Governo do Estado, TCU e Denit debatem especificidades da construção civil no Estado
Se a brita, um dos insumos básicos utilizado na construção civil, inclusive em pavimentações de estradas, custa R$ 60 em várias regiões do Brasil, no Acre esse valor é de R$ 160 e pode chegar a R$ 800 em Cruzeiro do Sul, segundo maior município acreano, de acordo como presidente da Federação das Indústrias, João Salomão. O rigoroso inverno amazônico, com chuvas em mais de 200 dias por ano, é um dos agravantes que impede o andamento das obras da BR-364. Mesmo com todas as dificuldades e as previsões de que ela nunca seria concluída, apenas 85 quilômetros separam hoje o sonho da realidade nessa obra que é uma das mais importantes do Acre.
Por todas as dificuldades postas para a construção da estrada em plena Amazônia e dotada de um solo de tabatinga que dificulta ainda mais todo o trabalho, a BR-364, última fronteira rodoviária do Brasil, é alvo de críticas e incompreensões. Os custos diferenciados muitas vezes fizeram com que a obra fosse colocada sob suspeita. Para aproximar quem libera o recurso (governo federal), quem executa (governo estadual) e quem fiscaliza a aplicação dos recursos (Tribunal de Contas da União), o governador Tião Viana propôs o Seminário Obras de Infraestrutura no Estado do Acre.
“Queremos dirimir as dúvidas e colocar todos para olhar de frente um para o outro. O desafio é o respeito às obrigações de cada um e a responsabilidade de entender as especificidades que o Acre apresenta. Construir essa estrada é uma saga, e o Acre precisa dela. Em Cruzeiro do Sul, por conta do isolamento, um quilo de tomate custa hoje R$ 10. Em Rio Branco o mesmo tomate custa R$ 1,4. Isso é um exemplo de como a estrada vai melhorar a qualidade de vida da população que mora ao longo da estrada e nos municípios que ela atende”, disse o governador Tião Viana.
“Conseguimos avançar muito, com esforço imenso e contando com importantes parcerias. Tivemos sempre um apoio muito grande do Denit, do Ministério dos Transportes, da coordenação do PAC”, disse o diretor do Deracre, Marcus Alexandre. Em 1999 faltava executar 445 quilômetros da BR-364 e 204 quilômetros da BR-317. Hoje a BR-317 está totalmente pavimentada e apenas 85 quilômetros separam o sonho da realidade para o fim da pavimentação da estrada que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul.
O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Benjamin Zymler, ressaltou a importância de uma fiscalização colaborativa: “Somos órgãos públicos com um interesse público no meio do jogo, que é a vontade e o benefício da população. Queremos que os recursos sejam aplicados de forma adequada e essa colaboração do governo do Estado ajuda no andamento das obras”, explicou.
Complexa logística de insumos e equipamentos
A falta de um rio que saia de Rio Branco até Cruzeiro do Sul dificulta ainda mais a construção da estrada. Além de falta de logística para o transporte de insumos, são mais de 50 pontes ao longo da BR e, a transposição de todos os cursos d’água aumentam os desafios, pois as regiões ao redor de rios e igarapés apresentam solos ainda mais frágeis. Entre Sena Madureira e Feijó são 16 mil metros de bueiros, uma quantidade muito grande se comparada a estradas em outras regiões, segundo Marcos Alexandre.
Os altos índices de chuvas – aproximadamente 210 dias por ano – não facilitam a obra. Em 2009 o inverno amazônico rigoroso permitiu somente 63 dias de trabalho, embora a estrutura tenha sido preparada para trabalhar quatro meses.
O seixo, uma das matérias-primas utilizadas na obra, vem da fronteira com a Colombia, a 3.409 quilômetros fluviais e 35 dias para percorrer o caminho. Foram transportados 40 mil metros cúbicos do insumo de 2009 para cá.
A conclusão da rodovia vai impactar a vida de 80% da população do Acre, diminuindo aproximadamente 50% do custo da cesta básica para a população que reside a partir de Manuel Urbano.
"Como empresário, posso dizer que não há superfaturamento", afirma Narciso Mendes
Na parte da tarde deste primeiro dia de seminário foi realizado o debate com a participação dos empresários e gestores presentes ao encontro. O momento foi de ouvir os representantes das construtoras sobre a situação das obras no Acre, dificuldades, desafios e avanços. Um dos depoimentos que marcou o debate foi o do empresário Narciso Mendes. Ele, que já fez oposição política ao governo da Frente Popular do Acre, disse que as denúncias de superfaturamento que ele acusava tinham cunho político, mas que não condiziam com a realidade.
"Como empresário do ramo da construção civil sabia como funcionava o processo de custo diferenciado das obras no nosso estado. Quantas vezes eu acusei de superfaturamento a obra da BR-364, mas naquela época eu era militante político e fazia o papel de oposição. Agora que voltei para o ramo da construção civil e me afastei da política, posso dizer que nunca houve superfaturamento das obras. Hoje eu vejo como é preciso trazer mais recursos para as obras de infraestrutura do Acre", defendeu.
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Números da BR-364
20 lotes de obras para 2011
3 mil trabalhadores diretos
1,4 mil equipamentos mobilizados
R$ 1,038 bilhão de investimentos (governo federal e estadual){/xtypo_rounded2}
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