Acre celebra 115 anos de anexação ao Brasil

O dia 17 de novembro de 1903 marcou para sempre a história daquele que seria conhecido posteriormente como o único Estado cujo povo lutou para ser brasileiro: o Acre. Já são 115 anos de história desse pequeno Estado, mas que possui rica cultura e diversidade.

Firmado em Petrópolis, no Rio de Janeiro, entre Bolívia e Brasil, o documento que tornou oficial a anexação do atual estado do Acre ao território brasileiro, selou o futuro do Estado, cuja história é marcada por conflitos de terras em virtude da exploração de látex.

Um pouco de história

Desde a segunda metade do século XIX, o Acre recebeu brasileiros de várias regiões, em especial nordestinos para se dedicar à extração do látex, matéria-prima da borracha, obtido das árvores seringueiras. Embora a região não tivesse despertado até então o interesse boliviano, mesmo sendo considerado território daquele país, as mudanças trazidas pela Revolução Industrial fizeram com que a região do Acre atraísse a atenção do mundo.

Com a borracha sendo empregada em larga escala na indústria, principalmente na fabricação de pneus de veículos, motocicletas e bicicletas, tornou-se inevitável a corrida ao “ouro negro” da Amazônia, já valorizado graças ao incremento da produção de calçados e das exigências do maquinário empregado no processo de industrialização.

Desta forma, em 1898, as autoridades bolivianas deixam de lado a indiferença em relação à ocupação brasileira na região de fronteira e o que antes era relativizado se transforma em conflito internacional.

Em 1899 os bolivianos fundam Puerto Alonso, nome dado em homenagem ao então Presidente Severo Fernandes Alonso. O governo brasileiro não se manifesta, buscando uma posição inerte em relação à questão. Naquele momento, predominava o entendimento vindo do Tratado de Ayacucho, de 1867, onde Brasil e Bolívia entendiam que o Acre era território boliviano.

A inércia brasileira diante do conflito era interpretada por seringalistas e seringueiros como a oficialização do domínio estrangeiro na região, alimentando a primeira insurreição acreana. Em 1º de maio de 1899, cerca de quinze mil brasileiros, sob o comando do advogado José Carvalho e com o apoio do governo do Estado do Amazonas, levantaram-se contra os bolivianos.

Sobretudo, em 14 de julho de 1899, deu-se início à segunda insurreição chefiada pelo jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Arias. Em Puerto Alonso, agora rebatizada como Porto Acre, Galvez hasteia a bandeira acreana, proclamando a criação do Estado Independente do Acre. As autoridades federais brasileiras, ainda buscando respeitar o Tratado de Ayacucho, entendem o gesto como uma invasão territorial à Bolívia e enviam forças para dissipar o Estado Independente.

Assim, em 15 de março de 1900, o Brasil realiza a transição política, cedendo o controle da região à Bolívia.

Conheça a história do Acre visitando o Palácio Rio Branco. O memorial fica aberto ao público de terça à sexta, das 9h às 18h e aos sábados e feriados estaduais e municipais entre 16h e 20h (Foto: Arquivo/Secom)

Bolivian Syndicate

Mesmo com o impasse aparentemente resolvido, um novo capítulo da história – um acordo militar entre norte-americanos e bolivianos envolvendo o Acre – levantou preocupações do governo brasileiro. Em 1901, a Bolívia decidiu arrendar a região ao Bolivian Syndicate, um sindicato de capitalistas norte-americanos e ingleses que acabou por assumir o controle total sobre a região.

Entretanto, para o lado brasileiro, o acordo significava uma ameaça às soberanias tanto da Bolívia quanto do Brasil. As tentativas diplomáticas do Brasil para conseguir a anulação do acordo desencadearam reação imediata das autoridades governamentais em Washington e Londres.

Barão do Rio Branco

Registro histórico da comissão boliviana e Barão de Rio Branco em Petrópolis (RJ) (Foto: Acervo histórico)

No auge do impasse em torno do Bolivian Syndicate, surgiu a figura de José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, à época, Ministro das Relações Exteriores. Ainda considerando o Tratado de 1867, o Barão declarou o território do Acre litigioso com relação ao Brasil e ao Peru, com quem a Bolívia acabara de firmar um tratado para submetê-lo à arbitragem da Argentina.

Buscando a diplomacia para forçar a Bolívia a negociar, o Barão apresentou a proposta de permuta de territórios ou de compra do Acre pelo Brasil, que assumiria o compromisso de acertar-se com o Bolivian Syndicate. Ambas as propostas foram contrariadas pela Bolívia.

Enquanto isso, no Acre, o gaúcho Plácido de Castro dá início a um movimento armado contra a Bolívia, pela posse da região. As tropas bolivianas são derrotadas, e é proclamada, pela terceira e última vez, o Estado Independente do Acre.

Diante desse novo capítulo, General Pando, então presidente boliviano, busca finalmente um diálogo amigável e em 21 de março de 1903, concordou com a ocupação e administração brasileira na região até a conclusão dos termos do acordo que culminaria com o Tratado de Petrópolis, firmado meses depois.

O tratado

Por meio do Tratado de Petrópolis, o acordo garantia que a Bolívia receberia compensações territoriais em vários pontos da fronteira com o Brasil. O governo brasileiro se comprometia a construir a Estrada de ferro Madeira-Mamoré, e preservaria a liberdade de trânsito pela ferrovia e pelos rios até o oceano Atlântico, contribuindo para o escoamento das exportações bolivianas. O documento estabeleceu, ainda, uma indenização de dois milhões de libras esterlinas, a ser paga pelo Brasil.

A Bolívia cederia a parte meridional do Acre, reconhecidamente boliviana, mas habitada por brasileiros, e desistiria da reclamação da outra parte do território mais ao norte, também ocupada só por brasileiros. O Bolivian Syndicate aceitou a rescisão contratual mediante uma compensação financeira de 114.000,00 libras esterlinas, em distrato assinado em 26 de fevereiro de 1903.

Um novo Acre

A educação é um dos setores que mais avançou no Acre nos últimos anos (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

Mais de cem anos depois da assinatura do Tratado de Petrópolis, a população acreana experimenta avanços em todos os setores, valorizando sua cultura e biodiversidade, reverenciando sua história e aprendizados, mas também rumo ao futuro que os acreanos desejam para as próximas gerações.

Confira nossa seleção de matérias que apontam o Acre pronto para o futuro.

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