Professor de inovação Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e blogueiro, Marcelo Pimenta apresenta no Blog do Empreendedor os destaques empreendedores que estão surgindo no Acre. Do bambu à energia renovável, o Estado é apontado como um campo de oportunidades.
Era comum, no sul do Brasil, perguntar se o Acre existe mesmo. Se você não conhece quem tenha nascido ou visitado o Acre, acredite: em breve provavelmente você pode ficar conhecendo empresas que vêm do Acre. Fruto de uma articulação que nos últimos anos vem incentivando a inovação, o Acre está fortalecendo seu ecossistema empreendedor. Por isso, começo alguns posts para mostrar mais sobre esse pedaço do Brasil que poucos conhecem – e que apresenta um mundo de oportunidades.
Antes de falar dos negócios, acho que vale recuperar algumas informações e contextualizar a região, a começar pela sua localização. No sudoeste da Região Norte, o Estado do Acre faz divisa com duas unidades federativas: Amazonas ao norte e Rondônia a leste; e faz fronteira com dois países: a Bolívia a sudeste e o Peru ao sul e a oeste. De Rio Branco, capital, a Cuzco, onde fica a lendária Macho Picchu, são 1 000 km. Entre Rio Branco e a “vizinha” Manaus são 1.400 km. Entre Rio Branco e São Paulo, 3.500 km.
O Acre sempre foi uma terra de conquistadores. Os brasileiros, principalmente os nordestinos, foram para a região, que então pertencia à Bolívia, no final do século XIX, para explorar o ciclo da borracha. A ocupação motivou a proclamação do Estado Independente do Acre, que, posteriormente, por acordo, foi incorporado ao Brasil em 1903. Terra distante dos grandes centros, sempre foi foco de muitas dificuldades, desde a falta de infraestrutura rodoviária até de internet (que é cara e lenta). Mais da metade dos 22 municípios têm índice de desenvolvimento humano (IDH) baixo ou muito baixo. Mas, enfrentando os obstáculos, existem personagens que estão empreendendo para mudar esse cenário.
![Mark James Neeleman, é um dos empreendedores que estão apostando no Acre](http://www.agencia.ac.gov.br/wp-content/uploads/2015/07/MArkJames-300x170.jpg)
Um dos expoentes desse ciclo empreendedor do Acre é o empresário americano Mark James Neeleman. Com 36 anos, ele acredita que pode ajudar a preservar a floresta através do manejo florestal de bambus, e se prepara para instalar uma fábrica de painéis para construção civil, feitos a partir do bambu, em Xapuri. “Eu creio o Acre foi o local da famosa cidade perdida El Dorado. Como pode lembrar, foi uma cidade lendária que sumiu na floresta e que era feita de ouro. Creio que o ouro de que os índios estavam falando não era metal, mas sim uma cidade feita de bambu que tem a cor dourada quando seca”, explica ele, por e-mail.
“O Estado do Acre é o único lugar que temos como começar hoje, pois qualquer outro lugar teremos que esperar cinco anos até que o plantio esteja pronto”. Nesta fábrica ele vai produzir lâminas de bambu para construções e outros usos como substituto da madeira. Depois pretende produzir vários produtos baseados nos resíduos do bambu, como carvão ativado, biocombustíveis, entre outros.
Pergunto se ele acredita que essa é uma oportunidade para os empresários investirem no bambu e na região. A resposta foi assertiva. “O Brasil é um pais agrícola. Faz todo o sentido ter um novo produto para superar essa crise, e o bambu pode ser a resposta. Os chineses e os indianos exportam, respectivamente, 28 e 8 bilhões por ano de produtos de bambu. O Brasil pode triplicar isso”, justifica ele.
O projeto do americano está sem sintonia com as ações do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, que, em parceria com o governo do Acre, está criando um centro de vocação tecnológica (CVT) para capacitação e beneficiamento do bambu em Rio Branco. O ministério iniciou o repasse de R$ 2,4 milhões para o projeto. O acordo de gestão compartilhada do centro foi assinado no início do mês entre a Universidade Federal do Acre (UFAC) e outras entidades como o Instituto Federal do Acre (IFAC), Sebrae, Embrapa, entre outros atores.
O secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social do MCT, Eron Bezerra, explica que o princípio é transformar o recurso natural em um recurso industrial, aumentando o valor, verticalizando a produção e elevando o padrão de renda das pessoas da região. “A cadeia de agregação de valor vai começar com o extrator. O produtor vai fazer o tratamento inicial no campo.” Neeleman está empolgado com as perspectivas: “O Acre é nosso piloto, vamos dizer, para criar um modelo que creio que dar nascimento uma nova fase de Brasil Bambuzado como falo, onde construímos economia verde, com energia limpa, e usamos bambu como ferramenta”.
Mas o bambu não é a única iniciativa que vem movimentando o ecossistema local de inovação. “Nos nossos estudos observamos o Acre como um dos três locais no Brasil com a maior necessidade de demonstrar na realidade o uso de tecnologias inovadoras de energias renováveis, também com foco de capacitação e educação de povos indígenas isolados” conta o sérvio Boris Petrovic, cientista, pesquisador e engenheiro de sistemas de tele-automação. Ele criou em 2012 o Instituto Nikola Tesla, em Brasília, com o objetivo de viabilizar soluções que garantam a independência energética do planeta. Um dos primeiros projetos é a Aldeia Solar, um modelo social integrado de aproveitamento de energia solar para aldeias indígenas. No município de Marechal Thaumaturgo, no Acre, ele assinou termo de cooperação com a associação ambiental Kuntamanã para um projeto piloto (que busca financiamento).
E não são só estrangeiros que estão vendo no Acre um horizonte de oportunidades. Na semana passada o alagoano e investidor-anjo João Kepler, esteve por lá fazendo palestras sobre inovação para empresários de vários setores e segmentos. Perguntei a ele com qual a impressão ficou e a resposta foi que “todos estão muito interessados na questão da inovação, não existe mais nenhuma barreira, os empresários do Acre estão receptivos da importância e da necessidade de inovar”.
Foi semana passada também que o Sebrae abriu um edital para selecionar startups para um programa de pré-aceleração. Já o Instituto Federal lançou o programa IFAC Empreendedor e prepara-se para organizar o X Connepi, em dezembro. Mas desses assuntos vamos saber mais na que vem. Até lá.
Confira: http://blogs.pme.estadao.com.br/blog-do-empreendedor/as-oportunidades-que-vem-do-acre/?fb_action_ids=1132336613449716&fb_action_types=og.recommends