“O clássico nunca sai de moda”, esse é um bordão muito utilizado no mundo da moda, mas acredito que também descreva com bastante perspicácia a literatura. Mas será que o clássico da literatura é tão valorizado quanto o clássico da moda? Bom, durante minha adolescência eu sempre dizia odiar as grandes obras, até que aos 15 anos li Romeu e Julieta, de Willian Shakespeare e, sinceramente, aquele momento mudou a minha vida.
A partir daquele dia, eu passei a amar os clássicos de Shakespeare, mas ainda rejeitava as obras brasileiras, achava chatas e difíceis de compreender. Porém, tudo mudou quando me caiu em mãos Dom Casmurro, de Machado de Assis. Aquela leitura fez com que os meus olhos se abrissem para um novo mundo de questionamentos mais profundos e complexos, fazendo-me ficar acordada até a madrugada, tentando montar o quebra-cabeça do famoso questionamento: “Capitu traiu ou não traiu Bentinho?” – ressalto que em minha opinião, ela não traiu –.
Admito que ainda acho o clássico, brasileiro ou não, de difícil compreensão, todavia é nisso que se encontra o fascínio de ser transportado para uma nova época, nova cultura, se sentir parte da narrativa, deixar de viver a nossa vida e os nossos sentimentos, para se tornar uma das personagens. Quem nunca sonhou viver um romance com a intensidade de Romeu e Julieta? Ou se imaginou desbravando o mundo como Dom Quixote? Ou sendo tão decidida e forte quanto Elizabeth Bennet em Orgulho e Preconceito, de Jane Austen?
Mais do que imaginar, podemos experimentar sentimentos e emoções até então desconhecidas. Lembro-me de quando li Olhos d’água, de Conceição Evaristo, e, por um certo tempo, me tornei uma das personagens afro-descendentes sentindo a dor do preconceito, da discriminação e da rejeição. E quando me veio A Metamorfose, de Franz Kafka, me senti enojada, tão grande eram as riquezas de detalhes descritos.
Por isso, eu afirmo com certeza que ‘não’, a literatura clássica nunca deixou e nunca deixará de ser atual, nunca ‘sairá de moda’. E é isso que faz essas obras serem classificadas como clássicas, o poder de serem atuais em épocas tão diferentes, o poder de mudar a vida de diferentes gerações. Aqui, faço das palavras de Mário Quintana as minhas: “O passado não reconhece o seu lugar: está sempre presente”.
*Emily Vitória é jornalista, graduada em Letras Português (Ufac) e atua como assessora de comunicação na Secretaria de Estado de Obras Públicas