Foram dois anos de curso de teatro intensivo, com aulas de música, cenografia e interpretação ministradas por professores de vários lugares do Brasil
 A lenda do jacaré foi uma das primeiras peças produzidas pelo grupo (Foto cedida) |
A arte do teatro está consolidada no imaginário mundial desde a Grécia Antiga e mesmo após milênios não perdeu nem um pouco a sua magia. Pelo contrário, só cresceu. E foi o poder dessa magia que fez com que em 2007, a Usina de Arte João Donato levasse a frente um ambicioso projeto, o de um curso de teatro intensivo e com profissionais do Brasil inteiro, que após dois anos chega ao fim, trazendo para o Acre como "festa de formatura" o espetáculo "Levantado do Chão", tão grandioso que não traz apenas os alunos de teatro, mas de música e artes plásticas também.
A formação da turma de teatro foi eclética, a Usina de Arte recebeu alunos com experiência, pouca experiência ou nenhuma experiência. E nesse meio tempo eles foram se preparando. "É óbvio que um curso de 2 anos não forma uma pessoa, ele dá uma base prática e teórica, e ao finalizar o aluno tem como prosseguir e decidir que tipo de teatro ou que tipo de música ele deseja fazer", explica Clarisse Baptista, coordenadora geral da Usina.
Foram oferecidas várias oficinas e uma leva de espetáculos de artistas nacionais e internacionais que encantaram não só os alunos do curso, mas todos os acreanos. O Grupo de Teatro Ventoforte, o Piolin e o Giramundo Teatro de Bonecos foram algumas das grandes atrações vindas para dividir suas experiências de palco com todos nós. Fez parte da formação desses alunos acompanhar o trabalho de todos esses grupos. Isso os ajudou muito a visualizar que tudo que eles estavam aprendendo está presente no trabalho de outros grupos também.
Suor e dedicação
Todas as áreas possíveis do estudo do teatro foram oferecidas. Corpo, voz, cenário, interpretação e improvisação foram temas de muitas das oficinas realizadas, mas esse é um ensino que vai além do óbvio, que necessita de técnicas que parecem não fazer parte do meio, mas que no fim ajudam muito no crescimento do artista, e com isso eles também tiveram aulas de capoeira, música, dança e coreografia.
As oficinas oferecidas tinham em média 40 horas e duravam duas semanas. As menores tinham 20 horas e duração de apenas uma semana. A leva de conhecimentos práticos e teóricos foi enorme. Foram dois anos muito intensos, pois enquanto em escolas particulares de arte os alunos têm aula de cada temática 2 ou 3 vezes por semana, na Usina de Arte esse foi um processo muito denso, eram aulas todos os dias, dedicação exclusiva e uma superação de limites para alunos e professores.
Hoje, os alunos têm condição de fazer a apreciação de um espetáculo, da qualidade, tanto no aspecto da interpretação, cenografia, figurino e tantos outros, pois eles aprenderam essa capacidade durante as oficinas. Para um ator não basta simplesmente ler um texto, ele tem que ter uma boa expressão corporal, expressão vocal, tem que cantar em cena, tem que ter todo um trabalho sobre o texto em termos de criar, compreender, ter leituras teóricas, interpretar. A formação de um ator é muito complexa, e a tendência é que um conhecimento complemente o outro.
Aonde chegaremos?
A Usina de Arte ofereceu uma gama de conhecimento para esses alunos. E agora, depois de dois anos, cada um poderá escolher a sua linguagem, decidir se optará pelo trabalho corporal, ou textual, se atuará, ou se trabalhará na direção, cenografia, figurino. São diversas opções que todos os alunos depois de conhecê-las, poderão definir sua dedicação. Cida Falabella, atual coordenadora do curso de teatro diz que, "não é simplesmente formar atores, mas formas artistas, pessoas com a visão de que a arte e a cultura são essenciais para o desenvolvimento de um estado".
O projeto da escola de arte da Usina de Arte João Donato é raríssimo e incomparável em todo o Brasil. Pelo Acre ser um estado tão distante dos grandes centros, a maioria das pessoas não imagina que há algo desse nível por aqui e quando conhecem esse trabalho ficam fascinadas. "Normalmente, cultura é uma área às vezes renegada a último plano do governo e eu acho muito importante que aqui no estado do Acre ela ocupe um lugar de destaque", confessa Cida, que é de Minas Gerais.
O espetáculo "Levantado do Chão", que estreia dia 4 de setembro, vem para refletir e mostrar que o investimento feito nesses jovens não é para que eles sejam somente artistas, mas cidadãos melhores. Afinal, essa foi uma das maiores preocupações do Governo ao fundar os cursos: não se dedicar apenas ao desenvolvimento cultural do Acre, mas também seu desenvolvimento social.
