amazônia. Bezerra tem mulher e dois filhos e é funcionário do Consórcio Alto Juruá, responsável pela obra. {/xtypo_rounded2}

ZAP Estrada: um novo conceito de gestão territorial e desenvolvimento humanobanner_br_zap.jpg

Para o trecho entre Sena Madureira e Feijó, o Governo adotou uma nova política para que as comunidades ao longo da BR 364 absorvam os impactos decorrentes do asfaltamento. Uma ferramenta importante é a Zona de Atendimento Prioritário (ZAP Estrada). Toda a estrutura do Estado participa, mas diretamente são 13 secretarias envolvidas com os projetos que pretendem atender inicialmente as famílias que vivem até cerca de cinco quilômetros do eixo da rodovia, à direita e à esquerda.

São estimadas 400 famílias naquele trecho.  A ZAP Estrada tem a coordenação do Instituto de Terras do Acre (Iteracre), abrangendo uma área que vai do KM 20 de Feijó até o rio Macapá.  O conceito de ZAP foi criado pelo governador Binho Marques para levar serviços básicos às comunidades em maior vulnerabilidade social, econômica e ambiental.

No trecho entre Tarauacá e Cruzeiro Sul o Governo implantou série de serviços, como os da Unidade de Gestão Ambiental Integrada (UGAI) e programas que agora se mostram eficientes no compartilhamento da riqueza e dos efeitos que podem ser negativos a partir da rodovia.

Homens e máquinas em um novo tempo da estrada da integração

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Zé do Alho opera máquinas de alta tecnologia na BR 364

Para acelerar os trabalhos e enfrentar as adversidades, foram agregados novos equipamentos, como a patrol motoniveladora 140M e caminhão articulado, que requerem especialização para serem operados. A 140 M é uma novidade no Acre e suas funções são ativadas por joystick. Há 20 anos operando máquinas pesadas, José Rodrigues Sobrinho, o Zé do Alho, como gosta de ser chamado, trabalhava no Mato Grosso e foi convidado para atuar no trecho entre Sena e Feijó. 

Foi o primeiro contato com 140 metros e seus controles sofisticados. "Estou gostando", disse ele, que antes passou por um treinamento na fábrica.  O caminhão articulado é uma fortaleza que não teme nenhum tipo de terreno. "Entra em qualquer lugar", afirma o motorista José Carlos.

A oportunidade e o empreendedor

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Ordeli, de colono a empreendedor, o homem que tem na fé e trabalha pela consolidação da BR 364

Há pouco mais de dois anos, Oderli era mais um pequeno colono morador das margens da BR 364. Nascido e criado em comunidades do rio Massipira, na região do KM 35, Oderli enxergou no asfaltamento da rodovia uma janela de oportunidades, abriu-a uma única vez e nesse período duplicou seu patrimônio aproveitando pequenas chances a partir da obra que alguns não acreditavam que de fato virasse realidade. Oderli ouvia pelo rádio ou nas rodas de conversação em Feijó, cidade que visita esporadicamente em busca de algum produto ou serviço, notícias dando conta da liberação dos mais de R$500 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para asfaltamento da BR onde morava havia muitos anos – a 364, artéria que passa pelo coração das comunidades onde nasceu, se criou e formou família com  Odiléia, a  esposa.

O primeiro lance de oportunidade ocorreu quando a construtora Construmil decidiu alugar parte de suas terras para montar o acampamento e base para as obras do asfaltamento e construção da ponte sobre o Massipira. Em seguida, com energia elétrica fornecida pelo parque gerador do acampamento, Oderli montou um pequeno comércio onde serve refeições, secos e molhados e refrigerantes. Ali não se vende bebida alcoólica, uma regra de vida de Oderli. Como os negócios vão bem e deram um grande salto neste verão, Oderli comprou mais um freezer. Outros bens de consumo são presença marcante no comércio: antena parabólica, TV e uma motocicleta que no tempo seco faz as vezes de Louro, seu cavalo de estimação e importante meio de transporte no período chuvoso.

Pequeno pecuarista, Oderli quadruplicou o rebanho de ovinos desde o início das obras. "Naquele tempo, quando a BR começou, tinha pouco mais de vinte animais. Hoje tenho mais de oitenta", diz. Assim como vários dos colonos da região do Massipira, negocia pequenos animais com a construtora. Os animais são abatidos e servidos na alimentação dos mais de duzentos trabalhadores que passam pelo acampamento do Massipira. 

A escola perto das crianças

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Alunos da Escola José Rubemir agora não precisam mais de longas caminhadas para o aprendizado

Mas não é só nos negócios que Oderli virou referência para seis comunidades do Massipira que são diretamente influenciadas pela rodovia. Preocupado com as longas caminhadas que seus filhos e os dos vizinhos eram obrigados a fazer desde suas casas até a escola do KM 29 -muitos pequeninos chegavam a caminhar seis ou sete quilômetros, o que levou as famílias a desistirem de mantê-los estudando – Oderli foi várias vezes  à Secretaria de Educação de Feijó e este ano tomou a iniciativa de liderar a construção de uma escola de pau a pique em sua propriedade, uma pequena cabana onde estudam com regularidade 23 alunos de primeira a quarta séries na escola que passou a se chamar José Robemir Viana de Souza. 

A professora Ana Maria da Silva conta que a situação é provisória porque ainda este ano o asfalto chegará até o Massipira e as crianças voltaram a estudar no KM 29 mas não farão o trajeto a pé porque já se tem a garantia do transporte através de ônibus escolar.  "Vi as oportunidades e fui pegando", resume Oderli.

"Agora posso ir a Cruzeiro do Sul e comprar peixe para o almoço"

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"Depois que o asfalto chegou tudo passou a ser diferente para quem estava organizado"
Joaquim Bezerra, soldado da borracha

Atacado três vezes por cobra durante caminhadas pela BR 364 desde a colocação Lordeiro, no rio Tarauacá, até Cruzeiro do Sul, aos 85 anos o soldado Joaquim Bezerra das Chagas é mesmo um sobrevivente.  Numa das viagens que duravam até seis dias a pé pelo lamaçal inclemente "que dava no joelho" durante o inverno, Joaquim conta que foi atacado por uma onça. O bicho sumiu na mata após uma peleja mas deixou as marcas de suas garras no corpo de Joaquim.

Hoje Joaquim não mora mais em Lordeiro. Mudou-se para a colônia São José, na Reserva do Mogno, em Tarauacá, onde vive com alguns filhos, netos e bisnetos, como a pequena Taís, que apresenta como emblema da resistência de sua família diante dos muitos desafios. "Hoje em dia é muito diferente com essa rodovia", relata o soldado da borracha mostrando a velha fotografia em que aparece com a esposa já falecida. "Hoje em dia saio cedo de casa e vou para Cruzeiro do Sul comprar peixe fresco para comer no almoço", afirma.

Casa nova, tudo novo

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Francisco França e sua família, que vivem muito melhor depois que a BR foi asfaltada

Um dos filhos de Joaquim, Francisco França, também mora na Reserva do Mogno e juntou-se aos colegas colonos organizando em torno de umas das associações de moradores da região, a Associação Fortaleza Acreana, que reúne trabalhadores da comunidade da Bacia e adjacências, no KM 50 da BR 364.

Há pouco mais de dois anos, ele morava em uma casa coberta de palha. Com a política de melhoria de moradia implantada pelo Governo do Estado em parceria com o Incra, França construiu casa nova e reafirma que "mudou tudo" – e para melhor – com a chegada do asfalto. A nova residência faz parte do programa de mitigação dos impactos da rodovia, que possui várias outras frentes. "Depois que o asfalto chegou tudo passou a ser diferente para quem estava organizado", conta. 

A BR trouxe novas políticas públicas que por sua trazem direitos e deveres. França, por exemplo, sabe que não deve ficar desmatando e se prepara a um outro momento em seu sistema de produção: "vou fazer um SAF", diz, referindo-se ao processo de produção conhecido como sistemas agroflorestais.  Na sala da casa é possível ver objetos como geladeira e televisão, sinal de que o Luz Para Todos, programa de eletrificação rural que já chegou à grande parte do Acre, está mais próximo da residência. "A antena parabólica está paga. Quando a luz for instalada, a antena chega", diz o colono cheio de esperança.


maquina_photo.jpgGaleria de imagens

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