O governador Tião Viana assinou, ontem pela manhã, um convênio no valor de R$ 87 mil reais com o Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores Domésticos do Acre, o Sindoméstico, numa cerimônia simples numa das salas da Casa Rosada. Tão simples que a cerimonialista Nena Mubarac precisou improvisar para montar o “dispositivo” para assinatura do documento.
Simples, mas rica em humanismo, reconhecimento social, ideologia e respeito à representatividade popular. Não é fácil criar e desenvolver uma entidade como essa, disse na ocasião o governador, referindo-se ao preconceito que a categoria sofre em regime de escravidão, principalmente as mulheres. O preconceito explica porque elas são chamadas de “empregadas domésticas”. Nenhuma outra categoria recebe esse tratamento. “Eu sou trabalhador da saúde, mas não me chamam de empregado da saúde”, exemplificou.
O termo “empregada doméstica” é usado para diminuir, para envergonhar a pessoa, acrescentou. Segundo o governador, isso é tão sofrido que as trabalhadoras se recusam a aceitar quando convidadas a sentar à mesa com seus patrões, durante as refeições.
O senador Jorge Viana sugeriu que “nestes tempos tão brutais” da política nacional, o Acre poderia criar um prêmio para homenagear aqueles que lutam pelos direitos das minorias. E o primeiro a receber o prêmio seria “este sujeito aqui”, disse, acariciando a cabeça do militante petista Abrahim Farhat Neto, o Lhé, que há mais de ano sofre problema grave de saúde, tendo que submeter-se a sessões de hemodiálise três vezes por semana. É surpreendente que ainda encontre força para lutar pelos mais fracos da sociedade.
O Lhé tem sido há mais de uma década o principal incentivador do sindicato das domésticas. Ele foi o único que se manteve sentado entre as autoridades, durante a assinatura do convênio, porque não consegue permanecer muito tempo de pé. Em casa, mesmo acamado, acompanha e dispara recados pelo celular para suas protegidas. E costuma anexar poemas que envia a outras pessoas, pelo WhatsApp e Facebook, quase sempre numa linguagem cifrada que inventou para ser entendido, presume-se, nos tempos da linguagem eletrônica em que vivemos.
Amado e respeitado não apenas pelos petistas, mas pelo conjunto da sociedade, Lhé está sempre propondo novas ideias revolucionárias sobre o que fazer para melhorar a vida no Acre, principalmente, dos trabalhadores e dos jovens desassistidos. Antes da chegada do governador e outras autoridades e assessores para a cerimônia, ele se encontrava na sala arquitetando decisões políticas que poderiam ser tentadas, uma delas junto ao Papa Francisco, que fará visita ao vizinho Peru ano que vem.
Desde os anos 60, Abrahim tem sido um grande parceiro da Igreja do Acre e Purus, primeiro sob a orientação do bispo Dom Giocondo, depois do sucessor deste, Dom Moacyr Grechi, que apoiou Wilson Pinheiro e Chico Mendes contra o desmatamento e a bovinização do Acre. Hoje, ele lamenta o enorme vazio e o desamparo das famílias que seguiam a Teologia da Libertação, mas agora não sabem o que fazer.
Sua ideia é criar uma ampla discussão e, então, encaminhar ao Papa a sugestão de nomear um bispo acreano com o sentimento da Florestania, para retomar a Teologia da Libertação e as comunidades eclesiais de base criadas por Dom Giocondo e Dom Moacyr.