Adeus, João Donato

Por Wesley Moraes e Onides Bonaccorsi Queiroz

Um dos mais ilustres acreanos de todos os tempos, João Donato desapareceu da cena musical brasileira e mundial nesta segunda-feira, 17, a um mês exato de completar 89 anos, deixando um legado imenso ao patrimônio cultural do país. Com generosidade rara, definiu: “Não sou rico e nem pretendo ficar rico com o que faço. A finalidade do meu trabalho é alegrar os corações”.

Pianista, acordeonista, maestro, arranjador, cantor e compositor, o menino nascido em Rio Branco percorreu o mundo e conquistou prestígio internacional com sua música “simples, sofisticada e um pouquinho diferente”, como ele mesmo conceituou.

Nascido em Rio Branco, em 1934, João Donato viveu a infância no Acre. Foto: Arquivo de família

Filho de João Donato de Oliveira Filho e Eutália Pacheco da Cunha, iniciou seu contato com o mundo musical ainda na infância, com um acordeão, presente do pai. A valsa Nini foi sua primeira composição, quando tinha apenas sete anos de idade.

Mudou-se para o Rio de Janeiro com a família aos 10 anos. Aos 15, já era músico profissional e integrante do grupo de ninguém menos do que o lendário flautista Altamiro Carrilho. Em 1953, fundou o Donato e Seu Conjunto e, no ano seguinte, criou o Trio Donato.

“Música é bom para qualquer coisa, música e água são indispensáveis”, pensava João Donato. Foto: internet

Despontou nacionalmente com o movimento da Bossa Nova, no fim dos anos 50. Projetou-se também no exterior, morou mais de uma década nos Estados Unidos, caminhou pelo jazz, fez MPB de personalidade única, enamorou-se dos ritmos caribenhos, sem se esquecer do samba, tornando-se um reconhecido fusionista de ritmos.

Ao longo da brilhante carreira, lançou 38 álbuns, o primeiro deles, Chá Dançante, em 1956, e o último, Serotonina, no ano passado. Entre as composições mais conhecidas do público estão A Rã, Caranguejo, Simples Carinho, Nasci para Bailar, Lugar Comum e Amazonas.

O Estado homenageou o artista em 2006, com a inauguração da Usina de Arte, em Rio Branco, referência para a cultura local. Foto: Arquivo/Secom

Atuou com grandes nomes da música, como Dorival Caymmi, Tom Jobim, Gilberto Gil, Paulo César Pinheiro, Sergio Mendes e também Nelson Riddle, Chet Baker e Herbie Mann, entre muitos outros.

João Donato recebeu vários prêmios. Em 2000, ganhou o Prêmio Shell pelo conjunto da obra, em 2003 foi agraciado com o Prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte), e em 2004 venceu o Prêmio Tim pelo disco Emílio Santiago Encontra João Donato. Em 2016, foi indicado ao Grammy Latino de Melhor Instrumental por seu álbum Donato Elétrico.

Apesar de ter ido embora de sua terra natal muito jovem, Donato jamais esqueceu suas origens e afirmava que a base da sua musicalidade era a floresta. A última vez que visitou o estado foi em 2013, quando celebrou 80 anos de vida e apresentou, na capital, o show Donato e a Bossa que Vem do Acre. Na época, também foi um dos convidados do Festival Yawa, em Tarauacá.

João Donato: “A coisa mais perto do céu que existe é a música”. Foto: Arison Jardim

O Estado homenageou o artista em 2006, com a inauguração da Usina de Arte, em Rio Branco, que ganhou o seu nome. O espaço é referência para a cultura local e importante polo de formação artística.

Com seu espírito talentoso, leve, amistoso, elegante, criativo e intenso, João Donato produziu e deixa uma vasta obra, inspirada pela fina percepção que tinha do seu ofício: “A coisa mais perto do céu que existe é a música”.

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