Em 1960 chegava à cidade de Tarauacá o cearense Antônio Alves Pereira, natural de Fortaleza. Aparentemente um nome comum, mas este Antônio tem uma história peculiar. Chegou ao Acre depois da família perder muitos bens devido uma rigorosa seca no nordeste brasileiro. Ainda em terras cearenses, Antônio Alves iniciou sua paixão pelo rádio.
“Sempre ouvia rádio. Naquele tempo era nosso melhor meio de se comunicar. Um dia eu estava ouvindo a Ceará Rádio Clube, que funciona até hoje, e o radialista José Ramos anunciou um programa de calouros. Eu tinha 16 anos, minha voz estava em formação, mas eu dei um show. De lá para cá nunca mais larguei essa paixão”, conta.
Depois do show de calouros na rádio cearense, Antônio Alves começou a trabalhar em rádios volantes para a rede de lojas Americanas, em Fortaleza. “Fazia um sucesso danado isso”, assegura.
Quando chegou ao Acre, já com mais idade, o cearense foi trabalhar em Tarauacá cortando seringa, mas logo seus patrões notaram que ele não levava jeito para o ofício. “Meus patrões, donos do seringal, perceberam que eu tinha estudo e me chamaram para ser guarda-livros que é o que chamam de contador hoje”.
O começo nas ondas médias – Mas, a paixão pelo rádio seguia firme e forte no coração de Antônio Alves. Em 1975, quando já estava casado, por meio de um decreto municipal de Antônio Ayres, foi criada a Rádio Difusora 15 de Junho, em Tarauacá. Uma homenagem à elevação do Acre a Estado. “Então, foi quando eu comecei a trabalhar”.
A inspiração do cearense foi o radialista Adalberto Dourado que nos anos de 1970 apresentava um programa intitulado “Não diga não, nem sim, nem né”.
“Nesse tempo que fui para a rádio 15 de Junho eu fazia um programa de forró. Era o forró raiz e sertanejo raiz. Tocava Gonzaga, Teixeirinha. O pessoal gostava demais. O transmissor tinha alta potência. A gente recebia correspondências até do Japão, de São Paulo, Mogi das Cruzes, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e haja carta. Foi aí que eu comecei a ser conhecido. Os gaúchos gostavam de ouvir. As cartas chegavam três meses depois de serem enviadas”, relembra.
Anos depois Antônio Alves mudou-se para a Rádio Difusora Acreana, do Sistema Público de Comunicação do Acre. Com 52 anos ele foi aprovado, em primeiro lugar, num concurso público para locutor da Difusora. Nessa época conheceu Franco Silva, a quem ele chama de amigo.
Com emoção visível pelas lágrimas que se juntavam em seus olhos ele contou que por muito tempo apresentou os shows de Franco Silva. “Um dos momentos mais difíceis foi ter que anunciar que Franco Silva tinha morrido. No ar eu consegui segurar a emoção, mas nesse momento, só em falar eu me emociono”, comentou o radialista.
A paixão que não cessa – Hoje, Antônio Alves se orgulha de ser conhecido na sua querida Tarauacá, terra que ele assegura que ama tanto quanto sua terra natal. “Ando tranquilo pela cidade. Seja de dia, seja de noite”.
Com 72 anos de idade e 20 anos de serviços prestados na Rádio Difusora Acreana a lei diz que Antônio Alves precisa encerrar sua carreira como servidor público e se aposentar. Porém, isso não éum anseio do radialista.
“Eu não quero me aposentar. Espero que a gente ache algum meio para que eu possa continuar trabalhando. Se eu ficar em casa eu vou é adoecer. Gosto do que eu faço. Sou radialista por amor”, diz Antônio Alves.
O secretário de Comunicação do Estado, Leonildo Rosas diz que servidores como Antônio Alves merecem todo o respeito da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom).
“Devemos respeitar e homenagear as pessoas que fazem parte do Sistema. Muitas vezes, são pessoas que trabalharam sem estrutura tempos atrás. Reconheço esse esforço no Antônio. Agora, vamos ver uma maneira legal para ele continuar fazendo seu programa de rádio”, declarou o secretário.