Governador entrega PDCs a cinco comunidades e autoriza plano de manejo madeireiro
Dentro de um pequeno auditório, em Xapuri, cerca de 100 seringueiros, lideranças e autoridades viveram algo histórico. O tempo de lutas e empates foi sepultado e hoje a cidade vive uma época em que governantes, outrora contrários, obrigam a preservar a floresta. Mais do que isso: entregam recursos à comunidade para que ela execute, em conjunto, o que apontou como prioridade para o desenvolvimento sustentável das famílias. O sentimento entre os que presenciaram o momento era um só: a morte de Chico Mendes não foi em vão e ali estavam colhendo frutos da semente que ele plantou em vida.
Na tarde de sexta-feira, 29, o governador Tião Viana, o senador Jorge Viana e o prefeito de Xapuri, Ubiraci Vasconcelos, todos carregadores das bandeiras que Chico levantou, entregaram aos seringueiros cinco Planos de Desenvolvimento Comunitário (PDCs) para associações da Reserva Extrativista Chico Mendes. Também autorizaram o primeiro plano de manejo florestal comunitário da Resex Chico Mendes para 18,7 mil hectares e anunciaram a abertura de 12 quilômetros de ramal dentro da resex. Os deputados estaduais Astério Moreira e Manoel Morais, os superintendentes do Ibama e do Incra, Diogo Selhorst e Taumaturgo Neto, respectivamente, participaram da solenidade.
Esse é um momento feliz, mas é necessário lembrar que para chegar até aqui tivemos a infelicidade de perder o nosso líder e outros companheiros. Nada que se consegue cai do céu sem que haja um preço. Foi muito sacrifício, muito esforço, mas valeu a pena”, disse Raimundo Mendes de Barros, o seringueiro Raimundão, companheiro de Chico Mendes.
Raimundão fez menção ao Partido dos Trabalhadores, que teve seu embrião no Acre gerado por Chico Mendes e Luís Inácio Lula da Silva. “Os frutos estão aí. Esses planos de desenvolvimento, de manejo, tudo isso só é possível acontecer hoje porque criamos mecanismos políticos que nos permitiram chegar até aqui. A gente não pode esquecer que o momento que o Acre vive hoje é consequência das escolhas que esse grupo começou a fazer no passado. Não podemos nos enganar nem entregar o Acre a quem não tem esse compromisso”.
O senador Jorge Viana lembrou que o Acre inventou a resex. “Inventou porque não queria o modelo de São Paulo e de outros estados que poderia servir para eles, mas não servia para nós. O que teve que se adaptar não foi a floresta e o seringueiro, foi a política, as linhas de crédito, as ações de governo. Essa foi a nossa luta. Eu não tenho nenhuma dúvida de que o Chico estaria muito feliz ao ver esse momento”.
Todas as conquistas de Xapuri, desde as dificuldades dos tempos de Chico até hoje foram lembradas pelo prefeito Ubiraci Vasconcelos. Avanços como a formação superior de professores que hoje ensinam nas comunidades florestais mais isoladas até a patrulha mecanizada doada pelo Incra que está permitindo o melhoramento dos ramais dentro da floresta.
Comunidade diz, Governo faz
A Secretaria de Meio Ambiente (Sema) é a principal responsável pela elaboração dos planos, ao lado da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof), Secretaria de Floresta (SEF). O Instituto de Terras do Acre (Iteracre) e outros órgãos de governo também fazem parte da articulação. Os projetos são elaborados para financiamento pelo Programa de Inclusão Social e Desenvolvimento Econômico e Sustentável do Acre (Proacre).
As comunidades que receberam os PDCs foram Maloca, São Pedro, Dois Irmãos, Rio Branco e Filipinas. Os planos são elaborados pela comunidade com o auxílio de secretarias de Estado e nele são apontadas as melhorias que cada grupo comunitário julga necessário para o crescimento econômico e social. Em Xapuri, as cinco comunidades receberam R$ 482 mil e 219 famílias foram beneficiadas diretamente.
Segundo o secretário da Seaprof, Lourival Marques, os recursos são investidos em recuperação de áreas alteradas, reforma de armazéns, construção de viveiros, casas de farinha, compra de máquinas e implementos agrícolas. “O governo entrega hoje quase meio milhão de reais nas mãos das comunidades. A produção sustentável é um dos principais eixos desta gestão e esse é um exemplo de como o produtor familiar, o extrativista são prioridade para o governador Tião Viana”, disse.
Manejo garante renda de R$ 13 mil para as famílias em dois anos
A Secretaria de Floresta autorizou manejo de 18,8 mil hectares de terra, dentro da Resex Chico Mendes, para a Associação Amoprex em Xapuri. “Nós entendemos que é preciso fazer uma defesa da floresta, mas é igualmente preciso que essa floresta gere renda para as famílias que ela abriga e dê aos moradores qualidade de vida. Por isso temos um conjunto de ações que garantem a execução desse plano e um exemplo disso são os ramais” explicou o secretário de Florestas, João Paulo Mastrângelo.
Os planos de manejo florestal madeireiro garantem às famílias uma renda de R$ 13 mil pelo período de dois anos, que é o tempo de execução do plano autorizado.
“Somados o manejo, o extrativismo e todas as atividades econômicas que o morador da reserva tem, é uma boa renda para a família, porque só com o manejo madeireiro ele tem R$ 13 mil durante estes dois anos. É isso que compõe a nossa política ambiental, a garantia que a floresta seja cuidada e preservada, mas também garantia de que as populações tradicionais são atendidas com ações de governo que oferecem condições dignas de trabalho, habitação, acesso a saúde, que tem sido levada através do Saúde Itinerante e do Proacre”, disse o governador Tião Viana.
Na sexta-feira os seringueiros viram uma inversão de papéis. “Geralmente as associações chegam até o Governo para pedir e hoje é o dia de receber”, disse, com a voz embargada, o líder da Amoprex, a Associação de Moradores da Resex, Sebastião Aquino. Ele, que parou o discurso por três vezes para engolir o choro emocionado, fez questão de falar aos companheiros sobre a importância histórica do momento. “Hoje é dia de celebrar estas grandes conquistas”, disse.
Galeria de imagens