“Aqui as pessoas sorriem, não estão de cara feia, uma energia boa. Me sinto muito feliz por estar de volta”. Após 54 anos desde a primeira visita, esse é o relato do engenheiro e ornitólogo (estudioso de pássaros) Johan Dalgas Frisch, que ficou conhecido internacionalmente por ter sido o primeiro a gravar o canto do uirapuru. O feito ocorreu no Seringal Bagaço, distante 50 quilômetros de Rio Branco, no Acre, em 1962.
Para executar o trabalho, Dalgas foi até o local em novembro daquele ano e, após uma noite chuvosa, o dia amanheceu repleto de cantos dos passarinhos residentes da região. Com a ajuda de um índio, foi até o local onde estava o pássaro, instalou um aparelho com microfone e captou seu canto.
Além disso, o ornitólogo tinha outra missão na floresta: pegar penas e o ninho do uirapuru. Segundo uma lenda, o homem que recebe uma pena terá uma vida com prosperidade e amor, e gerará um filho varão. Já a mulher que é presenteada com um pedaço do ninho terá fama, um amor fiel e também um filho homem.
Logo após a experiência no Acre e em outras cidades da Amazônia, da caatinga e do cerrado, Frisch gravou o primeiro disco em LP, intitulado “Canto das Aves do Brasil”. O álbum foi lançado no Brasil, Londres e Nova Iorque, e permaneceu 18 semanas consecutivas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos.
As penas e os pedaços de ninho ganharam o mundo. Entre alguns que receberam as regalias, estão o empresário de comunicações Assis Chateaubriand, o vice-presidente dos Estados Unidos, Nelson Rockfeller, e a rainha da Inglaterra, Elizabeth II.
De volta ao Acre, Dalgas destaca: “Considero que minha passagem aqui em 62 foi um divisor de águas da minha carreira”.
Nesta sexta-feira, 5, ele será homenageado pelo governo do Estado com a Ordem da Estrela do Acre. Além disso, participará do Avistar, evento voltado para a observação de pássaros, que será realizado até o da 7 de agosto, no Parque Zoobotânico da Universidade Federal do Acre.
