Ex-hansenianos já estão recebendo pensão vitalícia, baseada em projeto de lei do senador Tião Viana
O Movimento de Reintegração dos Hansenianos (Morhan) do Vale do Juruá está de diretoria nova. Tomaram posse na manhã desta terça-feira, 31, a coordenadora Eliane Gonçalves da Silva e o vice-coordenador Raimundo Nonato da Costa. Eles assumirão um mandato até novembro deste ano, quando haverá então eleição normal.
Ocorre que a diretoria da entidade estava tendo muitas dificuldades para prestar a devida assistência aos filiados, especialmente por motivo de doença dos coordenadores e problemas de estrutura. Assim, os ex-hansenianos resolveram de comum acordo eleger dois novos representantes com os quais esperam ser mais bem atendidos. Alguma coisa já está mudando: a sede do Morhan que estava via de regra fechada agora está sempre aberta.
A nova coordenadora, Eliane, é técnica de enfermagem e trabalha na área de hanseníase da Secretaria Municipal de Saúde desde 2004. Ela conta que tomou conhecimento do Morhan em janeiro deste ano, quando foi realizado o I Fórum de Hanseníase e conheceu o coordenador estadual da entidade, Elson Dias. A partir de então teve seu interesse aumentado e pode perceber o quanto a entidade pode fazer por seus associados.
O vice-coordenador é o ex-hanseniano Raimundo Nonato da Costa, que não por acaso foi escolhido por unanimidade para compor a diretoria. Acometido da doença, Raimundo ficou internado no Hospital de Dermatologia Sanitária Hernani Agrícola durante quatro anos. Por sua aptidão, foi elevado à condição de enfermeiro, ofício no qual atuou durante sete anos atendendo. Acontece que, naqueles tempos difíceis, as pessoas se recusavam a trabalhar próximo aos hansenianos e assim os próprio internos eram treinados para fazer as vezes de enfermeiro, o que aconteceu com Raimundo.
"Hoje estamos no céu", compara, lembrando-se do preconceito que havia em relação aos hansenianos. "Nem podíamos conversar normalmente com as pessoas." Na função de enfermeiro, Raimundo fazia curativos, levava pacientes a Rio Branco, transportava pacientes entre o hospital e a casa, além de outras atividades.
Hoje Raimundo tem um veículo com o qual presta assistência aos ex-hansenianos e se sente fortalecido como vice-coordenador do Morhan do Juruá para continuar seu trabalho. Ele diz que pretende continuar a luta contra o preconceito, que ainda é forte e ainda faz com que as pessoas procurem esconder da sociedade casos de hanseníase na família, quando o correto é procurar imediatamente o tratamento, que já existe desde 1986.
Raimundo tem sequelas da doença e mostra os sinais nas mãos. Para ele, as vítimas de hanseníase encontram mais segurança quando são abordadas por ex-portadores, o que faz com que se anime em concentrar seu trabalho na diretoria buscando identificação de doentes, a cura, o reconhecimento dos direitos e o fim do preconceito.
Mau uso da imagem – A eleição da nova diretoria do Morhan contou com a assessoria da Central de Articulação das Entidades de Saúde (CADES), entidade que congrega 24 associações atuantes na área de saúde em todo o Estado. A coordenadora da Cades, Verônica Loureiro, acompanhou o processo eleitoral. Ela disse que as dificuldades pelos quais passa o Morhan local são exploradas em atitudes de interesse político daqueles que têm a filosofia do "quanto pior, melhor".
Por outro lado, conta Verônica, o Governo do Estado tem dado apoio ao trabalho da CADES e de suas entidades filiadas, mantendo já há muito tempo uma parceria muito proveitosa com o Morhan.
Pensão vitalícia
O vice-coordenador do Morhan Juruá, Raimundo Nonato, lembra uma boa política feita em favor dos ex-hansenianos: a pensão vitalícia, no valor de dois salários mínimos, para os ex-hansenianos que foram internados e isolados em colônias até o ano de 1986. O autor do projeto original foi o senador Tião Viana em 2006. Quando o projeto estava tramitando no Congresso, o presidente Lula, sensibilizado pela luta do senador Tião Viana e decidido a apressar o processo, editou uma medida provisória, posteriormente transformada na lei 11.520, de 18 de setembro de 2007, que garantiu o direito à pensão aos ex-hansenianos.
Atualmente 12 ex-hansenianos já receberam a pensão e neste mês mais seis serão contemplados. A satisfação entre os contemplados é grande, segundo Raimundo Nonato. Como o pagamento é feito de forma retroativa à data da promulgação da lei, alguns ex-hansenianos estão recebendo uma quantia com a qual não sonhavam.
O senador Tião Viana é destaque na luta contra a doença desde a década de 1980. Como médico, ele cuidou pessoalmente dos internos na Colônia Souza Araújo. No Senado, fez vários alertas e se envolveu na luta para a eliminação da doença no Brasil. Em junho de 2005, a Comissão de Educação do Senado aprovou por unanimidade e em decisão terminativa projeto de lei de sua autoria instituindo o último domingo de janeiro como Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hanseníase. Em março de 2007, ele recebeu homenagem do Ministério da Saúde (MS) por sua luta. A homenagem aconteceu durante o seminário "Resultados e Desafios da Eliminação da Hanseníase no Brasil".