O chronos do afago

A palavra chronos tem origem no grego chrónos, que significa tempo. Já se passaram meses desde que o país e o mundo começaram a viver reféns da pandemia, que tem como grande “vilão” a Covid-19 e, durante todo este período, nos mantivemos isolados de nossos familiares e entes queridos, não somente pela nossa segurança, mas zelando por aqueles a quem amamos. É claro que o discurso é belo, e que “de vez em toda hora” o coração aperta com aquela saudade, daqueles que têm o abraço quentinho e consolador nos momentos de crise. E como é difícil lidar com situações semelhantes a esta, sem ter por perto as pessoas que sempre nos apoiaram e foram fundamentais nos dias de luta e de guerra.

É muito comum todos nós em alguns momentos do dia, soltarmos aquele: – Ahhhh quando tudo isso acabar! Quando tudo isso acabar haverá aquele churrasco com os “parça”, a noite “dazamigas”, o cinema com o “crush”, de volta a vida “fitness”, a visita na casa dos avós e dos pais que não se vê desde o início da pandemia e de todos os outros que se apresentam no grupo de risco. Que saudade, não é? De tudo aquilo que era tão acessível e ao mesmo tempo tão bom, pois com o passar do tempo, tudo se torna tão natural a ponto de não termos mais a sensibilidade do quanto os pequenos detalhes da nossa vida e do nosso dia são preciosos. Já pensou? Final de tarde, aquele happy hour com os colegas de trabalho para tirar o estresse do dia, do futebolzinho com os colegas “craques da bola”.

Em tudo que vivemos nesses dias de trevas, de perdas e preocupações, há o dedo do tempo. O tempo em sua definição científica é uma grandeza física, e cria no ser humano a ideia de presente, passado e futuro. Ele define o período em que eventos se sucedem. Nós vivemos sob o domínio do tempo, não é? Tudo para nós é uma questão de tempo, curioso isso. Nós não o valorizamos, mas na falta dele ficamos catatônicos. Logo surgem aquelas indagações: “Quanto tempo isso ainda vai durar?”, “Eu não aguento mais ficar dentro de casa”, “Não vejo a hora disso tudo passar”.

O ser humano não possui estrutura para esperar muito tempo, não possuímos essa qualidade codificada no nosso DNA. Somos impacientes e consideramos a grandeza do tempo de forma equivocada, nos esquecendo de tudo o que ele nos proporciona. O tempo nos fez perceber o grande valor que têm todas as pessoas ao nosso redor, familiares, amigos, colegas, o “próximo”. Nos fez perceber a necessidade de termos empatia e cuidarmos uns dos outros mesmo que a distância, sabendo que as nossas más ações podem trazer consequências a todos.

Depois que tudo isso realmente acabar e o “tempo” trouxer a vacina para livrar a humanidade do mal que a assola e tudo, gradativamente, voltar à sua normalidade sem que se escute mais falar do “novo normal”, entendamos que o tempo fez uma doação da sua grandeza para que refletíssemos sobre a nossa humanidade durante todos esses meses. Que sejamos mais humanos, mais compreensivos e sábios no agir e no falar, que tenhamos mais empatia e mais amor ao próximo.

Albert Einstein disse que “se um dia você tiver que escolher entre o mundo e o amor lembre-se: se escolher o mundo ficará sem o amor, mas se escolher o amor, com ele você conquistará o mundo”.

Todos nós esperamos ansiosamente o fim do isolamento e da quarentena, mas que seja com segurança e que não haja consequências que interrompam vidas. Deixe que o “tempo” se encarregue de resolver tudo, organizar o presente e fazer florescer um futuro, para que, no final, quando pudermos sentir o calor de um abraço cheio de amor, valorizemos a grandeza do tempo, quando ele diz que nada se deixa para depois e, somente nesse momento, saberemos que valeu a pena esperar o “chronos do afago”.


Wellingnton Barbosa é engenheiro civil, tecnólogo em Redes de Computadores e especialista em Administração e Gerência de Redes de Computadores  

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