BR-364 é causa nossa, do povo do Acre – artigo

Ponte sobe o Rio Tarauacá na manhã de sábado, 25 de abril (Foto: Arison Jardim/Secom)
Ponte sobre o Rio Tarauacá na manhã do último dia 25, sábado (Foto: Arison Jardim/Secom)

Existe um sabor e prazer em percorrer a BR-364 entre Cruzeiro do Sul e a capital acreana, Rio Branco. Ao amanhecer, surge uma luz que corta morros e ilumina devagar as folhas de florestas, campos e casas que ainda não abriram suas janelas, apresentando a cada toco de árvore um gavião como guardião da estrada.

Com sentimento de pertencimento que cada um daqueles gaviões parecem ter sobre a rodovia, é preciso falar sobre a realidade da BR-364. Foram mais de 60 anos sem pavimento algum ligando Rio Branco a Cruzeiro, oeste do estado.

Isolamento! Eram mais de 600 quilômetros, três municípios e diversos moradores de ramais e rios à beira de uma “picada” (caminho dentro da floresta) que seria a rodovia, isolados da “modernidade” que chegava por via terrestre às primeiras cidades que a BR tangencia no Acre. Isso tudo até 2011, ano em que a BR-364 se tornou totalmente trafegável com chuva, ou muita chuva, ou sol. Esses são, portanto, os primeiros quatro anos de caminho contínuo no Acre! E agora parece algo tão corriqueiro…

A batalha continua. Hoje, abril de 2015, a luta pelo caminho que o povo acreano merece não está completa. Mesmo com passagem aberta nos 600 quilômetros, caminhões e ônibus trafegando, levando os problemas e alegrias dos tempos modernos, a rodovia apresenta problemas, buracos e um solo que teima em se desfazer, problemas já encaminhados para solução.

Em 2014, o governo do Estado passou a responsabilidade pela conclusão e manutenção, tantos anos feitas de forma heroica pelo Deracre, para o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Este ano foi aprovado no órgão um projeto no valor de R$ 63 milhões, que já se encontram disponibilizados para três empresas realizarem os serviços.

A licitação para mais um passo já foi vencida, e as empresas aguardam o fim das chuvas deste ano. Equipes do Dnit fazem manutenção emergencial, com auxílio do Deracre quando preciso, de sorte que viajar da capital acreana à capital do Juruá dura mais, mas deixou de ser uma epopeia de até três meses.

Ainda é possível, durante a noite e com cautela, admirar cada estrela que se encaixa perfeitamente entre os telhados das casas, já iluminadas. Em noites de lua cheia, no trecho de Tarauacá a Cruzeiro, observa-se o corpo celeste responsável, em outras épocas, pela criação da vitória-régia, imponente no horizonte, imensa e clara, exatamente entre dois morros.

Aqueles que pedem uma solução para a situação atual o fazem com todo direito. Eles vivem de cada metro dessa estrada. E sem as vozes dissonantes não teríamos, em 1998, iniciado de forma definitiva a pavimentação que interliga o Acre econômica e culturalmente.

No mais, sabe o que é bom? Acordar cedo, tomar café da manhã nas margens do Rio Juruá e almoçar 600 quilômetros à frente, no rio de sua escolha. 

* Jornalista da Agência de Notícias do Acre

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