“Nilda Dantas” é um nome forte no Acre. Praticamente uma marca.
À qual estão agregados muitos atributos: tradição, popularidade, credibilidade, acessibilidade, dinamismo, solidariedade e muitos outros que a comunicadora conseguiu ancorar nos seus 45 anos de carreira.
Começou ainda adolescente, aos 17, na Rádio Andirá, líder de audiência em Rio Branco nos anos 60. O desafio inicial veio com o horário do primeiro programa: às quatro da matina! A moça madrugava e o pai, apoiador, acompanhava-a diariamente até o estúdio.
De saída, enfrentou enorme discriminação por ser uma das primeiras locutoras de rádio no estado. Os machos não perdoavam. E o mais lamentável: nem as mulheres. Por isso, frequentemente Nilda recebia telefonemas anônimos nos quais escutava desde maldosas insinuações até insultos declarados. Composto por homens que se sentiam ameaçados pela sua presença e por mulheres que invejavam o espaço que ela estava conquistando, o coro dos incomodados trazia, por baixo da melodia contundente, uma pergunta precisa: “quem você pensa que é para querer ter voz?”
Nilda Dantas Pires – é a resposta. Uma pessoa cuja força e presença nem mesmo o conservadorismo cruel dos anos 60 conseguiu deter. Aos poucos, foi aprendendo o ofício e se apropriando do seu lugar ao sol. Soube atrair seu público e angariar um batalhão de ouvintes e admiradores.
Para além da mesquinharia alheia, ela simplesmente seguiu o seu caminho fazendo o que queria, com profissionalismo. E deixou os faladores comendo poeira.
Chegou à Rádio Difusora Acreana em 72. Hoje, testemunhá-la em ação é uma experiência enriquecedora. O domínio que a mulher tem do seu fazer é encantador. No ar, fala com o espectador com firmeza e intimidade, chama as músicas, oferece-as, nomeia seus ouvintes, cumprimenta-os, manda recados bem-humorados, enquanto se comunica discreta e intensamente com sua fiel escudeira de estúdio, Zuleide.
Nilda ajuda seu público, e muito. Sua mesa de trabalho é forrada de cartas, bilhetes e anotações. Pedem que ela anuncie toda sorte de eventos. E que solicite os itens mais inusitados. Como o quê? Esposas que não sejam muito gordas, móveis, próteses, cadeiras de rodas… Ela não se faz de rogada. O apelo vai ao ar de imediato e sai com a determinação que lhe é própria:
– Gente, eu quero essa cadeira ainda hoje, tá?
A prova de seu carisma é que ela consegue obter “quase tudo” o que solicita em seu programa. E, também por conta disso, faz, há mais de quatro décadas, vínculos de amizade e gratidão no estado todo.
Num intervalo de seu programa matinal, recebe, por exemplo, a visita de uma dessas pessoas que lhe querem bem. É dona Maura Barros, moradora da Base e ouvinte de longa data, que vem lhe trazer uma palma de bananas. “Para ouvir rádio tu não precisa parar de trabalhar. Eu ouço o rádio e vou fazendo as minhas coisas”, explica ela, em tempos que os cibernautas se consideram absolutos.
Mas mesmo a “musa do rádio acreano” também gosta de nadar em outras praias. Que o seu talento é um leque. Na TV, já foi apresentadora e atualmente é entrevistadora no programa “Fala, Secretário”, da TV Aldeia. Em suas incursões literárias, publicou dois livros de poemas e cursou faculdade de Letras. Na arte, ainda, atuou em oito peças teatrais e canta.
Aos 62 anos, ouve a palavra “aposentadoria” com estranhamento. Sua testa se franze e ela, cheia de energia, parece perguntar: “Como assim?”
Não foi por acaso que Nilda Dantas se tornou uma referência na história da comunicação do Acre.