Vanda e Homero: crônica do reencontro

Homero logo vestiu a camiseta que ganhou da mana Vanda (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Homero logo vestiu a camiseta que ganhou de presente da mana Vanda (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Jovialidade é algo que não tem tanto assim a ver com idade. Mas como um modo de ser que se renova a cada momento, mesmo diante das dificuldades. Assim é Vanda Dantas de Vasconcelos, 82 anos: leve, alegre. Parece menina.

Quem a observa não é capaz de imaginar o drama íntimo que atravessou ao longo de sua história. “Minha vida daria um livro”, conta. Nascida no Seringal Petrópolis, em Sena Madureira (AC), sua mãe, índia, morreu no parto e seu pai entregou-a para o dono da propriedade. Foi criada por esse pai-avô adotivo, que mais tarde vendeu suas terras e mudou-se com toda a família para Belém. Depois, Vanda ainda morou em Fortaleza, onde chegou a viver em colégio interno. Mas foi em Olinda (PE) que se casou, teve filhos, oito, e estabeleceu sua vida.

Ao longo de tantas décadas, silenciosamente carregou um vazio no peito: o sentimento de rejeição por parte de seu pai e de isolamento da família consanguínea, pois sabia que tinha um irmão. Pesava-lhe o fato de que seu genitor, mesmo sabendo onde ela se encontrava, não a procurou. Com uma ponta de mágoa, lembra: “No dia do meu casamento, ele me mandou um telegrama. E só.”

Ocorre que seu filho Ricardo absorveu essa bagagem emocional e também levava um sentimento de desconexão com as raízes familiares maternas. Por isso, há 20 anos iniciou, sozinho, a busca do tio. Procurou e procurou, sem sucesso.
Enfim, dois ramos da família Dantas se uniram (Foto: Diego Gurgel/Secom)
Enfim, dois ramos da família Dantas se uniram (Foto: Diego Gurgel/Secom)

Foi apenas há dois anos que entrou em contato, por meio de rede social, com um amigo de infância residente no Acre, Edevaldo Tavares, coronel da PM como ele, e pediu auxílio. Divisão de inteligência acionada, foram iniciadas as investigações, executadas por Alcinete Gadelha e Reinaldo Borges, que se comprometeram de bom grado com a “Operação Encontro”, como nomearam o caso. E puderam celebrar a localização de Homero da Silveira Dantas, 81 anos, junto com os dois ramos da família, em seu encontro oficial no último dia 6, na Secretaria de Segurança do Acre. O próprio titular da pasta não escondeu sua satisfação pessoal: “Foi com um sentimento humanitário que nos empenhamos nessa tarefa”.

Sempre próximos um do outro, irmão e irmã eram só sorrisos. Homero serenamente expressava seu sentimento de gratidão e contentamento, bem ao modo reverente da cultura tradicional acreana: “Para Deus nada é impossível”.

Presenciaram o encontro, além da família de Homero e da imprensa local, quatro filhos e duas noras de Vanda, vindos de Recife e Vitória especialmente para testemunhar o resgate afetivo e histórico do clã.

Fizeram parte das comemorações visitas e almoços nas casas de familiares, que mais pareciam velhos amigos, de modo que já foram agendados os próximos encontros, lá e cá. Também fizeram uma visita à colônia onde Homero vive, em Assis Brasil. Vanda olhava ao longe e murmurava: “Parece um sonho”. Um sonho que pulsou muito, muito tempo em seu coração.

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