12º Festival Yawa – diário de bordo

Biraci Brasil, liderança indígena e uma de suas filhas. Foto: Sergio Vale/Secom

Biraci Brasil, liderança indígena, e uma de suas filhas. Foto: Sergio Vale/Secom

“O Festival [Yawa] não é para se contar, para se falar, é para se viver”, adverte Biraci Brasil, o cacique da Aldeia Nova Esperança, em Tarauacá, onde foi realizada a 12ª edição do evento, que se encerrou nesta terça-feira, 29.

Nós, da equipe de reportagem que cobriu a abertura do evento, damos as boas vindas a todos os que embarcam agora nesta viagem.

Muito prazer sou Yawanawá!

“O Festival Yawa faz a gente dar uma parada, uma pensada. Nós somos indígenas mesmo, somos yawanawá, esta é a nossa essência”, compartilha Shaneihu Yawanawá, coordenador do evento.

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 12º Festival Yawa – diário de bordo II

Mas o que é ser yawanawá? Etimologicamente esse é o “povo da queixada”, que faz parte do tronco linguístico pano. Os primeiros contatos com os não indígenas ocorreram por volta do século XX, quando os seringalistas começaram explorar a borracha na Amazônia. Dispersos pelo impacto da exploração, os índios afastaram-se da sua cultura e do local onde viviam. A partir de 1984, começou o processo de demarcação da terra. A educação escolar diferenciada também foi um incentivo para reativar os conhecimentos tradicionais.

Hoje a população é  de aproximadamente 636 pessoas, que vivem nas aldeias Nova Esperança, Mutum, Escondido, Tibúrcio, Amparo e Matrinchã, no Alto Rio Gregório, todas no município de Tarauacá.

Além de Biraci e de sua mulher, a pajé Putani, outras lideranças indígenas tradicionais do local são Tatá, o pajé centenário, e Yawá, de 90 anos.

Ainda vamos conhecer outras pessoas que fazem parte desta história. Agora, devidamente apresentados, é hora de fazer as malas e começar a viagem.

Estrada asfaltada e um longo caminho na água

Ah, esses “tchauzinhos” são tão parte da “estrada de água” quanto o próprio rio e toda natureza que o cerca! Foto: Sergio Vale/Secom

Ah, esses “tchauzinhos” são tão parte da “estrada de água” quanto o próprio rio e toda a natureza que o cerca! Foto: Sergio Vale/Secom

Falar sobre distância no Acre é muito paradoxal. Pode-se fazer uma viagem internacional terrestre para a Bolívia ou Peru em aproximadamente três horas, ou passar dias navegando pelos rios para chegar a uma comunidade no interior da Floresta Amazônica. Nessa viagem, utilizamos transportes terrestres e fluviais para chegar ao destino. Partimos na quinta-feira, 24, de Rio Branco. Para percorrer os mais de 400 km entre a capital acreana e Tarauacá, foram aproximadamente seis horas pela BR-364.

Era noite quando chegamos. Na manhã seguinte, partimos para a segunda etapa da viagem. Da cidade até o local de embarque, mais uma hora pela mesma rodovia. Chegamos ao Rio Gregório, afluente do Rio Juruá.  Agora o meio de transporte é a canoa, com motor de rabeta, usada quando o nível do rio está baixo.

Já na embarcação, o tempo também varia de acordo com o volume de água do rio, a potência do motor, o peso do barco, a iminência de chuva (que nos pegou por quase metade da viagem), a “subida” ou “descida” do rio. Há ainda árvores caídas que se revelam com o rio mais seco ou as que caem com a chegada do período chuvoso e dificultam a navegação. Mas no nosso barco tem Jó, o barqueiro, que, com toda paciência peculiar ao nome, conduz seu grupo tranquilamente por quase oito horas “de subida”. Nada de movimentos bruscos, ou o barco vira… Resta a paciência para todos nós.

Mas, se não há conforto na viagem, somos acolhidos com os sorrisos e acenos de quem observa nossa passagem do alto dos barrancos, das janelas das casas ou das atividades rotineiras na beira do rio. Ao mesmo tempo, recebem-nos e se despedem. Ah, esses “tchauzinhos” são tão parte da “estrada de água” quanto o próprio rio e toda natureza que o cerca! É de se perguntar o que pensam enquanto passamos. “A gente tentava adivinhar quem era, se era parente, amigo ou morador que ‘tava’ chegando”, relatou-nos o repórter cinematográfico Ruizemar Leite, mais tarde, ao se lembrar da brincadeira de infância que fazia com outras crianças.

Biraci Brasil Jr. conduz o grupo à aldeia. Foto: Sergio Vale/Secom

Biraci Brasil Jr. conduz o grupo à aldeia. Foto: Sergio Vale/Secom

Seguimos viagem. Há  quem leia, converse, ouça música, contemple a paisagem, tome banho de rio ou de chuva, durma, fique beliscando lanchinhos, comendo farofa (clássica!), registre as cenas, e/ou faça tudo isso.

Quase oito horas depois, avistamos lá no alto do barranco um grupo cantando para saudar os visitantes.

Ufa! Chegamos!

Quer saber o que aconteceu depois? Não perca esta jornada amazônica na próxima matéria sobre o 12º Festival Yawa. Venha com a gente!

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