Boas Práticas no manejo da castanha garantem qualidade ao produto

Projeto desenvolvido pela Embrapa e parceiros garante desenvolvimento tecnológico para fortalecimento da cadeia produtiva do produto

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Castanha é hoje a principal fonte de renda para as famílias extrativistas (Foto: Arquivo/Secom)

Nesta sexta-feira, 21, produtores, extrativistas e técnicos da extensão rural participam do Dia de Campo "Boas Práticas Extrativistas para a Castanha-do-brasil, realizado pela Embrapa Acre, unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). O evento acontece no Seringal Porongaba, a cerca de 30 quilômetros do município de Brasiléia (AC), com início às 9h. O objetivo é divulgar resultados de pesquisas e novidades tecnológicas para o fortalecimento da cadeia produtiva da castanha-do-brasil.

Entre os parceiros da iniciativa estão o Governo do Estado, através da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof); o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), WWF-Brasil e União Mundial pela Natureza (UICN).

A programação vai abordar aspectos ecológicos da castanheira; recomendações para a coleta adequada de castanhas na floresta e manejo seguro no armazém e na usina; cooperativismo e mercado da castanha, com ênfase para a certificação; importância do consumo e alternativas para agregar valor ao produto. Em um espaço audiovisual serão exibidos programas informativos sobre a temática, dirigido aos filhos de produtores.

A castanha é a principal fonte de renda para as famílias que sobrevivem do extrativismo no Acre.  Entre as limitações comerciais do produto está a contaminação por fungos produtores de aflatoxinas, substância de efeito cancerígeno. O problema começa ainda na floresta, em decorrência de práticas inadequadas de manejo.

Para melhorar a qualidade deste produto e ampliar a competitividade no mercado, a Embrapa Acre, em conjunto com instituições ligadas à cadeia produtiva extrativista, desenvolveu um sistema de manejo florestal envolvendo a padronização de procedimentos. Este sistema vem sendo testado em comunidades extrativas e será mostrado de forma detalhada durante o Dia de Campo.

"As boas práticas no manejo da castanha-do-brasil são cuidados simples que devem ser seguidos desde a coleta do produto até a fase de ensacamento e industrialização. Evitar que o ouriço permaneça por muito tempo no chão, não misturar ouriços velhos com ouriços novos, separar as castanhas chochas, mofadas ou machucadas daquelas em boas condições, não deixar as castanhas na mata por longo período e secar o produto antes do armazenamento são alguns destes cuidados", explica a pesquisadora Virgínia Álvares, umas das responsáveis pela criação do novo sistema.

De acordo com a pesquisadora, diversos fatores interferem na qualidade da castanha-do-brasil, mas o modo como são realizadas as etapas de secagem e armazenamento das amêndoas pode determinar como o produto chegará ao mercado.  "É necessário que o produtor compreenda que oferecer um produto em condições adequadas de consumo é uma questão de segurança alimentar. Ele precisa se enxergar como parte deste contexto por que o produto comercializado é o mesmo consumido pelas famílias na comunidade", esclarece.

Produtos à base de castanha

 

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Produto pode ter vários derivados que garantem maior valor agregado (Foto: Arquivo/Secom)

Outra atração do Dia de Campo serão os produtos derivados da castanha-do-brasil, desenvolvidos pela Embrapa Acre como alternativa para agregar valor comercial à amêndoa. Durante o evento haverá degustação de castanhas de diversos sabores (doce, salgada, picante, com gergelim) e bolo à base de farinha de castanha desengordurada. Além disso, os participantes receberão uma amostra da farinha mista de castanha com banana e informações sobre o teor nutritivo destes alimentos.

 

O objetivo, conforme explica a pesquisadora Joana Leite, responsável pelo laboratório de tecnologias de alimento da Embrapa Acre, é enfatizar a importância das boas práticas para a qualidade final do produto e incentivar o seu consumo. "A castanha-do-brasil é um alimento apreciado pelo sabor exótico e por ser rica em proteínas, gorduras, carboidratos, fibras, vitaminas e outras substâncias necessárias ao organismo humano. Sua proteína é um componente tão completo que pode ser comparada à proteína da carne", afirma.

Um dos principais elementos encontrados na composição química da castanha é o selênio, substância que apresenta efeito antioxidante e anticancerígeno, entre outras características. Segundo Joana Leite, o consumo de 2 a 3 castanhas é suficiente para suprir a necessidade diária de selênio.

Estudos em castanhais

Entre os destaques do evento estão os resultados de uma pesquisa que estudou a produção de amêndoas e o impacto da coleta do produto no processo de regeneração natural de castanhais nos municípios de Xapuri, Epitaciolândia e Sena Madureira. Entre 2002 e 2009, pesquisadores da Embrapa Acre acompanharam o desempenho produtivo de três castanhais e descobriram que a produção anual das árvores sofre variação de um ano para outro.

Segundo a pesquisadora Lúcia Wadt, que coordenou a pesquisa, isto não interfere na produção média dos castanhais por que a perda de desempenho produtivo de uma árvore é compensada pelo ganho de outra. "A queda na produção está relacionada principalmente a fatores ambientais drásticos como a seca. Além disso, a presença de cipós entrelaçados nas copas também pode influenciar a capacidade produtiva das árvores. Em locais onde o extrativista pratica o corte de cipós observou-se maior produtividade", explica.

Em relação ao estudo sobre a capacidade regenerativa de castanheiras, os resultados revelam que, do ponto de vista ecológico, a atividade extrativa é sustentável. De acordo com Lúcia Wadt, os extrativistas coletam cerca de 70% das castanhas que caem. O restante fica na floresta e serve de alimento para animais como a cutia, que costuma enterrar as amêndoas para buscar depois. Muitas vezes, as castanhas enterradas não são encontradas e acabam germinando, dando origem a novas árvores. Isto tem permitido níveis satisfatórios de regeneração de castanheiras, garantindo a sobrevivência da espécie.

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