Água é um dos elementos essenciais para haver vida na terra. Até mesmo os cientistas descartam qualquer possibilidade de vida em outro planeta se não for detectada água em seu território. E só na Terra, a água cobre ¾ do planeta, enquanto mais de 70% do corpo humano adulto é composto de água. E é direito de todos ter acesso a esse elemento tão fundamental à vida, mas levar água para todas as pessoas não é tão simples, depende de trabalho intenso, fiscalização eficiente e da luta contra o desperdício.
Desde que o antigo Sistema de Abastecimento de Água de Rio Branco (Saerb) passou para a administração do governo do estado, se tornando Departamento de Pavimentação e Saneamento (Depasa Rio Branco), um trabalho incisivo tem sido realizado para que não falte mais água na casa da população, um problema histórico influenciado por vários fatores. Atualmente, a água tratada chega para mais de 85% das residências da capital, através de uma rede de 750 km de tubos e encanamentos, maior que a distância entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul.
Hoje, o maior desafio em Rio Branco é a pressurização da água e que a rede seja realmente capaz de fazer com que a ela chegue com força nas casas. Uma questão que exige adequações e extensões na rede de tubulações que já existe na capital. Com essas ações, o Depasa foi capaz de levar água continuamente a cerca de 40 mil pessoas em 2012. “O ano passado foi um ano que a gente trabalhou muito, o sistema de tratamento de água trabalha 24 horas por dia, mas não é possível mandar água para toda a cidade 24 horas por dia. Só vamos conseguir isso quando mudarmos totalmente o desenho da rede da cidade”, conta Railson Correa, gestor de operações do Depasa Rio Branco.
Em Rio Branco existem duas Estações de Tratamento de Água (ETA). A ETA 1 trata 500 litros de água por segundo e a ETA 2, 1.000 litros por segundo. A ETA Judia foi desativada em novembro do ano passado. Na Estação de Captação localizada ao lado da Terceira Ponte existem quatro bombas, cada uma com capacidade de sugar 250 litros por segundo. São bombas que estão abaixo do seu próprio poço, projetadas para uma capacidade específica, e quando o rio está baixo demais elas trabalham acima dessa capacidade, com uma redução do seu potencial, mas que não param, a não ser que quebrem. A captação não é paralisada nem mesmo na seca do rio, quando as bombas são retiradas de sua estrutura original e colocadas sobre o rio em uma balsa para dar mais eficiência.
As melhorias da rede de distribuição de água em Rio Branco foram feitas para solucionar problemas em bairros mais distantes e recentes como Universitário I, II e III, através de adequações no Portal da Amazônia que manda água todo dia; todo o Segundo Distrito, como o bairro Vitória, que recebeu 1km novo de adutora; e Calafate, que ganhou um reservatório próprio e uma adutora. Além disso, melhorias chegaram a regiões altas como Jorge Lavocat e Montanhês, além de bairros antigos, como o Tangará, mas com problemas históricos devido à falta de pressurização da água. Vale lembrar que os únicos bairros a receber água 24 horas por dia são o Custódio Freire, que tem toda uma rede nova construída em 2010, e o Irineu Serra.
Mais eficiência nos bairros
{xtypo_quote_right}Aqui a gente faz de tudo pra não estragar água, mas tem gente que joga ao vento. Precisa de uma maior fiscalização, Francisco Luiz Braga{/xtypo_quote_right}Entre as pessoas beneficiados pelas mudanças, encontramos Francisco Luiz Braga e sua esposa Eunice Braga. Vivendo há 58 anos no bairro Quinze, os dois sentem que só agora conseguiram de verdade uma boa distribuição de água. “A gente tinha três problemas aqui: faltava água, quando vinha era pouca e era enlamaçada. Eu queria levar a água daqui pra mostrar lá no Saerb como era”, conta Francisco, que por muito tempo deixou de pagar até as contas, de tão insatisfeito que estava. As melhorias aconteceram com a adequação da rede e agora a água chega dia sim e dia não, com uma pressurização que leva direto pra caixa d’água.
“A gente ainda tem problemas, claro, nada é perfeito, esses dias parece que deu um problema e não veio água, mas não se compara ao que era antes”, ressalta Francisco que ao lado da mulher mostra as três caixas d’água que tem no quintal de casa além da caixa suspensa, todas usadas no passado pra armazenar a pouca água que vinha e aquela que comprava de caminhões pipas. “Eu botava a água na caixa do chão e mandava pra de cima com uma bomba que eu também comprei. Agora a água sobe sozinha”. Francisco até voltou a pagar as contas e renegociou as dívidas que tinha de modo rápido, indo na Organização em Centros de Atendimentos (OCA).
Presidente de bairro por muitos anos, Francisco ainda escuta os problemas dos moradores que o têm como referência e repassa as demandas para o Depasa. E ele também luta contra o desperdício. “Aqui a gente faz de tudo pra não estragar água, mas tem gente que joga ao vento. Precisa de uma maior fiscalização”.
Problemas culturais
Hoje, segundo o Depasa, quase 60% da água potável em Rio Branco é desperdiçada. O volume de água tratada em Rio Branco é o suficiente para atender o dobro da cidade, mas com esse nível de desperdício, ainda falta água para centenas de pessoas. “São questões culturais como a ideia de que aqui temos água de sobra e por isso pode esbanjar”, explica o diretor executivo de gestão técnica operacional do Depasa Rio Branco, Janderson Assis.{xtypo_quote_right}Segundo o Depasa, quase 60% da água potável em Rio Branco é desperdiçada{/xtypo_quote_right}
Entre outros problemas graves que geram o desperdício estão as ligações clandestinas na rede de água, e as chamadas “quebras”, que fazem com que a tubulação de água tratada quebre de um jeito que caia direto na rede de esgoto.
Outra questão cultural do estado é a grande quantidade de reservas de água feitas em casa e cisternas. “Pegamos por exemplo uma rua, a pressão da água começa a encher os reservatórios das primeiras casas, mas quando chegar na última não terá pressão e haverá menos água, chegando bem menos que na primeira casa. Tudo isso por estarmos enchendo os reservatórios das primeiras casas. Então precisamos encontrar maneiras de aumentar a pressão para que chegue até a última casa”, explica Janderson.
Regiões altas sofrem ainda mais com esse problema, é o caso da região mais elevada do bairro Tangará. “Tinha problema sério de água aqui. Na época da seca mesmo já teve ano de ficar 3, 4 meses sem cair uma gota de água”, conta Raimundo Aguiar, dono de um comércio há 15 anos no Tangará. “Hoje está bem. Chega água direitinho, está caindo direto e forte. Eu só não desfaço da minha cisterna, porque eu armazeno água nela e vai custar muito tampar”.
Francisco ainda fala dos problemas de aluguel de imóveis que a região sofria. “Tem cara que alugava a casa e o inquilino devolvia logo em seguida porque não vinha água nenhuma e tinha que ficar comprando água de caminhão pipa”.
Para solucionar de vez o problema, o Depasa quebrou a Avenida Izaura Parente na altura do bairro e readequou a rede. Foi feito um estudo anterior para viabilizar a ampliação e conseguir assim uma maior pressurização para mandar a água. Tudo isso beneficiou os moradores, como Marli Oliveira, que se mudou apenas há um mês, mas veio com receio para o bairro. “Todo mundo fala que aqui era terrível de água”.
Durante visita técnica, o Depasa descobriu que a água chegava na casa de dona Marli com pressão de seis metros, o suficiente para ela não precisar mais usar a bomba, sendo que a casa possui praticamente um “cemitério de bombas d’água” acumuladas ao longo dos anos de tanto trabalho para mandar da cisterna para a caixa d’água.
Uma revolução na distribuição de água
Para o futuro, o Depasa Rio Branco pretende instalar um método de distribuição de água revolucionário em Rio Branco através da setorização da cidade. O projeto piloto irá começar pelo Segundo Distrito, que como é o mais novo da cidade, apresenta menos problemas e menos pessoas.
“Iremos distribuir o Segundo Distrito em cinco setores, que iremos chamar de Distritos de Medição e Controle (DMC) e montar uma medida única de água para cada setor, que através de uma tecnologia diferente vai mandar água 24 horas por dia para todas as famílias, sem parar, com excelente pressurização”, explica Janderson Assis.
Um trabalho social será feito junto com a mudança, principalmente com o objetivo de reduzir o desperdício, mas também para explicar para as pessoas que elas não precisarão mais armazenar tanta água e usar bombas. “Iremos fornecer alguns materiais que ajudarão isso também, como as boias de caixa d’água”, reforça o diretor de operações do Depasa.
A aquisição dos equipamentos para que os DMCs realmente funcionem já está na fase de aquisição. São medidores inteligentes, algo como “hidrômetros gigantes” e serão instalados no Segundo Distrito provavelmente em setembro deste ano.