A chuva, companheira constante de padre Paolino Baldassari em suas desobrigas pelos rios e estradas de Sena Madureira, lavou a alma dos fiéis no adeus ao religioso italiano, nesta segunda-feira, 11. Frei da Ordem das Servas de Maria, escolheu o Acre como casa há quase 70 anos.
Lotando toda a área externa da Igreja Nossa Senhora da Conceição, os presentes rezaram junto ao bispo Dom Joaquín Pertíñez, líder da Igreja Católica no Acre. Assim foi dado início à cerimônia de sepultamento do honrado padre, com homenagens dos amigos de sacerdócio, de crianças que lhes entregaram flores e de cada um que, em silêncio, fazia suas preces. “Sem discriminar ninguém, sem excluir ninguém, ele atendia os mais pobres. Os que mais precisavam. Hoje é sua despedida, com a certeza de que descansa eternamente ao lado de Deus, depois de cumprir sua missão”, proferiu Dom Joaquín.
As lembranças durante a cerimônica mostravam a humildade com que padre Paolino conduziu sua vida. O bispo também leu um trecho da carta do frei à Folha de São Paulo, na qual afirmava, em certa época, para as comunidades onde passava, que não gostava de galinha. Ele dizia isso para que as famílias não matassem os poucos animais que tinham, pois existia muita fome nos seringais acreanos.
Com o passar dos anos, Padre Paolino pôde testemunhar o avanço na zona rural, do qual fez parte. O governador Tião Viana lembrou as cartas que recebia dele falando de sua alegria em ver as famílias já prosperando nos últimos anos. “Ele se dizia feliz em ver casas sendo pintadas nas beiras dos barrancos, barcos com motores novos. A imagem que tenho é de seu sorriso alegre. Era como se ele dissesse: ‘Nunca vamos perder a esperança'”, afirmou.
“O que eu quero é dividir com todos aqui a missão de frei Paolino na luta pelos desamparados”, disse o governador, lembrando os mais de 34 mil batismos e mais de 50 escolas construídas pelo padre, várias vezes com suas próprias mãos, como contam as testemunhas. “Pedimos que o Padre Paolino possa nos apontar a construção de um reino onde o que vale é cada um dar sua vida em prol do outro, viver uma cidadania ativa e não só de sermos pessimistas”, testemunhou o padre Luiz Ceppi.
Relembrando que o Acre também teve em sua história um personagem como Chico Mendes, que lutou pela Amazônia e seus trabalhadores, Ceppi antecipou como o religioso ali homenageado continuaria motivando o Brasil: “Padre Paolino ajuda-nos a assumir não só a salvaguarda da floresta, mas também do nosso Brasil tão múltiplo e bonito, de diversas religiões e culturas. Que ele nos ajude também a construir essa semente, que é acreditar na esperança deste reino”.
Quem ali estava, não pôde deixar de se emocionar com a saudade que tantos irão sentir de Padre Paolino. Aqueles que colocavam os últimos baldes de cimento sobre a lápide, faziam-no em prantos, juntando as últimas forças para dar o descanso merecido ao corpo. O túmulo simples, localizado ao fundo da igreja, lembra o de um seringueiro, conforme o pedido do religioso.
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Adeus, Padre PaolinoA emoção percorreu cada momento da cerimônia de sepultamento de Padre Paolino. Com homenagens dos amigos de sacerdócio, de crianças que lhes entregaram flores e de cada um que, em silêncio, fazia suas preces.
Publicado por Notícias do Acre em Segunda, 11 de abril de 2016