A partir de Chico Mendes, Acre mostrou lição de sustentabilidade ao mundo e projeto agora quer ampliar parcerias pela manutenção da floresta em pé e compensação por serviços ambientais
O governador Binho Marques apresentou nestasegunda-feira, 5, em Washington, detalhes do projeto de desenvolvimento sustentável do Acre, a origem de um processo que se disseminou pelo mundo e os desafios das políticas públicas para a sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Esse projeto se fundamentou a partir da luta de Chico Mendes, disse Marques durante a palestra que teve como tema "A caminho de Copenhagen: avanços de desafios do desenvolvimento sustentável na terra de Chico Mendes", proferida no encontro de governadores que ocorre na cidade dos Estados Unidos em preparação à COP 15, a Conferência Sobre Mudanças Climáticas da ONU, na Dinamarca. "O Chico Mendes não só fez os empates, que foi uma forma de resistência, mas foi muito além disso. Ele conseguiu reunir quem não se reunia", afirmou o governador mostrando em telão imagens dos empates realizados nos seringais do Acre nas décadas de 1970 e 80.
Chico Mendes é o ícone de uma luta que trouxe resultados que repercutem no mundo inteiro. Para Marques, mais que um ativista ambiental, Chico Mendes é o gerador de pensamentos e ações que são decisivos para a manutenção da floresta em pé ao mesmo tempo em que garantem a melhoria da qualidade de vida das populações tradicionais. "Chico tem papel fundamental. Não é apenas um mito, uma transformação que serve a um movimento, mas o autor intelectual desse processo de acreditar que o povo possa viver em boas condições na floresta", disse, observando que o aperfeiçoamento do legado de Chico Mendes resulta em experiências que são fundamentais para o mundo com grande ênfase à Amazônia Brasileira e Internacional.
O legado de Chico Mendes se traduz na elevação da qualidade de vida desfrutada no Acre de hoje em dia, processo que se iniciou com a decisão popular de eleger governantes completamente envolvidos com o desenvolvimento sustentável. O Acre, lembrou o governador, possuía uma vocação para outra proposta de desenvolvimento mais baseada na devastação dos recursos naturais. "O Acre tem uma situação diferenciada nesse aspecto", disse, fazendo referência a Estados como Roraima, Amapá ou Amazonas, os quais têm posição geográfica para preservação. No entanto, graças à mobilização popular, o Estado cada vez mais consegue melhores resultados mantendo a floresta em pé. "Em 2007 o Acre ficou fora da lista de municípios que contribuíram para a devastação da Amazônia, os campeões do desmatamento. Ao contrário disso, o acre tem 88% de sua área preservada. É uma alternativa econômica e também de ter uma sociedade mais justa". Chico Mendes não só fez isso, mas construiu um pensamento que serve para toda a sociedade. Ele não ficou em um grupo isolado, mas construiu uma possibilidade para que a sociedade elegesse um governo declaradamente condutor de um projeto sustentável.
Profundas transformações vêm sendo implementadas no Acre nos últimos dez anos. Marques citou alguns exemplos, como a redução de 34 por grupo de 1000 habitantes para 17/1000 a taxa de mortalidade infantil, e o crescimento de R$ 2,7 mil para R$ 6,4 mil do PIB per capita. O governador mostrou projetos que estão fazendo do Acre o melhor lugar para se viver na Amazônia, como o advento da Biblioteca Pública, que conduz a experiência do programa Floresta Digital, que levará acesso gratuito à internet à toda cidade de Rio Branco até o final deste ano, e da Biblioteca da Floresta, base de um processo que está transformando a capital em uma cidade do conhecimento. "Na base da Florestania está a educação", disse o governador, garantindo computador para todos os estudantes do último ano do ensino médio de escolas públicas.
Os investimentos privados hoje são superiores aos da iniciativa pública em empresas dos parques industriais de Rio Branco. Há conceitos novos em desenvolvimento, como a parceria público-privada e comunitária aplicada ao complexo de avicultura de Brasiléia e à Natex – a fábrica de preservativos de Xapuri. Na última década, ocorreu expressiva queda da madeira ilegal, que deu lugar a madeira de valor agregado e com origem em planos de manejos e certificação florestal.
Parceiros pelo desenvolvimento sustentável
Estradas, rodovias, grandes obras de infraestrutura, educação, saúde, fortalecimento da iniciativa e uma economia cada vez mais de base florestal foram expostos pelo governador acreano, que reafirmou que a continuidade desse trabalho carece de um governo estabelecido. "Esses desafios precisam de um governo forte", disse. A sustentabilidade ambiental depende de sustentabilidade política e Binho diz ter certeza de que o próximo governador terá esse atributo, assim como vem sendo na última década. "Nossa meta é muito ousada. Fizemos muito ao assegurar 88% de área preservada, 48% de terras protegidas", disse Marques, alertando que daqui por diante o Acre busca parceiros para atingir o objetivo de um projeto exemplar para o planeta. O pagamento por serviço ambiental visa fortalecer práticas produtivas sustentáveis.
"Nesse sentido, precisamos de ajuda. Não vamos fazer isso sozinhos porque o Acre vive o momento de esperar o novo momento, o momento da economia sustentável. Por isso que estamos apostando, investindo muito para em Copenhagen aprovar mecanismos para que possamos ter sustentabilidade desse nosso projeto", afirmou.