Banco de desenvolvimento é realmente um banco?

Por Roseneide Sena*

Bancos de desenvolvimento (BDs) são atores tradicionais das políticas econômicas no mundo. Além do Brasil, vários países – desenvolvidos e em desenvolvimento – mantêm BDs fortes, como Alemanha, China, Coreia do Sul, Espanha, Japão, México, França e Rússia.

A principal função dos bancos de desenvolvimento é financiar programas e projetos que, para os bancos comerciais, podem não ser convenientes ou lucrativos. Desenvolvimento, em seu sentido mais genérico, é tudo o que contribui para o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.

Ou seja, a resposta para a pergunta do título deste artigo é “sim” e “não”. Sem confusão, apesar de dicotômica, porque, no que consiste a função básica de um banco, de acordo com o conceito trazido pelo Banco Central do Brasil (BCB) – “é a instituição financeira especializada em intermediar o dinheiro entre poupadores e aqueles que precisam de empréstimos, além de custodiar (guardar) esse dinheiro. Ele providencia serviços financeiros para os clientes (saques, empréstimos, investimentos, entre outros)”- , tanto um banco de desenvolvimento quanto um banco comercial tem como ativo principal transacional o dinheiro. Entretanto, o que os diferencia são dois elementos essenciais: o credor/beneficiário e a finalidade para aplicação desse dinheiro.

O atrativo de interesse dos bancos de desenvolvimentos, em sua grande maioria, está relacionado a políticas públicas que gerem uma transformação perene e que sustentem o retorno do investimento no local em que foi aplicado.

No Acre, por exemplo, estão presentes há muitos anos, com forte relação institucional com Estado e o próprio Município de Rio Branco, seja em operações internas com BDs nacionais, ou externas, com BDs internacionais.

Você pode estar se perguntando: “Por que eu preciso saber disso?”. Porque eles fazem parte da sua realidade, você é um credor e um beneficiário desses investimentos. E talvez até já tenha cruzado com alguns deles, lembra da placa de uma obra com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), com o Bird (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento) ou talvez com o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento)?

Em suma, o mandato dos bancos de desenvolvimento cobre praticamente todos os aspectos da vida em sociedade. De escolas e pontes a estradas, portos, instalações elétricas e também educação e saúde, entre muitos outros.

Ou seja, em alguma medida, direta ou indiretamente, tem relação comigo e com você. São mais de 450 bancos de desenvolvimento no mundo todo.

O mundo pós-Covid-19 deverá massificar a presença dos bancos de desenvolvimento pelo planeta, pela capacidade de promoverem ganhos de eficiência, enquanto o mercado se reestabelece, garantindo investimentos que, de forma geral, promovam o bem-estar de um indivíduo sem, necessariamente, piorar o de outro.

O esforço do Estado do Acre é nessa direção. Com boa relação institucional, desenvolveu capacidade estatal e vem melhorando sua capacidade burocrática e fiscal, aumentando as chances de sucesso dos projetos financiados e de retorno dos investimentos realizados, beneficiando a imagem do banco como emprestador e ator relevante na definição de diretrizes de políticas sociais.

A crise gerada pela pandemia da Covid-19 e o impacto econômico advindo dela são os desafios comuns que todos os países enfrentam a partir de então. Para alguns serão tempos difíceis, longos e incertos. Mas em todos o foco deverá ser o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas, elementos atrativos dos bancos de desenvolvimento e que, em condições vantajosas, poderá ser um combustível viável para essa retomada.

Roseneide Sena é administradora de empresas, mestre em Administração e chefe do Departamento de Gerenciamento do Programa BID da Seplag/AC