“O Brasil precisa de nova estratégia de desenvolvimento baseada na ampliação de capacitações e de oportunidades. Não há um dogma para mostrar o caminho. O caminho tem de ser desbravado experimentalmente, e esse experimentalismo não precisa ser inventado, ele já existe. Veja o Acre. O Acre é a única parte do país que optou para incorporar-se ao Brasil, para ser parte do Brasil. E o Acre é um Estado experimentalista dentro do país.”
A surpreendente declaração acima, divulgada em vídeo nas redes sociais, é do ministro de Assuntos Estratégicos do Brasil, Roberto Mangabeira Unger, um dos mais preparados intelectuais do nosso tempo, professor da Universidade Harvard, dos Estados Unidos, desde o início dos anos 70.
O ministro disse ter visto “grandes experimentos” na economia e na educação do Acre:
“Na economia para a Amazônia sem floresta eu vi lá uma nova indústria de peixes em cativeiro em que o governo se associa com cooperativas de pequenos produtores. Já não é mais aquele extrativismo artesanal, é uma produção técnica e científica. Na Amazônia com floresta eu vi uma nova indústria da castanha que ajuda a manter a floresta em pé e assegurar que a floreta em pé valha mais do que a floresta derrubada.”
Quanto à educação, disse que o Acre experimenta programa avançadíssimo “que não existe nem nos países mais ricos do mundo”. Ele se referiu ao Instituto de Matemática, Ciências e Filosofia, onde estudantes da rede pública com vocação para o estudo avançado desenvolvem experiência na ponta avançada da matemática, das ciências naturais e das humanidades.
“Este experimentalismo acreano – declarou – é necessário para todo o país. É isso que eu quero para todo o Brasil: a generalização e o aprofundamento do experimentalismo para construir uma estratégia de desenvolvimento capacitadora e produtivista.”
Nascido no Rio de Janeiro em 1947, com quatro meses viajou com o pai alemão para os Estados Unidos, permanecendo até os 11 anos de idade. Após a morte do pai, de infarto, voltou para o Brasil, onde fez o ensino médio no tradicional no Colégio Santo Inácio e se formou em direito na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Continuou seus estudos na Universidade Harvard.
A trajetória acadêmica e política do ministro é luminosa. Em 1971, tornou-se um dos mais jovens professores da Universidade Harvard. Sua obra de filosofia, teoria social e direito é citada por intelectuais do porte de Jurgen Habermas, Richard Rorty, CuiZhiyuan e Perry Anderson. Para este último, Unger é “uma mente filosófica do Terceiro Mundo que vira a mesa para se tornar um sintetizador e profeta do Primeiro Mundo”. Na década de 1980, tornou-se membro vitalício eleito da Academia Americana de Artes e Ciências, considerada uma das mais prestigiadas instituições dos Estados Unidos.
O ministro atua na política brasileira desde a década de 1970. Em 13 de janeiro de 1971, sua irmã Nancy, ex-militante do PCBR, foi incluída no grupo de prisioneiros políticos libertados e banidos do Brasil, em troca da libertação do embaixador suíço Giovanni Bucher, que havia sido sequestrado por membros da Vanguarda Popular Revolucionária.
Em 2007, após ter sido um crítico do primeiro mandato do presidente Lula, passou a integrar o ministério do governo federal de outubro de 2007 até junho de 2009 como ministro de Assuntos Estratégicos. Em 2008, antes de assumir a coordenação do Plano Amazônia Sustentável, declarou:
“Quem acha natural que o desenvolvimento da Amazônia seja assumido por um Ministério do Meio Ambiente simplesmente não entende que a Amazônia é mais do que uma floresta. Um Ministério de Meio Ambiente carece dos instrumentos para lidar com todos os muitos problemas de transporte, energia, educação e indústria que são necessários para formular e implementar um programa abrangente de desenvolvimento”.
Em 2009, Unger deixou a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) para retornar às atividades em Harvard. Em fevereiro de 2015, foi novamente convidado a chefiar a SAE no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
(Este texto contém informações colhidas na Wikipédia – Google)
Elson Martins é jornalista