Com orientação para o crédito, assistência técnica e programa de aquisição da produção da agricultura familiar, ex-diarista se transforma em um dos maiores produtores de hortaliças da região
Quando aos 21 anos Rogevane Silva do Nascimento recebeu um lote de poucos mais 3 hectares no Pólo Dom Moacyr, localizado no município do Bujari, seu sonho era poder ajudar a família que vivia com dificuldades desde que saiu do seringal. Hoje, quase 9 anos depois, ele é um dos quatro maiores produtores de hortaliças da região. Trocou a velha casa de madeira por uma de alvenaria e piso cerâmico, construiu um galpão para produção de mudas, já possui 16 estufas, adquiriu um veiculo para transporte do produto e um minitrator, gera cinco empregos diretos e mais outro tanto indiretos. "Tudo começou com o Pronaf", diz se referindo ao programa de crédito do Governo Federal destinados a agricultores familiares.
Rogevane não perde nenhuma oportunidade para comercializar as hortaliças. Na Feira do Peixe, realizada de 4 a 9 deste mês, no município do Bujari, foi quem conseguiu atender a demanda. Mas seu principal negócio é o fornecimento aos supermercados de Rio Branco. "Quando se consegue se livrar do atravessador, o produtor começa a ver o lucro do seu trabalho", conclui.
Mas o passo principal para o crescimento da produção foi em 2002 quando teve acesso a crédito através do Pronaf. Construiu quatro estufas e já conseguia produzir o suficiente para vender em feiras livres. Em 2004 foi inserido no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Ministério do Desenvolvimento Social, através do Compra Direta, que tem como objetivo a aquisição da produção da agricultura familiar visando atender a demandas de alimentos de populações em risco alimentar.
Em 2008, através do Pronaf Mais Alimentos, no valor de R$ 62 mil, adquiriu um minitrator, construiu um viveiro para a produção de mudas dentro dos padrões técnicos e um galpão para limpeza, seleção e embalagem das hortaliças. No inicio deste ano, 2009, concluiu a construção da casa, um sonho da esposa Claudenice Silva, e a comprou um veiculo com carroceria para o transporte da produção.
A assistência técnica, orientação para acesso ao crédito e a inserção em programas de aquisição de alimentos da agricultura familiar, ações do Governo do Estado, coordenado pela Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), foram decisivos para a ampliação do negócio.
O horticultor aderiu ao Programa de Certificação das Unidades Produtivas Familiares Sustentáveis, inserido na Política de Valorização do Ativo Ambiental Florestal . Praticando agricultura orgânica – um importante ativo ambiental, já que recupera o solo e garante alimentos saudáveis – tem como base de produção, fertilizantes e defensivos naturais.
Quanto a faturamento, o horticultor se recusa a revelar. Segundo explica, é muito conhecido nas redondezas e teme ações de marginais. "Hoje em dia é muito perigoso ficar contando vantagem", avalia.
Um computador, e o acesso a internet, adquiridos recentemente foi decisivo para os negócios. É pela rede que Rogevane Nascimento adquire os insumos como as embalagens para as hortaliças. "Compro direto das fábricas", orgulha-se.
Rogevane aprendeu rápido a utilizar a ferramenta. "Bastou umas dicas da Camila", diz referindo a engenheira agrônoma, Camila Celuta da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) que presta assistência técnica aos agricultores familiares no Pólo Dom Moacyr.
O próximo passo, segundo Rogevane Nascimento, é adquirir um programa que o ajude no controle de vendas.
Preocupação com a qualidade
Para atender as exigências do mercado, o investimento em embalagens adequadas foi decisivo para a ampliação do negócio, mas também o processo de seleção das hortaliças. Construiu um galpão onde o produto é lavado e embalado. Esta atividade é coordenada pela esposa, Claudenice Silva, 28 anos, com a ajuda dos filhos.
"Aqui a gente tira as folhas machucadas, lava, embala e arruma nas caixas para serem entregues no supermecado", explica Claudenice. As embalagens possuem uma logomarca encomendada pelo produtor para identificar seus produtos nas gôndolas dos supermercados.
A implantação de Pólos Agroflorestais começou em 1993, uma opção de trabalho, geração de renda e habitação para as populações que vivem em áreas urbanas de risco no Acre. Seu objetivo é inverter o processo de êxodo rural, promovendo o reassentamento de ex-seringueiros que foram expulsos de suas terras tradicionais pela falência do extrativismo e/ou expansão da pecuária.