Sua presença é leve e bem-humorada. Mas, ao longo de seus 82 anos, Vanda Dantas de Vasconcelos sempre carregou um misto de anseio e aflição: conhecer sua família e reconectar-se à sua origem. Foi essa a peça que sempre faltou em seu mosaico pessoal. E dela guardava uma única pista: tinha um irmão que morava no Acre.
Nascida no Seringal Petrópolis, no município de Sena Madureira (AC), na década de 30, sua mãe índia morreu no parto. E o pai biológico, José Luiz Dantas, a entregou para adoção. Seu novo pai-avô ficou sendo Fabriciano Hoyos, dono do seringal onde o genitor da menina trabalhava como guarda-livros, como eram chamados os contadores antigamente.
Mais tarde Hoyos vendeu sua propriedade e mudou-se para Belém, com toda a família. Depois Vanda foi enviada a Fortaleza, para a casa de parentes, mas acabou ficando em um colégio interno. Já mocinha, mudou-se para o Recife. Ali conheceu o “bonitão” Praxedes, com quem se casou e teve oito filhos. Hoje tem 24 netos e 18 bisnetos.
Um dos filhos, Ricardo, internalizou a ausência que pesava no coração da mãe: o desejo de reencontrar os consanguíneos. Havia anos que buscava os parentes. Até que, como coronel da PM de Pernambuco, contatou um amigo do Acre, o também coronel Edevaldo Tavares, que pediu auxílio à Diretoria de Inteligência da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
A “Operação Encontro” demandou dois anos de investigação e foi basicamente realizada pelos servidores Aliete Gadelha e Reinaldo Borges. Apresentou vários obstáculos pela falta de documentação, mas as dificuldades foram superadas pelo empenho da dupla e pela comunicação boca a boca.
“Na hora em que percebi que tinha encontrado a família do seu Homero, fiquei tomado de emoção”, relata Reinaldo. E Aliete atenta para outro aspecto importante do processo: “Foi um resgate histórico também. As circunstâncias da separação e do reencontro são parte da nossa história”.
Primeiro chegaram até a neta, depois ao filho e depois ao irmão de Vanda: Homero da Silveira Dantas, um ano mais novo. Seu filho, Francisco de Assis, conta que a princípio chegou a ficar assustado com o telefonema da Sesp, informando sobre a ponte feita entre os irmãos. Mas a família foi absorvendo a notícia com alegria.
Homero foi criado pelo pai e conta que ele sempre falava da filha que morava no Nordeste. Mas nunca viu a irmã sequer em foto, ao longo dessas oito décadas.
O encontro oficial foi marcado nesta quinta, 6, no gabinete do titular da Sesp, Reni Graebner. “Localizar pessoas é parte do serviço de segurança pública. E foi com um sentimento humanitário que nos empenhamos nessa tarefa. Foi de todo o coração”, disse, durante a confraternização entre os vários membros das duas famílias que ali se reuniram.
Com seu sotaque recifense, cercada de quatro filhos, duas noras e diversos repórteres que queriam conhecer a sua história, dona Vanda expressou o tamanho do seu contentamento com sotaque recifense: “É demais”. Seu Homero não deixou por menos: “Isto é maravilhoso, uma grande satisfação. Precisa nervo pra suportar!”