Seminário debate construção rodoviária na Amazônia

Carta de Rio Branco irá propor normas técnicas que levem em consideração características da Amazônia, como o rigor das chuvas, logística de insumos e diferenciação de custos

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Seminário reúne gestores, engenheiros e técnicos (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Numa iniciativa pioneira no Brasil, o Governo do Estado abriu nesta sexta-feira, 28, no auditório da Federação das Indústrias do Acre o 1º Seminário Sobre Construção Rodoviária na Amazônia, evento que busca debater os desafios de se construir realizar obras de pavimentação rodoviária na região amazônica. Entre os debatedores, representantes de instituições especializadas em pavimentação, órgãos públicos, de fiscalização e controle externo. Estiveram presentes o secretário de Planejamento do Acre, Gilberto Siqueira; o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura Aeroportuária do Acre (Deracre), Marcos Alexandre; o diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit) Miguel de Souza, representante do Ministério  dos Transportes no seminário; o presidente do Conselho de Desenvolvimento Sustentável do Acre e ex-governador Jorge Viana; Tião Fonseca, presidente do Sindicato dos Engenheiros do Acre, e José Ricardo Tavares Louzada, secretário geral do Tribunal de Contas da União (TCU) no Acre, além de empresários, gestores públicos e privados, estudantes e interessados.

De acordo com Marcos Alexandre, a Amazônia segue normas de pavimentação geradas a partir da realidade do Sul do País. O seminário é uma oportunidade de avaliar essa questão. "Chamamos pessoas de todo o Brasil para participar desse debate", disse. Com este primeiro seminário sobre o tema, o Acre deflagra um debate de interesse nacional acerca da construção de rodovias na Amazônia. O Estado possui duas regiões distintas sob a ótica da pavimentação – o Vale do Acre, onde os solos são mais antigos e resistentes, e a região do Vale do Iaco até o Vale do Juruá, no trecho entre Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, onde há séria complexidade de logística para se asfaltar uma rodovia, no caso específico, a BR 364.

"Nesta região temos diferenciais que tornam complexa pavimentação, como os insumos, que vem de longe, além da janela hidrológica que impõe um regime de verão curto e questões ambientais, entre outros fatores, os quais elevam os custos e tornam difícil a execução dessas obras", disse Miguel de Souza, do Dnit.

"Há anos estamos tentando mostrar ao Brasil a epopéia que é se fazer obra rodoviária na Amazônia e em especial no Acre. Aqui não dá para fazer uma rodovia boa ou ótima, somente mais ou menos e com manutenção constante", disse o ex-governador Jorge Viana.

Para o presidente do Sindicato dos Engenheiros do Acre, o seminário é uma grande oportunidade de se debater as diferenças regionais pela ótica da engenharia. "Além de tudo, é uma iniciativa louvável em que a engenheira é convocada a ajudar no desafio de se fazer uma rodovia nesta região", afirmou Tião Fonseca, que representou também o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea). O secretário Gilberto Siqueira lembrou que o Acre está em um novo contexto geopolítico no América do Sul por conta da Estrada do Pacífico, obra exposta em painel.

Visita de campo na BR-364 mostra a realidade do desafio

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Diretor Presidente do Deracre, Marcos Alexandre, acompanhou a equipe (Foto: Sérgio Vale/Secom)

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Antes do debate, participantes conheceram o tamanho do desafio na BR 364 (Foto: Sérgio Vale/Secom)

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Técnicos do TCU acompanharam a visita à estrada (Foto: Sérgio Vale/Secom)

E como parte da programação do 1º Seminário Sobre Construção Rodoviária na Amazônia, o Governo do Estado, através do Departamento de Estradas de Rodagem, Hidrovias e Infraestrutura Aeroportuária do Acre (Deracre), promoveu uma visita de campo ao trecho da BR 364 ao KM 40 no município de Manuel Urbano. Há seis frentes de trabalho para fazer o asfaltamento de Sena Madureira a Feijó, um trecho de 226 quilômetros, onde os desafios de sucedem em fazem da obra uma das mais complexas para a engenharia e a logística de custos. De 2007 a 2009 o Deracre calcula investimentos de R$ 933 milhões no trecho.

Participaram gestores públicos, como o consultor federal de controle externo do Tribunal de Contas da União (TCU), Rafael Jardim, e especialistas como a professora Laura Motta, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O grupo partiu de Rio Branco às 7h30, com primeira parada na ponte do rio Iaco, em Sena Madureira. A ponte José Nogueira Sobrinho foi praticamente reconstruída numa operação de manutenção que durou mais de sete meses. O Governo restaurou completamente a estrutura, que vinha sendo destruída pela corrosão, e o tabuleiro, que era de madeira e provocava sérios problemas. Além disso, tinha de passar por uma reforma total todo ano. Foram feitos serviços de melhorias na estrutura metálica, o que trouxe mais segurança para seu uso.  O custo da reforma foi de mais de R$ 5 milhões. A ponte José Nogueira Sobrinho foi construída em 1984 durante o governo de Nabor Júnior e tem 182 metros de extensão. Seu nome presta homenagem ao ex-prefeito de Sena Madureira, e o equipamento faz a ligação do rio Iaco à BR-364.

No canteiro da construtora Camter, a três quilômetros do centro de Sena Madureira, o diretor-geral do Deracre, Marcos Alexandre, apresentou alguns pontos do projeto de asfaltamento da BR 364, obra incluída no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e que atualmente mantém, apenas em pontes, dez frentes de trabalho. No ano passado, o governador Binho Marques inaugurou a ponte sobre o rio Caeté, que no verão é pequeno, mas durante o período de chuvas apresenta grande alagação. Por isso, a ponte tem 210 metros de comprimento.

Para atender a uma disposição do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (Dnit), o Deracre determina que os cortes não superem  6% do nível do solo, o que faz com que em muitos sejam atingidos os lençóis freáticos. É necessário fazer um dreno para rebaixamento do lençol, o que demanda brita e manta bedin, ambos materiais importados de outras regiões. A brita viaja mais de 400 quilômetros até chegar a seu depósito e dali é levada em carretas para as frentes de serviço, o que eleva as distancias.  Na grande parte dos trechos há presença de solo expansivo, a popular tabatinga. No trecho da BR 364 entre Tarauacá e Cruzeiro do Sul, já asfaltado, engenheiros desenvolveram a técnica do envelopamento, que aproveita a própria tabatinga na recomposição do solo.

"A gente vê que é algo complicado", observou Laura Motta, professora de pós-graduação em pavimentação da UFRJ. "Acho o seminário uma iniciativa louvável do Governo do Acre. A gente pode ver de perto o desafio de se construir uma rodovia desse porte na região", disse Rafael Jardim, do TCU. Para ele, trata-se de uma oportunidade de os vários atores envolvidos debaterem a questão. "O TCU está atento a estas características, peculariedades da região", completou o consultor.

Ao final do seminário, os participantes irão referendar a Carta de Rio Branco, em que serão condensadas as propostas de normas, sistemas e tecnologias para pavimentação na Amazônia.

Chuvas intensas podem comprometer cronograma

As pontes ao longo da BR 364 desde Sena até Cruzeiro do Sul estão sendo construídas por decisão política do Presidente Lula a partir da necessidade apresentada pelo Governo do Acre.  Essas obras não devem sofrer solução de continuidade mesmo com as chuvas que caem sobre a região. Muitos projetos tiveram de ser readequados, a exemplo da ponte sobre o rio Jurupari, cuja cheia deste ano cobriu os pilares de sustentação. "A lâmina de água chegou a dois quilômetros", disse Fernando Moutinho, engenheiro do Deracre que realizou sobrevôo pela rodovia em helicóptero durante o mês de abril passado.

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Entre os desafios da engenharia de estradas na Amazônia é o clima: chuvas prolongadas dificultam andamento das obras e o acesso pela estrada (Foto: Sérgio Vale/Secom)

Ao trafegar pela rodovia e perceber as dificuldades da implantação da estrada, muitos motoristas consideram a obra um grande desafio: "Acho o governador Binho um herói porque isso aqui não é mole não", disse Sandro Mazzola, que saiu de Manuel Urbano, onde trabalhou como cobrador, para viajar de moto a Rio Branco. No entanto, o cronograma dos serviços de terraplanagem e asfaltamento estão comprometidos.


Galeria de imagens

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