Quem observa a imagem do cabo Marcelo Mendes, 35 anos, hoje, de pé, no seu ambiente de trabalho, o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA) da Polícia Militar do Acre, não faz ideia do que ele viveu há quatro anos. Biólogo,
evangélico, esposo, pai, policial militar há 11 anos, ele passou por momentos tão difíceis, que muitos acreditaram que não sobreviveria.
Em dezembro de 2016, ele aproveitava uma licença especial para, juntamente com a esposa, curtir a filha de apenas dois meses, quando se deparou com uma situação em que decidiu agir de acordo com seu dever como profissional da segurança pública: uma tentativa de assalto a uma mulher em meio ao trânsito de Rio Branco, capital do Estado do Acre.
Em uma troca de tiros com os criminosos, foi alvejado por três vezes: no
abdômen, virilha e braço. “Nesse momento, eu olho para o céu e peço para Deus cuidar da minha filha e da minha esposa, que perdoasse os meus pecados e fizesse a vontade Dele, não pedi nada a mais que isso”, conta Marcelo, emocionado.
A partir daí começou uma saga pela sobrevivência. O militar teve hemorragia interna, uma veia ilíaca atingida, perdeu 30% do intestino, passou por vários procedimentos cirúrgicos, além de diversas outras intercorrências (insuficiência renal, pneumonia, adquiriu uma bactéria resistente etc) no hospital. Foram 32 dias de internação, 18 deles na unidade de tratamento intensivo (UTI), na qual chegou a ser o paciente em estado mais grave.
“Eu não conseguia dimensionar tudo aquilo porque estava numa paz tão grande com Deus. Se você perguntar para os meus familiares, eles vão dizer horrores sobre o que passaram, mas para mim, foram momentos que não sei
explicar. Eu nunca questionei a vontade de Deus, o porquê de aquilo estar acontecendo comigo, nem cheguei a me desesperar”, relembra o militar.
O disparo na virilha atingiu também o fêmur, o que o fez necessitar de cadeira de rodas durante três meses. Até hoje faz uso de medicamentos para tratar uma necrose persistente nessa área. Marcelo ainda viajou duas vezes para
tratamento fora do estado, durante o período de recuperação.
“Depois desse acontecimento a minha vida mudou de forma significativa. Hoje sou mais grato a Deus, eu tento aproveitar a vida de forma mais planejada, falar tudo que antes eu não falava para as pessoas, de forma respeitosa e mais amável também, valorizar meus momentos com a minha família. Hoje eu estou vivo, cuidando da minha família, acompanhando o crescimento da minha filha, ao lado da minha esposa. Deus tem cuidado tão bem de mim, que não tenho palavras para agradecer”, finaliza Marcelo.
O desenrolar da ocorrência
Durante a troca de tiros, um dos envolvidos também foi atingido e morreu no local, o outro foi indiciado pelos crimes de tentativa de roubo e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito.
A vítima chegou a procurar o cabo Marcelo para agradecer pela atitude, mas ele preferiu não encontrá-la, por considerar que havia cumprido apenas o seu dever.
Francilene Moura, sargento e jornalista, trabalha na assessoria de comunicação social da Polícia Militar do Acre