Chegar à Boca do Icuriã, na beira do rio Iaco, para entregar e garantir a merenda para as aldeias indígenas mais distantes não é tarefa das mais fáceis. Mas o governo do Estado, por meio da Secretaria de Educação, Cultura e Esportes (SEE), não tem poupado esforços para chegar a essas localidades.
No inverno amazônico, quando o rio permite a trafegabilidade, o percurso é feito com barcos apropriados e para chegar até a última Aldeia, a Sete Estrelas, na fronteira com o Peru, são 15 dias de viagem, subindo e descendo o rio. Já no verão, o trajeto é feito por terra, como foi o caso desta verdadeira aventura.
Para chegar até lá, é necessário ir por Assis Brasil e de lá seguir pelo ramal Icuriã, num total de 70 km, 23 dos quais sem quaisquer tipos de manutenções. É preciso contar com a experiência da equipe e, principalmente, com o tempo. Se chover, a formação de atoleiros torna a viagem ainda mais demorada.
Mas esses obstáculos não tem sido barreiras para a equipe da Divisão de Programas Complementares, que por meio da Coordenação de Merenda Escolar, conseguiu levar mais de 9 toneladas de alimentos para 19 escolas indígenas localizadas às margens do rio Iaco na semana passada. Ao todo, mais de 1.500 estudantes foram beneficiados.
O governo do Estado está presente em todos os 22 municípios acreanos garantindo alimentação para mais de 150 mil alunos da rede e a entrega da merenda no Icuriã é uma demonstração do esforço realizado para que todos eles tenham uma educação de qualidade.
Somente na Aldeia Sete Estrelas estudam mais de 140 alunos, distribuídos em 8 turmas dos ensinos Fundamental e Médio. E para Antônio Jerônimo Manchineri, que recebeu a merenda, ela é importante porque as crianças ficam mais alimentadas e, assim, estudam mais.
A mesma percepção tem Francisco Batista Manchineri, da Escola Homhã, na Aldeia Senegal. Lá estudam 22 alunos do ensino fundamental. “Esse apoio do governo é importante para nós aqui da aldeia. Os alunos precisam da merenda para estudar”, completa o líder indígena, Gilberto da Silva, da escola Hotakawu, na Aldeia Água Preta.
“A determinação do governador Gladson Cameli e do secretário Mauro Sérgio Cruz é que nós não poupemos esforços no sentido de garantir a merenda para essas comunidades distantes e isoladas”, faz questão de dizer o coordenador da Merenda Escolar, Samuel Lira.
Uma aventura chamada merenda
Quem pensa que chegar à Boca do Icuriã é tarefa fácil está enganado. De Assis Brasil são 70 km por um ramal que, no inverno, não permite a trafegabilidade. Na entrega da semana passada, um dos caminhões, um F 11000 da década de 80, quebrou a barra de direção. Voltou a funcionar com uma “gambiarra” até o retorno para manutenção. O outro atolou várias vezes.
Neste percurso, o único ponto de apoio é a casa da dona Francisca Nascimento da Silva, moradora da colocação Primavera, que reside no local há pelo menos 16 anos. Quando a equipe da Merenda da SEE foi recebida com um caloroso café. “Todos aqui são bem recebidos”, faz questão de dizer.
Quem lá chega é recebido sempre com um café bem quentinho e com uma comida caseira bem gostosa, o que ameniza a dureza do trajeto. A parada na casa da dona Francisca é praticamente obrigatória.
Um ponto de apoio
A parceria do governo do Estado, por meio da SEE, com a comunidade, é fundamental. Não fosse o apoio e a logística permitidos pelo seu Aldemir Batista de Araújo, a entrega da merenda, neste período do ano, seria muito mais difícil de realizar. É em sua colônia para onde as comunidades indígenas se deslocam para buscar a merenda dos alunos.
Seu Aldemir é homem da terra, literalmente. Aos 60 anos, poucas vezes saiu da localidade. Nasceu na região e poucas vezes vem à cidade. Já chegou a ficar dois anos sem ir à Assis Brasil, o município mais próximo. Em Rio Branco nem lembra a última vez que veio.
Há 20 anos, quando ainda não existe o ramal do Icuriã, seu contato era com o município de Sena Madureira, onde ia apenas no inverno, quando o rio Iaco permite a trafegabilidade. E ao contrário do que se possa imaginar, ele não se sente isolado. “Estou em casa”, comenta.
Não é para menos. Ele vem “na rua” poucas vezes, quando precisa comprar algo que não consegue produzir. E são poucas as coisas que não tem em sua colocação. Desde a criação de gado, passando por porco, galinha, peixe, uma pequena horta, as mais diversas fruteiras, de tudo tem um pouco.