Governo garante ações e investimentos nas escolas de difícil acesso

Educação vence todos os desafios para garantir um ensino de qualidade (Foto: Stalin Melo/SEE)

Chegar à Escola Alto Alegre II não é tarefa das mais fáceis. É preciso seguir pela rodovia AC-90 (Transcreana) e, no km 72, entrar no Ramal Jarinal, onde se anda mais 15 quilômetros. Localizada no município de Rio Branco, mesmo sendo considerada “de difícil acesso”, o governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEE), ali realiza investimentos e ações pedagógicas permanentes.

Esta semana, o coordenador de Ensino Rural da SEE, professor Ricardo Oliveira, foi até a escola, com cuja equipe realizou ações de acompanhamento pedagógico, aproveitando para levar também material de limpeza e merenda escolar.

Coordenação de Ensino da SEE está presente em todas as escolas de difícil acesso do estado (Foto: Stalin Melo/SEE)

As mesmas atividades também serão realizadas nas escolas Aderaldo Cordeiro e Canto do Sabiá, também no Jarinal. São 677 estabelecimentos em todo o estado, das quais 428 são rurais. “Fora os anexos de muitas escolas, o que aumenta o número”, afirma o coordenador.

Ricardo explica que a escola rural, em muitos casos, é a única referência que as comunidades têm do poder público. É o caso da instituição do Jarinal, cujo espaço é utilizado para a realização de reuniões, encontro das associações de produtores e até festividades.

Pelas dificuldades que são enfrentadas, sobretudo em relação ao acesso, a parceria com a comunidade é fundamental. Na visita do coordenador, por exemplo, o carro que fazia o transporte do material ficou atolado no meio do caminho. Foi o apoio dos moradores que garantiu a chegada dos produtos até a escola.

Vale tudo para chegar à escola

A Escola Alto Alegre II tem, nos dois turnos de ensino, 85 alunos que estudam no Programa Asas da Florestania e também nas turmas multisseriadas. Há estudantes desde o quinto ano do ensino fundamental até o segundo ano do ensino médio.

De acordo com o professor Valmir Machado, coordenador de ensino da instituição, só não existe terceiro ano do ensino médio porque não há alunos: “Mas o ano que vem vai ter, porque este ano estamos com duas turmas de segundo ano”.

Alunos não medem esforços para chegar à escola e ter acesso a um ensino de qualidade (Foto: Stalin Melo/SEE)

E, para chegar à escola, os alunos utilizam todos os recursos. Há quem vá a pé, de quadriciclo, de moto ou até mesmo de cavalo. Em muitos dias é comum ver os animais “estacionados” em frente à escola.

Ainda há um anexo da escola na Comunidade Oriente, que fica a 20 quilômetros dali. Como o espaço é municipal, há uma parceria entre o governo e a Prefeitura de Rio Branco, que mantém o funcionamento e garante a qualidade da educação na localidade.

Quatro horas de caminhada

Professoras passam a semana toda na Escola e são bem recebidas na comunidade (Foto: Stalin Melo/SEE)

Os alunos enfrentam longos percursos para chegar à escola, o que demonstra o interesse de todos por uma educação de qualidade. Mas não estão sozinhos. As professoras que lecionam na Alto Alegre II também realizam um grande esforço para chegar à comunidade.

Elas têm histórias semelhantes para contar. Andam, desde a entrada do ramal até a escola, 15 quilômetros. Algo em torno de quatro horas de caminhada. Fazem isso uma vez por semana e dividem o alojamento disponibilizado pela gestão escolar.

Laura Vanessa Marques, Camila Cristina dos Santos e Solange de Lima são as mais novas. Chegaram à comunidade este ano, mas dizem estar “adorando” tanto o ambiente de trabalho quanto a experiência de trabalhar em uma comunidade rural.

Já Sandra Helena dos Santos é a mais experiente do grupo. Ela veio de Pernambuco, chegou a dar aula na cidade, mas diz que não adaptou. Na Alto Alegre II, a única dificuldade que relata é sobre o acesso. “Mas aqui temos, além de material, todo o acompanhamento pedagógico”, relata.

Exemplo para a comunidade

Outro grande exemplo para todos os alunos do Jarinal e para a própria escola é a professora Eliene de Oliveira. Ela mora na comunidade e, todos os dias, anda 5 km a pé para lecionar. Conhece todos os alunos e responsáveis, o que facilita no processo de ensino.

Professora Eliene costuma realizar dinâmicas com os alunos (Foto: Stalin Melo/SEE)

Formada em História, ministra ainda aulas de Geografia e Religião. Eliene trabalha com dinâmicas, o que contribui para aproximar os alunos, criar um espírito de colaboração e, também, despertar o interesse pela aprendizagem.

Leciona há quatro anos na escola e afirma que não pretende sair. “Estudei, me formei e agora voltei para a minha comunidade, porque gosto daqui e quero ajudar outros alunos a se formarem e a terem um futuro melhor”, afirma.

Estudo e dedicação

Sandra Helena acredita que os alunos da zona rural, como regra, são mais dedicados e esforçados. Um bom exemplo disso é o João Lucas Souza. Aos 18 anos, está no segundo ano do ensino médio e chama a atenção na escola.

Não apenas pela dedicação aos estudos, o que proporciona orgulho para a sua mãe, mas também pela forma de se vestir – as professoras dizem que é habitual ele ir à escola com “camisa de punho”. “Ele sempre anda bem vestido”, relatam.

Todos os dias, João Lucas usa uma moto da família e ali carrega a irmã, que estuda no quinto ano do ensino fundamental, e a namorada. Estudioso, sua meta é ser médico veterinário. “Também já pensei em ser policial militar. Estou estudando”, diz ele.

João Lucas está no segundo ano do ensino médio quer ser médico veterinário (Foto: Stalin Melo/SEE)

Como nasceu na comunidade, o mais importante para ele é estudar e poder voltar. “Gosto daqui, gosto dos professores, todos são bons, por isso quero estudar e poder voltar e ajudar a minha comunidade”, faz questão de dizer.

História de Luta

Maria Aparecida trabalha na Alto Alegre II como merendeira, onde tem dois filhos estudando (Foto: Stalin Melo/SEE)

No que se refere à luta e à dedicação, João Lucas tem em que se espelhar. Sua mãe, Maria Aparecida de Souza, trabalha na escola Alto Alegre II como merendeira. “Tenho dois filhos estudando aqui”, conta.

Natural do Paraná, ela morou alguns anos em Rondônia antes de vir para o Acre. Na comunidade do ramal Jarinal, ela mora há 22 anos, dos quais três como merendeira da escola.

Além de trabalhar com esmero, preparando a comida dos alunos caprichosamente, explica que por estar perto dos filhos é melhor o acompanhamento deles em sala de aula. “São bons filhos, tenho orgulho de todos, mas quando precisa dou puxão de orelha”, afirma.

 

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