Parteiras tradicionais do Juruá aprendem técnicas de reanimação neonatal

Aprendizado. Amor. Dedicação. Crescimento. Alegria. Fortalecimento. Foram essas algumas das palavras utilizadas pelas 27 parteiras tradicionais de Marechal Thaumaturgo para classificar sua participação na Oficina de Troca de Saberes e Experiências tradicionais com o Componente de Reanimação Neonatal, ofertada pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Saúde do Estado (Sesacre) em parceria com a prefeitura do município.

A qualificação, que ocorreu durante a última semana, mobilizou parte da equipe de Saúde do Estado que deslocou-se para Marechal Thaumaturgo, localizada à margem esquerda do Rio Juruá, na foz do Rio Amônia, no Alto Juruá, região isolada do estado onde só é possível chegar por transporte aéreo ou via fluvial.

Técnicas de reanimação neonatal foram ensinadas as parteiras da região (Foto: Cedida)
Técnicas de reanimação neonatal foram ensinadas às parteiras da região (Foto: Cedida)

O saber multiplicador

Parteira, Maria da Glória Soares Gomes participou da qualificação como representante do povo indígena da Aldeia São Sebastião, do Rio Bagé. “Meu povo botou muita confiança em mim quando me escolheu como parteira. Esse curso foi muito bom para mim porque era uma coisa que eu nunca pensei participar. Mas o que a gente tem vontade, a gente pode realizar. Eu realizei esse sonho”, conta Maria Gomes.

A parteira da Aldeia São Sebastião revela que há anos “pegava crianças”, como se referem aos partos que realizam, mas que até então nunca tinha sido qualificada para a atividade que exerce. “Eu pegava as crianças porque era do meu trabalho natural. Mas agora eu tive um bom conhecimento. Agora eu estou treinada para tudo num parto”, comemora Maria.

As participantes receberam do governo kits com material para reanimação de recém-nascidos (Foto: Cedida)
As participantes receberam do governo kits com material para reanimação de recém-nascidos (Foto: Cedida)

Tradição em favor da vida

Emanuelly Nóbrega, gerente da Divisão de Saúde da Mulher da Sesacre, ressalta que esta foi a primeira vez que uma qualificação com troca de saberes envolveu parteiras indígenas. “Isso é de extrema importância porque ao aprenderem a reanimação neonatal, elas serão multiplicadoras de saberes e vão ter conhecimentos para nos ajudar a reduzir, ainda mais, os índices de mortes materno e infantil”, completa a gerente.

As práticas de reanimação neonatal foram ensinadas pela médica pediatra Ana Isabel Montero, coordenadora estadual do Curso de Reanimação Neonatal pela Sociedade Brasileira de Pediatria. “A Sociedade Brasileira de Pediatria tem os direitos autorais desse programa, o único no mundo que expandiu a reanimação para as parteiras. Na Europa e em outros países esse programa é dedicado apenas a médicos e profissionais de saúde”, revela a médica.

Ana Isabel Montero explica que por meio da qualificação ofertada as parteiras tradicionais aprendem como reanimar um recém-nascido em situações de complicações no parto. “É fundamental que elas saibam isso, principalmente por estarem em regiões tão isoladas. E elas aprendem muito bem. Nós passamos nosso conhecimento médico para essas profissionais de maneira simples, porém efetiva. As parteiras que passam por esse curso tem nos ajudado a diminuir o índice de mortalidade infantil”, observa a pediatra.

O professor e terapeuta Bento Marques participou da cerimônia de certificação das participantes do curso representando o gabinete da primeira-dama Marlúcia Cândida. “A cidade estava toda mobilizada. As parteiras me convidaram para voltar em setembro e dar cursos de shantala e automassagem para crianças, jovens, adultos e idosos da região”, adiantou.

Além do certificado, as participantes da qualificação receberam kits para reanimação neonatal, entregues pelo governo do Estado.

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