Inteiras, vazadas, em cores que variam entre o amarelo e o vermelhão, as gamelas são os objetos que mais atraem os visitantes do estande da Associação Seringueira Porto Dias (ASPD) na Expoacre. Assim como os demais artefatos expostos pelos integrantes da associação sediada na comunidade Palhal, Acrelândia, as gamelas são produzidas com resíduos de madeira encontrados na região.
Membro da associação há pouco mais de um ano, Daiana Nascimento está na Expoacre pela segunda vez e já teve oportunidade de expor o trabalho da associação em eventos nacionais. “Para mim foi uma experiência ótima. Fiquei impressionada como agregam valor nos nossos produtos. Pude ver o valor que as pessoas dão à madeira especialmente por ser um projeto social. É um estímulo para gente vencer as dificuldades e continuar participando do projeto”, disse Daiane.
O trabalho dos artesãos conta com o apoio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema). Por meio de convênio para o desenvolvimento do Plano de Gestão para a associação, a Sema garante a formação e consultoria para os artesãos.
Na primeira etapa foram capacitados 20 jovens extrativistas. Durante os cursos, os participantes receberam treinamento em técnicas de criação e confecção de artefatos, aproveitando os resíduos madeireiros oriundos do manejo florestal comunitário do PAE Porto Dias.
A comunidade realizou o manejo anos atrás e está agora aguardando o novo ciclo de corte. O reaproveitamento dos resíduos é uma atividade que agrega e possibilita a reutilização de resíduos que muitas vezes ficam esquecidos na floresta, para então poder produzir objetos que são bem aceitos no Brasil e até no exterior. “É um projeto que ajuda a evitar o êxodo rural, dando ao jovem a oportunidade trabalhar na sua comunidade”, destaca Anelena Carvalho, consultora da cadeia de valor da madeira da Sema.
A segunda etapa do projeto, programada para 2019 prevê a realização de novas capacitações e ampliação do número de jovens participantes.
Como tudo começou
O início da história desta comunidade remete ao ano de 1945, período no qual a área de abrangência da comunidade era um seringal, e que levou o nome de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Nessa época havia cerca de 55 famílias seringueiras extrativistas, residentes na área, que trabalhavam no seringal.
No local foi previsto o convênio a reforma de uma infraestrutura já existente para a instalação do ateliê utilizado para produção dos artefatos artesanais utilizando o resíduo da extração madeireira.
O PAE Porto Dias apresenta uma das últimas áreas de florestas do município de Acrelândia, por isso a economia de base florestal tem sido fonte de trabalho e renda para as famílias desde a época dos seringais. No ano de 1996 produtores agroextrativistas se organizaram para vender seus produtos no mercado e não mais diretamente, e obrigados, ao “patrão” do seringal. No ano de 1997 se iniciou as primeiras discussões e iniciativas sobre manejo florestal na comunidade, e no estado do Acre, buscando mais alternativas de obtenção de trabalho e renda através da floresta e seus recursos.
O manejo florestal é certificado – selo FSC – e seus manejadores cooperados da Cooperfloresta. Partindo do princípio do aproveitamento de resíduos florestais, gerados pelo Manejo Florestal durante o processo de abertura de estradas, trilhas de arraste e pátios, galhadas das copas das árvores exploradas, árvores derrubadas durante a queda, queda natural de árvores e resíduos de toras ocas, o Plano de Gestão busca, através da capacitação em confecção de artefatos, oferecer aproveitamento de resíduos e, em paralelo, a criação de uma fonte de trabalho e renda para as famílias Agroextrativista (PAE) Porto Dias.