O Quero Ler e as mães que só agora descobrem as letras

Nas turmas do Quero Ler não é incomum encontrar mulheres que precisaram largar tudo no passado para trabalhar e se dedicar à criação e proteção dos filhos (Foto: Alexandre Noronha/Secom)

Quando o governador Tião Viana criou o programa Quero Ler, sua meta não era apenas erradicar o analfabetismo no Acre. Há um sentimento nesse projeto: o de pagar uma dívida moral e histórica que o país tem com a população que não conseguiu frequentar uma sala de aula.

Assim, o Quero Ler é o mais ousado programa de alfabetização de adultos do país. Mesmo com todos os avanços que o Acre conquistou, cerca de 60 mil pessoas em todo o estado não possuem o conhecimento das letras. E é ensinar a todas essas pessoas a ler e escrever o objetivo desse programa até 2018.

Em suas centenas de turmas espalhadas pelo Acre, o Quero Ler reúne adultos, muitos em idade avançada, cada um com grande história de vida. Assim, não é nada incomum encontrar mulheres, mães de família, que precisaram largar tudo no passado para trabalhar e se dedicar exclusivamente à criação e proteção dos filhos.

Incentivadas não só pelo governo, mas também pela família, essas mulheres fazem só agora o caminho que os filhos já fizeram, colocando o livro de ensino e o caderno debaixo do braço e se dirigindo para a sala de aula.

Sebastiana (D) tem o sonho de ler para poder cantar enquanto toca violão (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Sebastiana Carvalho, de 51 anos, é uma dessas mulheres. Ela conta com admiração profunda das duas filhas, uma formada em Assistência Social e outra em Administração. Agora, a senhora que conhecia apenas o alfabeto e cortou seringa por 33 anos no interior, aprende na capital a juntar as palavras.

“Amo estar na sala de aula. Vim para cá e achei ótimo, maravilhoso. Não quero sair daqui enquanto não aprender tudo. Gosto de estudar e quero tocar violão e ler a letra das músicas”, revela.

Em Cruzeiro do Sul, a empregada doméstica Maria José da Costa, de 44 anos, deu um depoimento emocionante de como o Quero Ler aos poucos tem mudado sua vida. Obrigada a largar os estudos cedo para lutar por sua sobrevivência, Maria agora voltou às aulas com muita determinação.

Com 76 anos, criada no seringal e mãe de oito filhos, Raimunda do Carmo é uma das alunas mais dedicadas de sua turma (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Seus dois filhos, universitários, foram os que mais apoiaram que ela fosse para a sala de aula. “Meu sentimento é de conquista. Eu tive filhos muito cedo e tive que criá-los e educá-los. Mas comecei no programa, e ler e escrever é uma sensação muito boa. É algo que eu não quero deixar de fazer. Quero muito mais, quero ir até o ‘final’”, conta a senhora.

Já Raimunda Ferreira do Carmo, de 76 anos, estuda em uma turma de uma paróquia em Rio Branco. Após conseguir a vaga na sala de aula, a senhora, a mãe de oito filhos é uma das alunas mais dedicadas.

“Eu me sinto feliz aqui, porque fui criada no seringal, não sabia nem escrever meu nome. Tinha aquela vergonha. Hoje em dia não. Com a professora aqui, eu já sei assinar meu nome direitinho e ler um pouquinho, já entendo muita coisa. Tinha falado com o padre e ele deixou a gente ficar aqui. Agradeço não só por mim, mas por todos”, conta.

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