Extrativismo e produção

Agricultor apresenta modelo de produção na Floresta Amazônica

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Dimas apresenta com orgulho o resultado da sua producão, que utiliza mucuna no roçado sustentável (Foto: Arison Jardim/Secom)

De forma simples e com muito trabalho, Dimas Ferreira ensina um meio de levar a vida. Apaixonado pela natureza, vive com sua mulher e alguns dos seis filhos na Floresta Amazônica, mais precisamente na Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, em Brasileia, na Colocação Canto dos Caboclos II.

Há 24 anos, Dimas tem transformado os cem hectares de sua propriedade em uma unidade altamente produtiva e sustentável. A diversificação de suas atividades agrícolas é um dos seus princípios, aliada, ainda à consciência ambiental e social. O trabalho é resultado dos anos de experiência tanto na época de seringueiro, ao lado do pai e outros companheiros, quanto na luta sindical na região do Alto Acre.

Assim que chegou à sua terra e construiu a primeira casa, Dimas começou a criar um sistema agroflorestal, consórcio de diversas espécies de árvores, em um espaço de dez hectares. Plantou ali todos os tipos conseguiu: seringueira, jatobá, patoá, açaí, cupuaçu, pupunha, mogno e cumaru-ferro, entre outras. “Um grupo de pesquisadores que estudou esta área me disse que plantei 48 espécies de árvores”, afirma.

Depois do quebra-jejum reforçado, com tapioca, farofa e mamão, tudo da propriedade e preparado com muito zelo por Maria Ferreira, a esposa, Dimas e o neto vão aos roçados colher mandioca para o preparo de goma. Ao arrancar quatro covas com grandes raízes, o produtor explica, com um sorriso no rosto, o motivo da fartura: “Você pode ver a prova: utilizar a mucuna [espécie de planta que recupera o solo] dá certo”.

Desde 2000, Dimas vem utilizando tanto a mucuna como a puerária para recuperar o solo de seus roçados, deixando assim de praticar a queimada anualmente. “Percebi que é muito melhor esse método, quando você passa a enxada para limpar, vê que é uma terra adubada mesmo. A produção está aí, muito saudável”, explica. Assim ele vem cultivando milho, banana e arroz, consorciando ainda árvores frutíferas.

Em meio a tantas árvores e plantas, a criação de abelhas foi oportuna. Hoje, existem 20 caixas, distribuídas pelo governo do Estado, com abelhas produzindo mel na propriedade, tornando-se mais uma renda para a família e polinização para a floresta. “Ano passado, tirei 24 quilos de mel, foram 2.400 reais. Tenho abelha sem ferrão e com ferrão, chamada de ‘italiana’”, afirma.

Entre as atividades, há também a piscicultura. “O peixe é meu carro-chefe”, diz o agricultor. Só em 2016 foram vendidas mais de três toneladas do seu pescado, criado em um dos 19 açudes que o governo do Estado, por meio da Secretaria de Agricultura Familiar (Seaprof), construiu na comunidade. No outro lago de sua terra, há seis toneladas de peixe em crescimento.

Seja pescando uma pirapitinga de seu açude para o almoço da família e das visitas, seja comercializando-o com os mercados próximos ou entregando goma de tapioca para a merenda escolar de Brasileia, ou ainda vendendo o milho, o arroz, a farinha, o mel e outras tantas de suas frutas, Dimas prova que é possível produzir de forma sustentável e eficiente.

Sentimento pela natureza

Dimas concilia conservação e produção eficiente em seus 100 hectares na Resex Chico Mendes (Foto: Pedro Devani/Secom)

Conversando e observando o cotidiano desse produtor e protetor da floresta, é perceptível seu sentimento com a natureza. Em sua juventude, após sair do seringal em que nasceu, Dimas teve uma vida de andanças pelos rios acreanos. Nostálgico, lembra-se de aventuras em grandes embarcações, passando dias e dias navegando de seringal em seringal. “Sinto muita saudade do rio”, desabafa.

Mas também sua criação nos roçados e na estrada de seringa do pai deve permanecer forte em suas lembranças: “Sinceramente, minha vida inteira é aqui na mata”.

E os diálogos na casa de palha sobre o igarapé, na mesa de jantar farta e na beira do roçado de macaxeira mostram o que move os homens e mulheres que vivem na floresta: “Eu planto porque amo a natureza. Aqui estou fazendo uma floresta produtiva, para no futuro dar alguma coisa”.

Anos de aprendizado norteiam a consciência desses trabalhadores, desde as culturas indígenas residentes da Amazônia, passando pelos imigrantes nordestinos que sofreram para descobrir como viver no novo lar, até aqueles que lutam em sindicatos e associações pelos direitos da população rural, como Dimas e seus companheiros de classe. “Quando vejo alguma agressão de fogo na mata, vou lá e peço para não fazer mais aquilo: ‘Companheiro, vamos ter cuidado, nossa vida é isso aqui. Não vamos destruir a natureza dos animais, não'”.

Luta social

“Tem muito mais de 40 anos que estou na luta do sindicalismo do trabalhador rural. Lutamos naquela época em que o fazendeiro vinha e comprava as terras a preço de banana e botava os seringueiros para fora”, recorda Dimas. Quando chegou às cabeceiras do Rio Iaco, no fim da década de 1970, passou a ver de perto as mudanças que estavam ocorrendo com os seringueiros.

Já na década de 1980, começou a participar das lutas sociais e sindicais que transformaram o Acre. Ao lado de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, Dimas e os companheiros lutaram pelo direito de viver e produzir na floresta. “Vi muito companheiro que ia cortar as seringueiras de manhã e quando era de tarde os peões tinham passado brocando [derrubando] a mata”, relembra.

Cada empate [manifestação dos trabalhadores rurais contra a expulsão dos seringueiros de suas terras] não foi em vão. O Acre, desde os anos 2000, tem uma nova política de desenvolvimento em curso. Em aliança com os povos da floresta, o governo promove de forma sustentável a evolução econômica e social do estado. “O que esse governo dá para o trabalhador rural é oportunidade, e é isso que queremos”, afirma.

Atualmente, o produtor conta os benefícios recebidos pelo governo e que resultaram da organização social dos trabalhadores rurais: “Esses açudes nós recebemos depois que nos juntamos na Associação João Barbosa e fizemos o pedido. Recebemos também mudas para áreas degradadas, caixas de mel, além do Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) e Luz Para Todos pelo governo Federal”.

Dimas e tantos outros moradores das reservas naturais, polos agroflorestais e assentamentos rurais são força motriz da transformação iniciada nos embates. “Aquela foi uma parte triste que vivemos, perdemos vários companheiros defendendo a natureza. A mente e os ensinamentos dessas pessoas ainda convivem com a gente”, afirma.

Vida construída na floresta

“Eu criei os seis filhos foi com o trabalho rural mesmo, no cabo da enxada, da foice, serrando madeira para fazer nossa casa”, afirma Dimas. Com 59 anos, esse morador da floresta construiu uma vida em harmonia com a natureza.

Hoje, mesmo com os filhos encaminhados na formação educacional, Dimas continua seu ofício de semeador das culturas produtivas na floresta. Juntando as diversas produções de sua área, ele tem uma renda anual de R$ 19 mil, segundo sua Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). “Não precisa tanta ambição, só para querer enriquecer e acabar com a natureza e sua própria vida”, explica o produtor.

Além do resultado financeiro, Dimas acredita que a sociedade e os governos precisam reconhecer ainda mais a importância dos agricultores familiares. “Algumas pessoas que não têm conhecimento precisam saber que cada colher de alimento vem do trabalhador rural”, afirma. Fico muito satisfeito quando chego nas escolas e vejo nossos produtos na merenda, uma alimentação viva e saudável”.

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