Após cinco meses no abrigo estadual Centro Dia, mais uma vez a família venezuelana formada por Mariangel Carolina Alarcon e Miguel Alexander Paredes, mais o filho Abdiel Milán, de apenas três meses de vida, percorre um novo caminho, desta vez mais seguro.
A viagem do casal faz parte do processo de interiorização dos imigrantes que é um programa do governo federal brasileiro. O objetivo é priorizar venezuelanos(as) que estão em situação de vulnerabilidade em algumas cidades do norte do Brasil, como por exemplo, Pacaraima (RR), Manaus (AM), Porto Velho (RO), Assis Brasil (AC) e Rio Branco (AC), tanto em abrigos quanto fora deles. O processo de interiorização é completamente voluntário e gratuito.
O casal registrou o pequeno Abdiel e partiu para o estado de São Paulo na última semana do mês de abril. As passagens foram adquiridas por meio de articulações entre a Secretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Humanos e Políticas Para as Mulheres (SEASDHM) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM). A monitora do abrigo estadual Centro Dia, Hany Cruz, contatou a coordenação do abrigo de migrantes de Guarulhos e o casal já está na nova casa de apoio.
A titular da SEASDHM, Ana Paula Lima, explica que a interiorização dos imigrantes é uma das etapas mais importantes do processo de acolhida e para que haja a implementação gradual da interiorização é necessário o levantamento e priorização das cidades dispostas a recebê-los, com a avaliação de vagas para o abrigamento em instalações públicas e privadas.
O trabalho é feito em parceria como o apoio da Defensoria Pública da União (DPU), que auxilia nas providências relativas à documentação, e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), que realiza a articulação operacional com estados da federação interessados em receber com segurança os imigrantes, além de outros parceiros, como Agência da Organizações da Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e o Projeto Missão Vinde de Campinas (SP), que já efetivou a interiorização de 40 imigrantes.
“É gratificante quando conseguimos fechar um ciclo e saber que contribuímos para a emancipação dessas pessoas que um dia chegaram ao estado bastante fragilizadas pelas situações de vulnerabilidade em que viviam, podendo hoje recomeçar suas vidas”, explica.
Mariangel conta que se sentiu muito bem no Acre, melhor do que esperava e agradece toda ajuda recebida. “Tive meu bebê nesta cidade tão calma, logo quando não tínhamos nada. O abrigo e toda a equipe nos auxiliaram desde o início, agradeço muito o cuidado”, relata.
Miguel também agradece por todo amparo oferecido à família desde a chegada: “Rio Branco é uma cidade acolhedora e tranquila. Agradeço muito a equipe de trabalho que nos ajudou e nos tratou tão bem”, afirma.
Chegar ao Acre não foi uma tarefa fácil
O casal teve o seu primeiro filho no dia 17 de janeiro. Abdiel Milán Alarcon Paredes nasceu na Maternidade Bárbara Heliodora, em Rio Branco.
Mariangel e Miguel se conheceram no Peru em 2019, após saírem da Venezuela em decorrência da situação social do país. Em outubro de 2020, buscaram outro caminho e pediram carona para Assis Brasil, cidade acreana que faz fronteira com o país.
Após chegarem à localidade, percorreram a pé 81 km da estrada até Capixaba, sendo que Carolina já estava grávida de seis meses. Pedindo carona na estrada, conseguiram chegar até Rio Branco. A gestante chegou bem debilitada, com ferimentos nos pés e nas pernas devido à exaustiva caminhada. “Tínhamos fome, não comíamos bem, dormíamos na rua, eu sentia muitas dores nas pernas. Viemos caminhando porque não tínhamos dinheiro”, relatou Mariangel.
O casal entrou em contato com a monitora do Centro Dia, Hany, e imediatamente foi resgatado. Estavam na Praça da Revolução, no centro de Rio Branco, havia dois dias dormindo na rua. Assim que encontrados, foram conduzidos ao abrigo que atualmente é anexo do prédio SEASDHM, porém, como Mariangel estava com algumas dores, foi encaminhada para a maternidade, para realização do exame o pré-natal. A SEASDHM, por meio de doações, montou um pequeno enxoval para o bebê, com roupas, fraldas, kit de higiene e outros.
Atualmente o abrigo Centro Dia acolhe 18 imigrantes que saíram da Venezuela em busca de melhores condições de vida. O abrigo disponibiliza alimentação, segurança, equipe técnica especializada, saúde e apoio socioassistencial. O Estado acolhe também 64 imigrantes venezuelanos indígenas da etnia Warao, na Chácara Aliança, no bairro Irineu Serra, onde estão abrigados desde março de 2021.