Durante momentos de estado de emergência, como o atual enfrentado pelo Acre, abrigos como os geridos pela união entre o governo do Estado e a Prefeitura de Tarauacá são essenciais para a proteção das pessoas em vulnerabilidade social no município, provendo locais seguros, com alimentação e uma estrutura mínima para a garantia de dignidade durante o momento de dificuldade.
No auge da enchente, Tarauacá encontrou-se 85% afetada pelas águas dos rios Muru e Tarauacá, com o nível da água marcando 11m, frente a uma cota de transbordamento de 9,50m. A população atingida contabiliza por volta de 23 mil pessoas, nos bairros Avelino Leal, Centro, Senador Pompeu, Triângulo, Cohab, Luiz Madeiro, Bairro das Flores e Ipepaconha, com 2.500 moradores deslocados para a casa de parentes e amigos.
Para melhor atender os moradores afetados e sem uma alternativa de moradia temporária, a prefeitura, em comunhão com o governo do Acre, estabeleceu abrigos em cinco instituições de ensino do município. São eles:
- Escola Estadual João Ribeiro, com 154 pessoas;
- Escola Cívico-Militar Plácido de Castro, com 80 pessoas;
- Escola Dr. Djalma da Cunha Batista, com 189 pessoas;
- Escola Municipal Almirante Barroso, com 35 pessoas;
- Instituto São José, com 28 idosos do Lar Novo Hamburgo.
Cada abrigo é coordenado por um profissional da Secretaria Municipal de Promoção Social de Tarauacá, os quais respondem diretamente à titular da pasta, Camila Figueiredo. Ela assegura: “Nos preocupamos com essas pessoas que se encontram vulneráveis e buscamos atender da melhor maneira. Fazemos esse trabalho com o conhecimento das demais enchentes enfrentadas, principalmente em relação aos abrigos”.
Joel Silva é um dos servidores da prefeitura e, durante o período de calamidade pública, está à frente da coordenação do abrigo instituído na Escola Dr. Djalma da Cunha Batista.
Com uma população predominantemente indígena, o abrigo está dividido em blocos, para melhor organização, e garante as principais refeições para todos os atendidos. “Esse é o nosso papel perante a sociedade, contribuindo como servidor público e como ser humano, buscando pelo bem-estar da população”, aponta o profissional de assistência social.
Cuidado com o próximo
Outra pessoa que demonstra dedicação no seu trabalho é Janaína Furtado, coordenadora do Núcleo Estadual de Educação em Tarauacá. Janaína atuou na articulação do provimento de alimentos nos abrigos para a população alagada e com o apoio de demais servidores do núcleo e alunos das escolas, preparando refeições para os acolhidos.
Quanto à ajuda da comunidade em prol dos mais necessitados, Janaína exclama: “Fico impactada em ver algumas mulheres que deixaram seus lares e afazeres para se doarem ajudando ao próximo. Servir é prazeroso. Esse senso de comunidade e ajuda é forte no sangue dos tarauacauenses”.
A atuação da educadora e demais profissionais de ensino mobilizam a sociedade, principalmente em uma cidade interiorana como Tarauacá. E dentro dos abrigos temos o exercício dessa inspiração adquirida dos professores, como por exemplo, os jovens voluntários da Escola Dr. Djalma da Cunha Batista.
Entre eles, a estudante Vitória Marques, prestes a concluir o ensino médio, participa de ações de bondade e fala: “Com essas ações eu me sinto bem e quero dar um bom exemplo, incentivando as crianças, principalmente as mais vulnerabilizadas. Espero que cresçam e tenham a oportunidade de mudar de vida exercendo o bem”.
Sua colega, Ariane Oliveira, iniciante no ensino médio, contribui: “Com essa iniciativa da escola aprendemos a olhar para o próximo. Todo mundo na cidade está passando por um momento de dificuldade e queremos ajudar para minimizar os problemas”.
Já Yasmin Vitória, é formada pela mesma escola e atualmente trabalha em uma clínica de exames laboratoriais. Mesmo longe das salas de aula, continua se engajando em ações sociais, o que aprendeu em sua passagem pelo ensino médio: “Ter tido essa educação diferenciada me inspirou como pessoa. Quero sempre fazer o bem”.
Solidariedade direta
O exercício de altruísmo das jovens impacta diretamente na vida de centenas de pessoas no município, como a da dona de casa e mãe de quatro filhos, Ivonete de Souza.
Já em um local de segurança e pensando na casa e móveis que deixou em seu bairro consumido pelas águas, ela diz: “A coisa que mais me preocupa é a vida, minha e dos meus filhos. Não me preocupo com bens materiais e sim com a saúde. As coisas a gente batalha e conquista de novo, Deus provê”.
Ela também agradece a ajuda que teve do Corpo de Bombeiros para o deslocamento para um local seguro: “Estávamos em muito risco, cercados pelas águas e bichos. Eu tinha medo pela segurança dos meus filhos, mas agora estamos bem e sendo cuidados”.
Já em terra firme, a dona de casa e sua família encontraram acolhimento nas dependências da Escola Estadual João Ribeiro, com mais outras 150 famílias sob a tutela do Estado e da prefeitura municipal.
Famílias ilhadas
Fora dos abrigos, ao navegar pelo Bairro Senador Pompeu, também conhecido por Bairro da Praia, um dos primeiros da cidade a alagar, é possível ver famílias ilhadas pelas águas dos rios.
Uma das famílias é de Edmilson dos Santos, pescador e morador da região há mais tempo que ele consegue lembrar. “Estamos nos virando com o possível e cada ajuda é bem-vinda. Mas vai passar, logo o rio vai baixar”, anseia.
A família tarauacaense encontra no barco usado pelo patriarca no exercício de sua profissão, um porto seguro para manter os objetos de maior valia e um lugar seco para passar as noites, enquanto as águas não saem das dependências da sua casa.
A decisão de construir casas cada vez mais altas e de permanecer em suas propriedades é um comportamento diferente dos demais municípios do Acre frente às constantes cheias. Mesmo com o grande volume de água dentro das casas, muitos não saem, prezando principalmente pelos seus bens materiais.
O terceiro-sargento Evilásio Silva, do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre, corrobora esse fato, o qual observa ao acompanhar diariamente muitas dessas famílias. Ele e seus parceiros de corporação realizam a distribuição de mantimentos de necessidade básica doados pelo Estado e pela prefeitura, assim como fazem a retirada das famílias de áreas de risco.
Motivados pelo lema “Vidas alheias e riquezas salvar”, os bombeiros prestam à sociedade indispensáveis serviços, e durante o período de calamidade isso não seria diferente. A corporação baseada em Tarauacá conta com dezenas de militares, entre eles Evilásio que, nascido e criado em Tarauacá, salva vidas há onze anos.
Quanto à força demandada pelo trabalho, ele aponta: “Durante a atuação temos que ser fortes em todos os sentidos, vemos muitas cenas tristes e somos um potencial de mudança. Estamos preparados para isso e fazemos por amor, buscando sempre fazer a diferença”.
Superação coletiva
Diante da situação desafiadora vivenciada pelos moradores de Tarauacá durante as enchentes, a atuação conjunta entre os governos estadual e municipal se destaca na oferta de assistência às famílias afetadas. Os abrigos desempenham um papel crucial ao proporcionar segurança, alimentação e suporte mínimo para aqueles que perderam o conforto de seus lares devido às cheias.
A superação coletiva em Tarauacá é refletida nos esforços de profissionais e da sociedade civil, que se dedicam para garantir o bem-estar dos desabrigados, enquanto jovens voluntários inspiram-se na solidariedade para ajudar a comunidade, todos enfrentando as adversidades com determinação e amor ao próximo, aspectos essenciais em momentos de calamidade pública.
Em caso de emergência, ligue no número 193 para solicitar atendimento em decorrência das chuvas, e será atendido por um efetivo empenhado para atender às famílias em vulnerabilidade.