Segundo especialistas, a causa principal da discrepância nas emissões se deve ao uso do carburador em quase a totalidade das motos brasileiras
Baratas, econômicas e ágeis no trânsito, as motos ocupam cada vez mais espaço nas ruas das cidades brasileiras. Usadas amplamente como ferramenta de trabalho, guardam em seu porte pequeno uma característica aparentemente inofensiva ao meio ambiente. Mas o que muitos não sabem é que as motocicletas fabricadas no país poluem mais que os automóveis. No quesito monóxido de carbono (CO), um dos gases do efeito estufa, os veículos de duas rodas expelem até 5,5 gramas por quilômetro rodado (g/km), valor 17 vezes maior que o permitido para os carros movidos à gasolina, com índice de 0,35 g/km.
Os limites das emissões de gases das motocicletas foram estabelecidos pelo governo federal em 2003, quando foi criado o Programa de Controle de Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares – Promot. A iniciativa contou com a participação inclusive das entidades representativas da indústria. Inicialmente, para dar tempo às empresas de se adequarem, o patamar máximo de CO expelido era ainda mais alto, de 13 g/km.
Há dois anos, os limites foram revistos e se tornaram mais rígidos, mas, ainda assim, as disparidades continuaram grandes. As motos emitem até 1,2 g/km de hidrocarbonetos (HC), dez vezes mais que os automóveis de passeio movidos à gasolina, com 0,11 g/km. Voláteis, esses hidrocarbonetos formam o ozônio, substância que, em baixas altitudes, causa irritação nos olhos, problemas respiratórios e envelhecimento precoce da pele.
Segundo especialistas, a causa principal da discrepância nas emissões se deve ao uso do carburador em quase a totalidade das motos brasileiras. O sistema é menos eficiente que a injeção eletrônica presente na maioria dos carros. Além disso, a ausência do filtro catalisador nas motocicletas contribui para que elas poluam mais. Elas, entretanto, emitem menos óxidos de nitrogênio (NOx) que os carros à gasolina, com, respectivamente, 0,03 g/km e 0,09g/km.
A evolução mais recente do mercado brasileiro de motos, se comparado com o de automóveis, justificaria o menor rigor sobre as emissões de poluentes das motos. Enquanto o Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores – Proconve, voltado para carros de passeio, entrou em vigor há mais de 20 anos, no início dos anos 80, o Promot foi instituído há apenas quatro anos. "Deve-se destacar a rápida evolução no desenvolvimento de tecnologias de controle de emissões nas motos, já que, há três anos, elas emitiam 15 g/km de monóxido de carbono. Dois anos após o programa, esse número caiu para cinco gramas", afirma o diretor- executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo, Moacyr Paes. Essa redução, segundo Paes, foi alcançada proporcionalmente pela indústria automobilística somente após seis anos de trabalhos.
Estudo confirma ineficiência de veículo – Estudo recente realizado por pesquisadores suíços, publicado no jornal “Environmental Science & Technology”, concluiu que as motos poluem mais que os carros de passeio, na proporção de 16 vezes mais hidrocarbonetos e três vezes mais monóxido de carbono. Ainda segundo o estudo, uma única moto emite mais poluentes do que um veículo utilitário esportivo grande. Além disso, uma moto transporta apenas duas pessoas, enquanto um carro de tamanho médio pode transportar até cinco passageiros. Ou seja, seriam necessárias 2,5 motos em circulação para transportar a mesma quantidade de passageiros em um automóvel lotado.
Uso de catalisador fica a critério do fabricante – Ao contrário dos automóveis – obrigados a sair de fábrica equipados com catalisadores –, a legislação não faz imposições do tipo aos veículos de duas rodas. “É bom esclarecer que a regulamentação não determina quais tecnologias devem ser usadas, mas os limites máximos de emissão de poluentes. Cabe ao fabricante decidir qual usar para atender aos limites fixados”, informa Paulo César Macedo, técnico do Proconve.
Desde 2003, a frota de motocicletas passou de 5,3 milhões para 8,2 milhões, crescimento de 55,5%. Embora não haja obrigatoriedade, o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares – Abraciclo, Moacyr Paes, destaca as iniciativas adotadas pelo setor de maneira espontânea. “A legislação em vigor não exige a instalação de catalisadores e injeção eletrônica nas motocicletas. Mesmo assim, alguns modelos nacionais, superiores a 250 cilindradas, já dispõem dessas tecnologias e alguns modelos de 125 cilindradas também estão desenvolvendo e implantado os sistemas.”
A instalação de novas tecnologias reduziria a poluição nas motos, mas não seria suficiente, já que a regulagem seria aferida somente na porta da fábrica. Macedo destaca a necessidade de implantação, em todo o país, do programa de inspeção e manutenção veicular anual, regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente – Conama desde 1993, mas implementado apenas no Rio, por iniciativa do governo local. Nos demais Estados, diz o técnico, a fiscalização ainda não ocorreu por falta de interesse político, por questões burocráticas ou ainda pela alegada dependência da regulamentação da inspeção de segurança. “Sem dúvida alguma estes programas são necessários para que os proprietários de veículos automotores dêem sua efetiva contribuição na redução da poluição do ar”, diz Macedo.
Fonte: Ong AMDA / O Tempo.
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