Do cheiro-verde à banana e macaxeira, do puríssimo e medicinal mel de abelha à polpa de frutas de diversas espécies, tudo já se pode ver no Acre que valoriza o homem do campo
A Feira do Peixe e da Agricultura Familiar, que teve início na segunda-feira, 18, na Central de Abastecimento de Rio Branco (Ceasa), terminou nesta sexta-feira, 22, com um volume extraordinário de negócios. O faturamento dos produtores deve ultrapassar a faixa de R$ 1 milhão. Mais de 100 toneladas de pescados foram negociadas e outras 20 toneladas de produtos diversos da agricultura familiar também, números impressionantes para um Estado que até pouco tempo pouco produzia. Nesta semana que finda, o Ceasa foi não apenas um lugar para comprar peixe e verduras baratos e de qualidade, mas o espelho de um novo Estado que se firma no desenvolvimento sustentável e garante nova alternativa de renda para os pequenos produtores por meio da agricultura familiar.
Do cheiro-verde à banana e macaxeira, do puríssimo e medicinal mel de abelha à polpa de frutas de diversas espécies, da novidade da carne de ovelhas à nova alternativa que surge a partir do investimento na suinocultura e na piscicultura, tudo já se pode ver no Acre que valoriza o homem do campo. Os investimentos feitos pelo governo do Estado e pela iniciativa privada impulsionam a produção e o Acre se prepara para exportar muito do que antes era escasso e tinha que vir de fora para poder surgir nas mesas dos consumidores.
A agricultora Helena Renan da Conceição, 62 anos, moradora do ramal 2, linha 5 do projeto de assentamento Orion, no município de Acrelândia, andava desgostosa com os rumos da produção. Ela tem 50 hectares e planta banana, macaxeira e frutas, mas não via futuro no que fazia. Em 2005, a estiagem prolongada lhe trouxe muitos prejuízos. O fogo tomou conta do seu roçado causando grandes perdas. Em 2010, outro incêndio destruiu toda a sua plantação de banana. Agora ela se recupera e afirma que a agricultura no Estado nunca esteve em melhor fase.
“Cansei de ver as frutas apodrecer no meu quintal. Os bichos comiam porque nada era valorizado. Hoje, eu posso plantar tudo o que eu quiser, pois sei que tudo vai ser aproveitado, tudo vai ter comprador e, quando não tem, o governo garante a compra”, afirmou a produtora.
Helena é o retrato desse novo produtor que viu na agricultura familiar o motivo para querer ficar no campo. A banana, a macaxeira e as frutas produzidas em sua propriedade são cultivadas com o apoio de dois filhos, um de 28 e outro de 33 anos. Duas vezes por mês ela traz um carregamento de 250 cachos de banana. A venda é rápida. “As vezes eu vendo tudo em dois ou três dias”, afirma. Os cachos são negociados a preços variados. Os menores saem por cerca de R$ 2, os maiores são vendidos até por R$ 10. Calculando pela média de R$ 5, Helena fatura cerca de R$ 1,2 mil por cada carregamento vendido no Ceasa.
O secretário de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar, Lourival Marques falou dos investimentos que vem sendo feito pelo governo no campo para valorizar a produção familiar, ampliando, assim, a produção agrícola do Estado. Nos últimos anos, além de investimentos, o governo tem promovido mudanças na legislação que garantam melhor organização dos produtores. Em 2010, o governador Binho Marques assinou a lei que cria o Programa Estadual de Economia Solidária, favorecendo o associativismo, principalmente no campo. “Este é o marco legal que dá segurança aos produtores”, lembrou Lourival Marques. “Além do marco legal, podemos destacar diversos outros investimentos e tem procurado incentivar a produção com feiras como essa que acontece no Ceasa, como a Feira Panamazônia que concentra empreendedores solidários e de agricultura familiar do Acre, de vários Estados do Brasil e de diversos países”, contou Marques.
Lourival Marques listou alguns dos investimentos que vêm sendo feitos pelo governo do Estado. O principal deles é voltado para o fortalecimento da cadeia produtiva do peixe. Na quarta-feira, 20, governo do Estado e iniciativa privada fundaram a Peixes da Amazônia S.A. Essa empresa vai administrar um frigorífico especializado, uma fábrica de ração e um centro de produção de alevinos. A fábrica é constituída por grandes produtores e por pequenos produtores organizados em cooperativas. Outro investimento prevê a instalação de 30 casas de farinha no Vale do Acre. “A produção de macaxeira no Acre é grande e já há o interesse de empresas privadas para a instalação de indústrias que produzam fécula e outros produtos à base de macaxeira. Um deles é um tipo especial de cola que é utilizada em grande escala nas embalagens dos produtos da Zona Franca de Manaus. A cola que utilizam atualmente lá vem do Paraná”, relatou o secretário.
Em diversas partes do Estado devem surgir agroindústrias voltadas para o beneficiamento dos produtos acreanos. Na região da Transacreana, na capital, por exemplo, deve ser instalada uma fábrica de fubá de milho, agregando valor ao milho produzido na localidade, uma das mais férteis do Estado. Há investimentos similares no Vale do Juruá, Vale do Tarauacá/Envira, e Vale do Alto Acre. Dona Helena, citada no começo dessa reportagem disse esperar ser mais uma beneficiária das agroindústrias. Ela quer aproveitar a banana que não consegue vender no Ceasa e nas feiras fazendo doces e outros produtos. “Lá a gente tem a banana que estraga muito, tem a goiaba e tem muito mais. Hoje, se a gente fizer doce sabe que vai ter quem compre. Antes não era assim, pois a gente não tinha ajuda de ninguém”, afirmou a produtora.
Muitos quilômetros distante de Acrelândia, já no município do Bujari, os agricultores familiares vêm os seus sonhos realizados. Ali os piscicultores receberam o incentivo para produzir, montaram uma feira e já despontam como um dos principais polos de produção de peixe do Estado. Enquanto uns produzem peixe, outros se destacam em outras atividades. Francisco Genival Maia, de 46 anos, está vendendo um mel de excelente qualidade. Cada garrafa de 500 mililitros ele vende a R$ 10. O mel é de florada recente, foi colhido no mês de março nas fazendas instaladas no Bujari. “O forte dessa florada é o espinheiro faveiro, que dá uma coloração mais clara ao mel”, explica orgulhoso o produtor.
A abelha cultivada é a italiana. Francisco consegue colher mil litros por ano. “Eu não tenho área de terra para cultivar abelha. Eu conversei com alguns fazendeiros da região e consegui que eles me deixassem instalar colmeias nas propriedades. Hoje eu tenho 60 colmeias que produzem bem o ano todo”, afirmou. A atividade de Francisco é tipicamente familiar. Ele conta com o apoio de três dos cinco filhos. Eles ajudam no manejo das abelhas, na colheita e na comercialização do mel. Além do mel, ele leva a produção de peças de artesanato em tecido, produzidos por sua mulher para vender no Ceasa e nas demais feiras que participa. “Enquanto a gente cuida do mel, minha mulher produz essas peças que eu vendo aqui. Então, todos nós produzimos e todos nós ganhamos”, afirmou.