Já imaginou transformar dejetos de animais em energia limpa, gás de cozinha, sem agredir o meio ambiente? Pode parecer estranho a princípio, mas é exatamente isso que o Agroenergia, um projeto piloto do governo do Acre, está levando às comunidades rurais do Estado com a instalação de biodigestores.
Mas o que é um biodigestor? O biodigestor é um sistema composto por tanques de alimentação, semelhantes a uma fossa, que acondicionam os dejetos animais e/ou humanos; fermentador; e o tanque de pós-fermentação. “Nesse processo é retirado o gás metano, tubulado o gás e reaproveitado no fogão ou em motores que geram energia limpa”, explica Rosendo Magalhães, técnico do Projeto Agroenergia.
Atualmente, há instalação de biodigestores em propriedades rurais do Vale do Juruá, Tarauacá-Envira, Purus, Baixo Acre ao Alto Acre, por meio de ações do Agroenergia, executado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens).
Os investimentos para o projeto chegam a R$ 330 mil, com fonte de recursos do Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), de acordo com a Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan).
Segundo dados da Sedens, há 40 biodigestores em pleno funcionamento no Estado, espalhados nos municípios de Assis Brasil, Acrelândia, Brasileia, Cruzeiro do Sul, Rio Branco, Sena Madureira e Tarauacá. Contudo, a Seplan esclarece que apenas 10 fazem parte do Projeto Agroenergia.
“Porto Acre e Manoel Urbano são as próximas cidades à quais pretendemos levar o projeto”, adiantou o biólogo da Sedens Joaquim Clécio Lopes, coordenador do Projeto Agroenergia.
Viabilidade e bom custo-benefício
Além de técnico, atuando na consultoria junto à equipe de governo, Magalhães é um entusiasta da utilização de biodigestores em sua propriedade, localizada no Vale do Juruá.
“Uso na substituição do GLP [Gás Liquefeito de Petróleo] – gás de cozinha – e como energia para bombear água para meus criatórios de peixes. Deixei de criar vacas, por isso pego o esterco no frigorífico e abasteço meus biodigestores. Não gasto mais com gasolina para os motores nem com gás de cozinha”, conta o técnico.
Magalhães observa que a utilização do esterco, que antes ficava no pasto apenas produzindo gás de efeito estufa para atmosfera, agora ganha uma funcionalidade sem agredir o meio ambiente. “Quanto mais a gente aproveitar, melhor”, comenta o técnico.
De acordo com a equipe da Sedens, a maior parte dos produtores do Acre que aderiu ao Agroenergia utiliza o biodigestor como substituto do GLP (gás de cozinha).
Contudo, o coordenador Joaquim Clécio frisa que a proposta é ampliar essa utilização para geração de energia limpa, sendo ainda uma alternativa viável e sustentável para propriedades rurais sem acesso à rede de energia elétrica.
Autonomia para o produtor rural
A proposta do Projeto Agroenergia é tornar o produtor rural sustentável, sem que ele precise do apoio de recursos financeiros do governo.
Para isso, os produtores iniciam a criação de animais como vacas leiteiras ou suínos com apoio de assistência técnica prestada pela Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) e pela Empresa de Assistência Técnica Extrativista Rural do Acre (Emater) e aporte das demais secretarias e autarquias que compõem a cadeia de produção agrícola.
A partir da criação de animais, serão gerados os dejetos que devem ser devidamente encaminhados aos tanques de alimentação do biodigestor. Com isso, gera-se o gás de cozinha e a energia. O descarte do dejeto utilizado no biodigestor torna-se fertilizante do solo, voltando para pastagem e, assim, fechando o ciclo sustentável.
“A vida mostra que precisamos pensar o diferente. Nós, que vivemos na Amazônia, temos que pensar no desenvolvimento respeitando a preservação dos nossos recursos naturais, e esse projeto tem essa visão, pois leva qualidade de vida, ganho na renda e preserva a natureza”, conclui o governador Tião Viana.