No primeiro semestre deste ano, dando continuidade ao programa de formação artística, a Fundação Elias Mansour (FEM) abriu turmas de cursos de formação inicial de teatro, música e artes visuais. A atividade teve início em junho e se encerra no dia 31 de agosto com a apresentação do experimento cênico Embiricica. O currículo dessas turmas trouxe a proposta da integração das linguagens resultando na montagem desse espetáculo, que traz uma dramaturgia criada nas narrativas de cordel e em simbologias presentes na cultura acreana.
O figurino e o cenário foram concebidos esteticamente com as xilogravuras criadas durante o curso de Artes Visuais e a paisagem sonora foi criada pelos alunos da turma de música a partir de ritmos com instrumentos musicais percussivos produzidos com materiais reutilizáveis.
Percebendo a necessidade de realizar um trabalho mais sensorial, capaz de conectar os alunos com a natureza, os professores buscaram aproximá-los das raízes e memórias culturais de seus pais e avós, que foram crianças num tempo em que as brincadeiras aconteciam nos quintais, nos rios, nas ruas, nas árvores. O que bem pouco hoje acontece, mesmo nestas terras amazônicas.
Para chegar a esta conexão foi preciso trocar o espaço convencional do teatro e suas paredes por um cenário natural, aberto, levando as turmas para o entorno do pequeno lago rodeado de árvores, existente no terreno da Usina. O uso desse espaço também proporcionou a aproximação de funcionários, que diariamente puderam vivenciar, como público, o processo de montagem desde o princípio.
Lucas Matheus, funcionário de apoio na instituição, relata que há uma variedades de movimentos e formas de atuar que são muito peculiares, formas de olhar, dançar, correr, gritar, vestimentas e falas. “Embora eu não tenha um olhar técnico, pude observar a dedicação e ótima atuação referente ao primeiro curso dos alunos. Eles mergulham na interpretação, buscando passar ao máximo para o público aquilo que aborda o tema. E o efeito sonoro utilizado pelos músicos trouxe ainda mais emoção em relação à peça”, comentou Lucas Matheus.
Este curso possibilitou um diálogo entre diversas linguagens artísticas e uniu valores significativos para a construção da cidadania ao associar arte, meio ambiente e educação. Foram três meses de curso, tempo em que os alunos aprenderam, criaram, encenaram e trocaram experiências que levarão ao logo de suas vidas como sementes plantadas.
O professor de música, Daniel Albuquerque, destaca que o trabalho desenvolvido pela turma é levar para a comunidade um novo olhar a respeito de materiais que são desperdiçados, mas que podem ser reciclados e assim utilizados na confecção de instrumentos musicais e muitos outras obras.
“A ideia é levar o aluno a pensar e criar, tornamos o papelão em uma fonte de produção musical, desenvolvendo juntos ideias interessantes, utilizamos também a pele de boi, que até então não tínhamos utilizado,” comentou Daniel Albuquerque.
Uma das atividades desenvolvidas durante o curso foi a xilogravura, que é uma técnica de gravura na qual se utiliza madeira como matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre o papel ou outro suporte adequado. A xilogravura chegou ao Brasil através da colonização portuguesa. Durante muito tempo, a xilo foi utilizada no Brasil para a confecção dos primeiros rótulos de cachaça, sabonetes e doces. No curso, diversas gravuras foram produzidas pelos alunos, fizeram várias figuras de animais, objetos, personagens e elementos da presentes na cultura acreana.
“Todas as atividades desenvolvidas no curso de xilogravura foram para ilustrar a literatura de cordel. Utilizamos tinta tipográfica e rolinho de borracha para a impressão. Toda a experiência na utilização desses materiais foram importantes para o resultado final,” frisou Rosilene Nobre, professora de Artes Visuais.
Para a coordenadora da Usina de Arte, Simone Pessoa, é importante desenvolver os projetos artísticos integrados, porque “o diálogo entre as diferentes linguagens amplia o olhar do aluno para o aprendizado por meio da troca de experiências, além de levá-los a perceber que os processos criativos, nas artes, não acontecem de forma fragmentada,” destacou.
O experimento cênico Embiricica acontecerá nos dias 31 de agosto e 07 de setembro, na Usina de Arte João Donato, às 18h30, com entrada totalmente gratuita e classificação livre.