Unidade de ensino já foi exclusiva de elite nos anos 70 e 80, hoje democratiza vagas por meio de sorteio
A Escola Infantil Menino Jesus completa nesta quinta-feira, 19, 60 anos de existência. Construída no governo Guiomard Santos e inaugurada no dia 19 de novembro de 1949, faz parte da história educacional do Estado e se constitui no primeiro estabelecimento de ensino voltado para a educação infantil.
A história da escola Menino Jesus está ligada à professora Maria Tereza Pessoa Fontes da Silva que durante 26 anos esteve à frente de sua direção. Ela é, portanto, responsável em tornar a escola uma referência estadual nesta faixa de ensino. Por sua localização privilegiada e qualidade de ensino a escola tem suas matrículas disputadas por sorteio, forma democrática de atender a demanda superior à oferta, fugir de rótulos de escola elitizada e atender a todas as camadas sociais.
São 365 vagas distribuídas em sete salas de aulas com média de 27 alunos cada em dois turnos. Os alunos egressos do primeiro período têm vaga assegurada para o segundo período e de lá já saem com matrícula garantida na rede municipal de ensino desde que a educação infantil foi municipalizada após parceria firmada com o Estado há dois anos.
A democratização na distribuição de vagas decorre da mentalidade e metodologia contemporânea, pois nem sempre foi assim. A professora Isa Melo conta que até 1975 a clientela da Escola Infantil Menino Jesus era privilegiada e se constituía da nata da sociedade acreana. "A democratização na adesão às matrículas, só teria ocorrido na década de 70 e início de 80".
Uma das muitas histórias sobre a escola infantil Menino Jesus era narrada pelo professor e ex-governador Geraldo Gurgel de Mesquita: "Certa manhã de um dia qualquer do ano de 1977, o então sexagenário Dr. Amador Aguiar, dono do poderoso império Bradesco visitava o Acre. Eu era governador e ele tinha clara pretensão de comprar o Banacre, na época um grande um grande canteiro de obras". Mesquita se disse arrependido por não ter vendido. "Teria evitado o vilipêndio imposto à nossa instituição,a sua falência e por fim, seu fechamento".
Ele continua a carta: "Com a minha negativa, ele se voltou em direção à Escola Menino Jesus e propôs: Então governador, me venda àquela escolinha. Dou dez outras escolas em troca. É aqui, neste pedaço da sua cidade, que será o futuro centro financeiro do Acre. E diante da minha resposta "Nem pensar", se despediu e foi procurar outro ponto da cidade onde construiu em Rio Branca a filial do seu rico Bradesco".
Esse é apenas um detalhe de um acervo rico na história da Escola Infantil Menino Jesus que foi berço educacional da maioria das pessoas ilustres de Rio Branco. O depoimento do Juiz Rivaldo Guimarães nos dá a dimensão das mudanças ocorridas no sistema educacional infantil da época até os dias atuais.
"Aos seis anos de idade, desconfiado e arredio como um índio arrancado do seu habitat fui matriculado no Jardim de Infância Menino Jesus. Muitas tentativas e alguns "convencimentos" à base do chicote de goiabeira foram necessários para me manter na sala de aula."
Na revista comemorativa aos 50 anos de fundação da Escola Infantil Menino Jesus a diretora Maria Tereza deu um depoimento emocionado. "Estou na escola Menino Jesus a três década. Só como diretoria são 23 anos (três anos depois se aposentou) e considero aqui minha segunda casa, pois passo mais tempo com alunos e colegas de trabalho que com minha família".
A escola recebeu uma reforma geral na administração do governador Jorge Viana. Já sobreviveu de donativos dos próprios pais de alunos para custeio da merenda escolar das crianças. Hoje devido à parceria com o município, o Estado é responsável apenas pelo corpo funcional. A história da Escola Infantil Menino Jesus irá perdurar e a cada 50 anos sua história será recontada com novos fatos que, por certo, irão enriquecer sua história.