No Jordão, o jovem Lucas do Nascimento, 24 anos, pratica caminhada pelas ruas largas, numa tarde quase chuvosa. Quatro anos antes, ele concluiu odontologia em Rio Branco e na ocasião pediu para que a direção da faculdade oferecesse mais qualidade aos conteúdos, pois voltaria à sua terra natal e queria se preparar bem para cuidar da população local.
Lucas hoje é dentista e cumpriu a promessa: retornar para casa e servir a seu povo. Está há três anos exercendo a profissão no Jordão. A história do rapaz foi um dos muitos exemplos de determinação abordados nas palestras do secretário de Estado de Educação e Esporte, Marco Brandão, na caravana do programa Bate-Papo com o Secretário, na semana passada, nos quatro municípios de mais difícil acesso do Acre: Santa Rosa do Purus, Jordão, Porto Walter e Marechal Thaumaturgo.
O desenvolvimento regional é diretamente proporcional ao grau de educação de uma comunidade. E, nesses municípios, não poderia ser diferente. Os encontros do secretário com os alunos, das mais diversas modalidades de ensino, emocionaram e motivaram muitos jovens para um “gás a mais” pelo conhecimento, por assim dizer, mesmo diante das dificuldades do dia a dia em cidades isoladas.
“Estamos aqui para incentivá-los aos estudos e para mostrar-lhes que a escola faz parte da comunidade, que ambas devem viver de mãos dadas”, ressaltou Brandão numa roda de conversa com os alunos da escola Frei Paolino Baldassari, em Santa Rosa do Purus, distante 300 quilômetros de Rio Branco, na fronteira com o Peru.
Ali, estuda Juan Pablo Carvalho, de 16 anos, um dos participantes do Programa Viver Ciência, a mostra de educação, ciência e tecnologia do Acre que será realizada em setembro próximo. Para construir um blog e poder interagir com o Viver Ciência, o rapaz faz um curso de informática de R$ 50 mensais custeado pelo pai.
“Quero ser alguém na vida. E sei que aqui tudo ainda é muito difícil, mas eu vou conseguir”, diz o adolescente. Mesmo enfrentando dificuldades como a internet muito lenta e o pouco conhecimento na construção de páginas de internet, ele não desanima, ao lado da gestora da escola, a professora Isa Lopes, 52 anos, dos quais 30 dedicados à Educação.
“Queremos mostrar para nós mesmos que somos capazes de fazer um mundo melhor, como qualquer outra escola que esteja em Rio Branco”, empolga-se, orgulhosa do garoto Juan.
Aliás, histórias de superação não faltam nesses rincões da floresta. Um bom exemplo vem de 23 estudantes do curso técnico de enfermagem do Jordão pelo Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec. Em busca do estágio final, na terça-feira, 9, eles partiram para uma viagem de três dias de barco até Tarauacá, onde pegariam um ônibus para Rio Branco, num percurso de mais de 8 horas.
Em Marechal Thaumaturgo, a 559 quilômetros da capital, já no Vale do Juruá, o estudante João Paulo Cunha, 18 anos, esforça-se para superar as limitações da tecnologia, na escola Elvira Ferreira Gomes.
O jovem do 3º ano começou a dirigir um curta-metragem, com a participação de colegas atores, sobre um episódio histórico pouco conhecido dos acreanos: a expulsão a balas de peruanos na foz do Rio Amônia, por Gregório Thaumaturgo de Azevedo, o marechal do Exército Brasileiro que deu nome à cidade. O blog e o vídeo também farão parte do programa Viver Ciência.
E todo esse esforço por uma educação melhor resume-se nas palavras do secretário Marco Brandão, ditas a uma centena de estudantes por onde a caravana passou: “Aqui vocês também são cidadãos do mundo. Pensem grande, pensem num mundo sem fronteiras, porque você são parte de 150 mil alunos do Acre. E o nosso compromisso é com vocês”.