Em Bonal, no Acre, a produtora de abacaxi Underlina Cavalcante dos Santos leva um estilo de vida que define como “bom e estável” para toda a sua família. A fruta que eles cultivam é uma safra de curto prazo, com benefícios imediatos, mas representa somente uma parte do próspero sistema agroflorestal da comunidade, que inclui ainda seringueiras, pupunheiras e outras espécies florestais. As atividades produtivas fazem parte da restauração dos 11 mil hectares de pastagens abandonadas na região.
O Brasil é o segundo maior produtor de abacaxi do mundo, mas os produtores do Acre afirmam que é o investimento no sistema agroflorestal, apoiado pelo Banco Mundial por vários anos, que realmente impulsiona o futuro dessas comunidades.
“Nós plantamos sem degradar a Amazônia”, explica Underlina a um grupo de visitantes. “Salvar a floresta é importante para nós, pois é dela que sai nosso meio de subsistência”, continua a agricultora e extrativista.
“Sustentar a floresta também significa sustentar as áreas urbanas, além de gerar melhores condições de vida para nossas famílias.”
A experiência no Acre promove o renascimento das florestas e beneficia a população local. O estado tornou-se um símbolo de sucesso no controle do desmatamento, na restauração de áreas degradadas e na inclusão econômica. Nos últimos anos, outros países amazônicos começaram a aprender com a transformação do estado.
No primeiro semestre de 2018, o Programa Paisagens Sustentáveis da Amazônia (ASL), financiado pelo Fundo Global do Meio Ambiente (GEF, na sigla em inglês), organizou uma visita ao território acreano para estudar práticas de gestão dos recursos naturais. O Acre tem valiosas lições para governos e empresas sobre como reduzir o desmatamento e, ao mesmo tempo, aumentar o desenvolvimento econômico sustentável, melhorando a qualidade de vida da população local.
Representantes governamentais da Colômbia e do Peru testemunharam em primeira mão o apoio do Banco Mundial ao Acre, por meio do projeto PROACRE, e às comunidades isoladas e marginalizadas, fornecendo serviços de saúde, assistência técnica, ferramentas e matéria-prima para a agricultura de pequena escala e iniciativas de conservação florestal. O resultado pode ser exemplificado pelo número de famílias com planos de saúde, que aumentou de 15%, em 2008, para 78%, em 2017.
O grupo também visitou a já consolidada parceria público-privada “Peixes da Amazônia”, um complexo industrial de piscicultura que gerencia uma das maiores cadeias produtivas do Acre. A COOPEACRE, cooperativa com mais de 3 mil produtores de castanha-do-pará, borracha, palmito e polpa de frutas, apresentou aos visitantes um panorama das etapas de processamento e comercialização, voltadas aos mercados nacionais e internacionais.
A renda nessas comunidades e o PIB estadual aumentaram consistentemente ao mesmo tempo em que o Acre controlou o desmatamento e aumentou o número de áreas protegidas. De 2002 a 2015, o estado cresceu seu PIB em 81%, enquanto a taxa de emprego também cresceu. A receita foi de R$ 2.971, em 2002, para R$ 13.622, em 2015.
“O Acre tornou-se o berço do desenvolvimento sustentável, onde crescimento econômico e conservação da floresta andam de mãos dadas”, avalia a especialista sênior de Meio Ambiente do Banco Mundial, Adriana Moreira.
Um olhar mais profundo para o reflorestamento e o crescimento
A Amazônia abrange nove países, sendo 60% de sua área localizada na região Norte do Brasil. Juntos, Brasil, Colômbia e Peru concentram 83% da floresta em seus territórios.
A maior floresta tropical contínua do mundo é o lar de cerca de 33 milhões de pessoas. A Amazônia também sequestra aproximadamente 70 bilhões de toneladas de carbono, beneficiando todo o planeta.
Uma das espécies locais, as árvores de castanha-do-pará alcançam até 50 metros de altura. Elas podem viver até 500 anos, sugando carbono da atmosfera como um canudo. Sua maior ameaça é o desmatamento.
O rápido plantio de árvores e a manutenção das plantações geram mais oportunidades de emprego e negócios. Na verdade, em todo o Brasil, a restauração florestal poderia ser fonte de novos empregos anualmente, como acontece no Acre. Florestas restauradas também aumentam a renda dos proprietários de terras, ao mesmo tempo em que diversificam os meios de subsistência.
Recentemente, o GEF aprovou uma série de concessões para o Brasil (60,3 milhões de dólares), Colômbia (21 milhões) e Peru (27,3 milhões), com o intuito de fortalecer as áreas protegidas, promover a restauração florestal e aprimorar meios de subsistência.
Em setembro último, oito governadores de estados amazônicos do Equador, Colômbia e Peru assinaram a declaração de Força-Tarefa do Governador para o Clima e Floresta (GCF). O marco prevê o cumprimento dos compromissos da Declaração de Rio Branco, sobre combate ao desmatamento na região e às mudanças climáticas. Os países esperam replicar a experiência do Acre, estado por estado, e compartilhar essa história de sucesso econômico e ambiental.
Fonte: Organização das Nações Unidas