Governador Binho Marques visitou a usina, que se prepara para os desafios da Nova Economia do Acre, de baixo carbono e alta inclusão social
O dia 26 deste mês será marcante na história do sistema produtivo do Acre e do Grupo Farias, sócio da Usina Álcool Verde. A usina realiza nesta quinta-feira, na fase de teste, a primeira moagem de cana e inicia a produção de álcool combustível, ainda nesta safra, gerando, a princípio, cerca de 400 empregos diretos e outros três mil indiretos. O desafio, no entanto, continua. No último sábado, 21, a usina recebeu a visita do governador Binho Marques, que conheceu a finalização na montagem dos equipamentos que faltam para o início dessa etapa das operações. Acompanhado de diretores do Grupo Farias e dos secretários de Estado Fábio Vaz (Governo), Mauro Ribeiro (Agricultura e Pecuária) e Cleísa Cartaxo (Instituto de Meio Ambiente do Acre), além do presidente da Federação da Agricultura do Acre, Assuero Veronez, o governador fez considerações importantes acerca do projeto. “Estamos aqui vendo esta empresa renascer”, declarou Binho Marques a diretores e trabalhadores da usina.
O Grupo Farias investiu R$ 30 milhões no projeto Álcool Verde, o cartão-postal que garante que, se foi possível recuperar os escombros da Alcobras, o Estado está pronto para a Nova Economia, baseada na expansão da indústria e no baixo carbono com alta inclusão social. Durante anos, a Alcobras representou o descaso com o dinheiro público – escândalo que só terminou com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 2002, e depois de intensa luta dos senadores da época, Tião Viana e Sibá Machado, e do ex-governador Jorge Viana.
Na gestão anterior, o governo do Estado lutou para que o Banco do Brasil, financiador e dono da massa falida da Alcobras, vendesse o que havia sobrado do projeto. A Assembleia Legislativa aprovou a lei 1636/2005, em 30 de março de 2005, autorizando o Estado a assumir o projeto, o que deu início à busca de empreendedores que aceitassem o desafio de produzir álcool combustível nesta região nas condições prioritárias do desenvolvimento sustentável. Hoje, o Grupo Farias consegue consolidar a Usina Álcool Verde como empreendimento ambientalmente correto, economicamente viável e socialmente justo. A administração do negócio é através de participação societária de empresários acreanos e do governo do Estado. A unidade está orientada para produção de álcool carburante, mas deve fabricar açúcar, com a qual também poderá atender todo o mercado do Norte e realizar exportações dos seus produtos através do Oceano Pacífico via Peru. O Grupo Farias se destaca, em nível de país, no segmento sucroalcooleiro há mais de quatro décadas e possui 10 usinas nos Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Goiás, São Paulo e Acre. É previsível que a produção da usina irá contribuir para oferecer combustível flex a preços mais acessíveis.
Revitalizada e modernizada, a usina é em grande parte automatizada e na casa de máquinas possui comando remoto. Desde Goiás, sede do Grupo Farias, é possível controlar o sistema da Álcool Verde, segundo o gerente industrial e corporativo da companhia, Luis Montes. Um dos aspectos influentes para a consolidação da destilaria é o escoamento da produção. Para o grupo, a logística de distribuição é um diferencial para quem quer se manter competitivo no mercado. A Álcool Verde tem acesso a duas saídas – uma pelo Pacífico e a outro para o Atlântico.
Nova configuração econômica
Os equipamentos que se agregaram à estrutura revitalizada da Alcobras são de última geração. “Temos aqui o que há demais evoluído no mercado”, assegurou o gerente administrativo e financeiro da usina, Elânio Silva. Nas primeiras moagens, a destilaria irá fabricar entre 6 e 7 milhões de litros de álcool, o que ajudará a abastecer o mercado local.
As empresas e pessoas físicas donas das cotas que integralizam os 25%.
O Grupo Farias possui 60% das ações, o governo do Acre, 5%; e o Grupo Santa Elisa, da família Biaggi, 10%. A capitalização das cotas do governo acreano será revertida em pesquisa científica e tecnológica. O negócio tem aspectos impactantes: recupera um patrimônio que se encontrava aos escombros, cria uma cadeia de produção gerando trabalho e renda para milhares de pessoas e é ambientalmente correto porque produzirá energia renovável. “Acreditamos muito nesse empreendimento, que trará uma configuração para o setor produtivo do Acre”, disse Assuero Veronez, um dos associados.
Expedida licença de operação
A Usina vem cumprindo todas as etapas de licenciamento e esta em dia com as mesmas. Conforme informou Cleísa Cartaxo, presidente do instituto, a empresa tem cumprido, entre outros compromissos, questões ligadas à proteção de nascentes e dos sítios arqueológicos em estrutura de terra, conhecidos como geoglifos. Essas estruturas têm grande prevalência na região destinada ao cultivo de cana e sua proteção é fundamental para a memória científica mundial.
Há 1.809 hectares cultivados com 20 variedades de cana-de-açúcar. Testes de nível de sacarose variaram de 19 a 20% de brix, taxa considerada boa pela companhia. Os canaviais estão espalhados em nove propriedades agregadas. A colheita que começa esta semana será em grande parte realizada com maquinário não necessitando da queima como é ainda feito em outros estados, inclusive São Paulo.
O Governo do Estado e a licença determinam que toda a colheita seja sustentável, para servir de exemplo para outras regiões do país. O álcool não será limpo apenas por ser melhor que a gasolina, pois emite menos carbono, mas principalmente em todo o processo produtivo. Onde não for possível o acesso das colheitadeiras, será utilizada mão-de-obra humana. Calcula-se que pelo menos 180 pessoas sejam contratadas para esse trabalho.
Incorporando áreas degradadas no processo produtivo
Estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) revela que dos 78 mil hectares desmatados em Capixaba, 98,5% estão aptos para o plantio de cana-de-açúcar. Nas áreas de capoeira, 94,5% podem ser utilizados para este fim. De acordo com o secretário Mauro Ribeiro prevê-se que, com base nas experiências de outras regiões, a lavoura de cana ajude a organizar a produção agrícola, com o plantio de feijão, arroz, milho e amendoim para rotação a cada cinco anos. “A cana estimula a produção em escala industrial. Isso ajuda no ciclo agrícola do entorno da usina”, disse o secretário.
O cultivo da cana ocupará estimados 0,18% da área total do Acre, em geral terras de pastagem degradadas. A usina Álcool Verde vai gerar inicialmente, 50 megawatts com a utilização do bagaço de cana, na primeira etapa, e na segunda, cavacos de madeira. Com isso, o grupo Farias planeja também entrar no mercado de créditos de carbono, na modalidade mecanismo de desenvolvimento limpo – MDL. Com as próximas safras, a expectativa é de uma produção é de mais de 40 milhões de litros de álcool.
O álcool combustível no contexto da ZPE
Durante a visita, o governador fez relação da Álcool Verde com a Zona de Processamento de Exportação do Acre, que está sendo implantada a cerca de quatro quilômetros do Centro de Senador Guiomard. A ZPE ocupa um terreno de 130 hectares. O advento da ZPE ocorre em uma Zona Especial de Desenvolvimento (ZED), conceito criado pelo governador Binho Marques para definir áreas de maior dinâmica econômica, localizadas na área de influência direta das rodovias federais BR-317 e BR-364, dotadas de melhor infraestrutura, com empreendimentos consolidados, ocupação territorial definida e significativo capital social –exatamente a região da Álcool Verde. São regiões de baixa vulnerabilidade ambiental e alto capital humana. Por essa política, há o compromisso do Governo de atuar, nessas regiões, buscando conter o desmatamento, reverter o impacto ambiental e consolidar empreendimentos de base florestal, promover novos negócios estratégicos e reinserir áreas alteradas/degradadas ao sistema produtivo.