Em sessão extraordinária na manhã desta quinta-feira, 8, a Assembleia Legislativa do Acre anulou a cassação do mandato do primeiro governador do Acre, José Augusto de Araújo. O ato completa hoje 50 anos. A cerimônia, repleta de emoção, contou com a presença da família do ex-governador, do governador em exercício Roberto Barros e de dezenas de autoridades, que fizeram questão de presenciar a correção de um erro histórico perante a democracia acreana.
José Augusto foi eleito pelo povo do Acre após a elevação de Território a Estado. Ainda assim, seu governo durou apenas dois anos, quando aconteceu o Golpe Militar de 1964 e o capitão Edgar Cerqueira Filho tomou o controle do Estado, cassando os direitos políticos do então governador. José Augusto deixou o Acre com a mulher, Maria Lúcia Araújo, imediatamente após o golpe e foi para o Rio de Janeiro. A partir de então, a vida se tornou extremamente difícil para a família. José Augusto teve quatro infartos e morreu antes de completar 41 anos.
“Nesse momento estamos entregando ao povo, principalmente aos jovens, o mandato do governador José Augusto. Não deixem nunca que uma ditadura volte. Não foi só a minha família atingida, mas muitas em todo o Brasil; algumas não sabem onde estão os corpos dos seus parentes até hoje”, disse Maria Lúcia, sem conter as lágrimas.
Valorização da democracia
O governador em exercício afirmou que o cancelamento da cassação e devolução dos direitos políticos de José Augusto é uma correção histórica. “O governo tem a honra de estar presente a esta solenidade, que repara nossa história. José Augusto era um idealista que fez muito pelo Acre, e agora a Aleac corrige um erro do nosso passado”, ressaltou.
Para a filha de José Augusto, a procuradora Nazareth Araújo, a lembrança do pai remete principalmente às dificuldades que a família passou após ida para o Rio de Janeiro. José foi perseguido pelo governo militar. Tinha que se apresentar em auditorias no Pará, e numa delas teve um ataque cardíaco. “Nesse momento, minha mãe [que recebera a notícia grávida no Rio de Janeiro] fez uma promessa: se meu pai me conhecesse, eu me chamaria Nazareth”, lembrou a procuradora.
O deputado estadual Eduardo Farias foi o autor do requerimento de anulação da cassação. Uma ação mais que necessária para ele: “Não queremos a reposição dos direitos políticos de José Augusto simplesmente para a família, mas para o povo acreano”.