Curso Técnico em Agroecologia

Escola da Floresta oferece atividade de alto padrão para jovens do Acre

O Governo do Acre possui uma nova proposta de desenvolvimento investindo em mudanças no modelo de utilização dos recursos naturais. (Foto:Assessoria IDM)
O Governo do Acre possui uma nova proposta de desenvolvimento investindo em mudanças no modelo de utilização dos recursos naturais. (Foto:Assessoria IDM)
O Governo do Acre possui uma nova proposta de desenvolvimento investindo em mudanças no modelo de utilização dos recursos naturais. (Foto:Assessoria IDM)

O Governo do Acre possui uma nova proposta de desenvolvimento investindo em mudanças no modelo de utilização dos recursos naturais. (Foto:Assessoria IDM)

Sempre que ouvimos falar em Educação Profissional, em cursos técnicos, logo vêm à cabeça os cursos mais comuns: informática, corte e costura, cabelereiro, eletricista; porém a Educação Profissional vai muito além dos cursos ligados diretamente a serviços.

O Governo do Acre possui uma nova proposta de desenvolvimento investindo em mudanças no modelo de utilização dos recursos naturais. A partir daí se tornam necessários profissionais aptos para atuar na construção dessa nova realidade, promovendo um desenvolvimento sustentável.

Dentro dessa perspectiva, cursos como o Técnico em Agente de Desenvolvimento Comunitário com habilitação em Agroecologia, ofertados pelo Governo do Estado do Acre, por meio do Instituto Dom Moacyr, são essenciais. Para melhor entendermos o porquê do investimento do Estado na formação deste profissional é preciso, primeiramente, conhecer a realidade do Acre.

Acre: o urbano e o rural

De acordo com as estatísticas oficiais do IBGE, 33% da população acreana seria rural/florestal e os outros 67% da população, urbana. Porém, considerando que o método de análise do IBGE para chegar a tais dados são somente as definições dos limites de perímetro urbano dos municípios e o pagamento do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), esta forma de análise não permite enxergar o Estado como de fato é. Se a análise for feita através da densidade demográfica (Relação entre a população e a superfície do território, expressa em habitantes por quilómetro quadrado) o Acre se apresentará muito mais rural/florestal do que as estatísticas propõem: 42% da população do Acre seria rural/florestal (90% dos municípios acreanos se enquadram nesta classificação).

Partindo do pressuposto que o Acre possui uma grande porcentagem de população que vive na zona rural, é preciso que as políticas públicas estejam voltadas para atender as necessidades desta população, respeitando suas peculiaridades e ao mesmo tempo procurando reduzir as diferenças entre o rural e urbano.

Neste contexto é criado pelo Governo do Acre o Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico Sustentável do Estado do Acre (Proacre). O Proacre é um programa do Governo Estadual voltado principalmente às populações rurais/florestais, que procura contribuir para a melhoria de sua qualidade de vida, tendo como prioridade aquelas localizadas em zonas com maior isolamento, maior fragilidade ambiental e onde o acesso a serviços básicos de saúde e educação é mais difícil.  O programa visa à inclusão social associada ao desenvolvimento econômico comunitário.

A população rural/florestal do Acre: realidades

Hoje a Escola da Floresta é referência nacional para a produção sustentável (Foto:Assessoria IDM)
Hoje a Escola da Floresta é referência nacional para a produção sustentável (Foto:Assessoria IDM)

Hoje a Escola da Floresta é referência nacional para a produção sustentável (Foto:Assessoria IDM)

Após o declínio da extração da borracha (principal atividade econômica até o início da década de 1970), o extrativismo dá lugar aos empreendimentos agropecuários, com grande imigração de pessoas do Sudeste e Sul. Com a queda constante do extrativismo, aumentou-se proporcionalmente a agricultura temporária e a atividade pecuária desenvolvida em pequenas propriedades.

De acordo com dados do IBGE, 84% dos estabelecimentos agropecuários do Estado são classificados como familiares, onde o trabalho e os empreendimentos são realizados pelas famílias. De acordo com estes dados fica clara a relevância destes estabelecimentos dentro da cadeia produtiva acreana, tornando-se necessário investir em suas potencialidades.

Atualmente, a agricultura no Acre é basicamente de subsistência. Sendo que o abastecimento de alimentos depende muito de outros estados. A criação de Sistemas Agroflorestais (SAFs) pode ser apontada como o caminho para uma agricultura mais sustentável na Amazônia, reduzindo desmatamentos e queimadas.

O investimento na agropecuária familiar potencializa o desenvolvimento local sustentável, com autonomia para o território e suas populações. A agricultura familiar possui grande potencial na geração de renda e na otimização do uso dos recursos naturais, como a produção limpa, por exemplo.

Das potencialidades, ainda pouco exploradas, surge a necessidade de um profissional qualificado para trabalhar com esta realidade: o técnico em Agente de Desenvolvimento Comunitário com habilitação em Agroecologia.

O curso de Agente de Desenvolvimento Comunitário com habilitação em Agroecologia e a Escola da Floresta

Este curso foi elaborado a partir da II Oficina de Educação Profissional para o Desenvolvimento Sustentável organizada pela Secretaria de Educação e Esportes, em 2003. Participaram da oficina 33 entidades, públicas e privadas, as quais identificaram uma grande carência de técnicos que trabalhassem com agricultores familiares. A partir daí estabeleceu-se a criação do Curso Técnico em Agroecologia para a Escola da Floresta Roberval Cardoso, do Instituto Dom Moacyr (IDM).

A proposta do curso consolidou-se em 2005, quando a Escola da Floresta iniciou sua primeira turma. A Escola da Floresta Roberval Cardoso foi contemplada com o curso por oferecer alto padrão de qualidade em suas atividades e também por há alguns anos ter passado por uma reestruturação.

“A Escola, antigo Colégio Agrícola, antes trabalhava nos moldes da Revolução Verde, com uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos. A partir de 1999, com o Governador Jorge Viana, começou a transição deste modelo para o sustentável, que visa trazer para a produção a lógica de funcionamento da floresta. Esta reestruturação consolidou-se no Governo Binho Marques, que também investiu bastante para as melhorias do setor da agricultura no Acre. Agora, no Governo Tião Viana, tem-se recebido um incentivo muito forte para a área da piscicultura, que até então tinha seu potencial pouco explorado”, conta Irailton Lima, Diretor-Presidente do IDM.

Hoje a Escola da Floresta é referência nacional para a produção sustentável. Destaca-se que ela prima pela oferta de cursos em período integral, oferecendo moradia aos educandos, o que faz com que a aprendizagem aconteça todo tempo, todos os dias.

Segundo o técnico em Agroecologia José de Araújo, de Assis Brasil: “O internato na escola nos dá a oportunidade de convivermos com pessoas diferentes, de cidades diferentes. Aprendemos muito com as pessoas, com as suas diferenças e trocamos ideias. Muito marcante essa experiência”, conta ele.

“O que me marcou muito no período do curso foi a convivência com os colegas do curso que são todos de cidades do Alto Acre e a forma como a Escola da Floresta trabalha a teoria e a prática, mostrando as experiências que já deram certo nas propriedades rurais e nos incentivando ao apoio técnico aos produtores rurais”, afirmou a técnica Flávia Santos de Melo, de Brasileia.

No currículo do curso os educandos estudam temas relacionados a várias áreas do conhecimento: sistemas agroecológicos, desenvolvimento sustentável, sistemas orgânicos de produção, certificação de produtos agroecológicos, recursos naturais, legislação, clima, energias alternativas, ferramentas de gestão, sociologia rural, ação social, economia solidária, associativismo e cooperativismo. Além disso, os educandos realizam estágio por meio da própria escola, para colocarem em prática o que aprenderam.

Desde 2005 até hoje a Escola da Floresta já formou várias turmas de técnicos em agroecologia, sendo que a última obteve certificação no último dia 4. São técnicos que passam a integrar o mercado de trabalho, possibilitando a produção de renda pelas comunidades rurais.

Atuação do profissional

O técnico em agroecologia é um profissional diferente, pois não surge espontaneamente devido aos aprimoramentos do modelo econômico já existente, mas devido à necessidade de se realizarem mudanças neste modelo.

Esse profissional, dentro das diretrizes em que se ancora a Política de Desenvolvimento Sustentável do Estado do Acre, através do Proacre, realiza várias atividades, todas com objetivo final de promover a construção de sociedades mais justas e sustentáveis.

“O Agente em Desenvolvimento Comunitário é o elo entre as comunidades e as políticas públicas estaduais e municipais, com o objetivo de organizar e fortalecer os grupos comunitários, acompanhando e aprendendo com os produtores rurais”, Diz Francisco de Assis Silva, Coordenador Técnico em Agroecologia da Escola da Floresta. Assim, este profissional atuará na implantação de sistemas de produção sustentáveis (extrativistas, agroextrativistas, agropecuárias, agroflorestais, criação de pequenos animais, animais silvestres). Sua função é procurar sempre o melhor aproveitamento dos recursos locais. Ele detecta problemas e potencialidades e propõe soluções palpáveis a cada região. Procura promover a independência de cada propriedade, tornando-a autônoma em relação a insumos externos.

Para atingir os objetivos de seu trabalho, o técnico em agroecologia precisa fazer papel de educador, e não de repassador de tecnologias, mesmo porque no desenvolvimento sustentável não existe uma fórmula pronta para a produção. Ele precisa envolver as pessoas com quem interage no processo de construção do conhecimento, procurar responder questionamentos e dúvidas, porém sem criar um vínculo de dependência, atuando de forma libertadora.

Por exemplo, em uma comunidade onde os produtores realizam queimadas após a colheita para retirar o mato e as ervas daninhas, o técnico vai apontar os prejuízos que esta prática traz em longo prazo e propor outras medidas, como o cultivo de uma planta chamada mucuna, que impede o crescimento de ervas daninhas e ainda aduba o solo.

No Estado do Acre os profissionais certificados como Agentes de Desenvolvimento Comunitário com habilitação em Agroecologia têm sido muito solicitados para trabalhar no governo e também por empresas privadas. “Já  formamos muitos técnicos em agroecologia e mesmo assim o mercado continua carente deste profissional. Eles foram chamados para trabalhar em diversos órgãos do governo como na Secretaria de Estado de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), por exemplo. Devido a esta demanda o IDM realizará um processo seletivo ainda este ano para compor mais duas turmas para iniciarem ano que vem”, afirmou Irailton Lima.

Na última formatura de técnicos em agroecologia, no dia 4 deste mês, o Senador Aníbal Diniz declarou: “Não faltará trabalho para estes novos técnicos formados na Escola da Floresta, os diplomas do IDM são de muita qualidade. Além disso, esse curso atende aos anseios do governo, que é o desenvolvimento sustentável São grandes os investimentos do Governo do Acre, e com certeza vamos aproveitar os diplomados do IDM”, discursou o senador.

Para Flávia Santos de Melo, técnica em agroecologia pela Escola da Floresta formada na última turma “o curso foi uma oportunidade muito grande que tive para poder ajudar minha comunidade e para me desenvolver mais e melhor. Vou poder ajudar outras comunidades também, ajudar levando políticas novas, novas experiências, novas ideias e novos projetos”.

Compartilhe:

WhatsApp
Facebook
Twitter